O caso de uma Audi RS 6 Avant com câmbio quebrado vem ganhando espaço nas redes sociais desde ontem, quando seu proprietário, o designer Luiz Augusto Sará, de 35 anos, disse que pretende atear fogo no carro. O motivo é um diagnóstico que condena o câmbio, após outros problemas anteriores.
“Com menos de 8.000 km a luz da caixa de marcha acendeu. Levei na Audi, me cobraram R$ 4.500 pra realizar o “diagnóstico”: condenaram a caixa de marcha inteira e cobraram R$ 220.000 por uma nova”, contou Luiz Augusto em sua conta do Instagram.
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Em conversa com Quatro Rodas, Luiz contou que a luz do câmbio acendeu no painel quando estava com sua mulher e filha no carro, sem ter usado o controle de largada. O valor exato do orçamento apresentado pelo proprietário é de R$ 222.210 e inclui o câmbio (R$ 198.622), parafusos, fluidos e isolantes.
É com o controle de largada que a Audi RS6 Avant 2018 alcança os 100 km/h em 3,7 s, de acordo com a fabricante. Seu motor é o V8 4.0 biturbo em configuração com 605 cv e 76,5 kgfm. O câmbio é automático de oito marchas ZF 8HP, usado por algumas dezenas de carros ao redor do mundo. A tração é integral.
Fora da garantia
A Audi, assim como outras marcas de luxo, oferece garantia de 2 anos (a média do mercado, hoje, é 3 anos). Portanto, o Audi RS6 já estava fora da garantia quando foi comprado por Luiz, em outubro de 2021.
“Na época, não fui eu quem fez a negociação, mas sim um profissional que contratei só pra poder achar esse carro no Brasil”, conta Luiz, que mora em Nova York há 10 anos. “O carro foi do Sul para o Rio de Janeiro no reboque. No primeiro dia o carro andou normalmente. No segundo dia a direção elétrica do carro simplesmente parou. Levei na Audi Center Barra e não houve diagnóstico, simplesmente cobraram R$ 32.000 por uma direção elétrica nova e 45 dias de prazo”, completa.
Luiz resolveu, então, comprar a caixa de direção nos Estados Unidos, em uma concessionária Audi. Custou 1.800 dólares, mas quando retornou ao Brasil a Audi alegou que não trocaria uma peça de terceiros, mesmo apresentando a nota fiscal. De acordo com ele, a concessionária sabia que a peça seria importada e não havia sinalizado que não trocaria até a peça chegar. Este conserto teria sido pago pelo intermediador da venda.
Aos 5.000 km, dois coxins teriam quebrado. A Audi cobrou R$ 28.000 por cada um e Luiz, novamente, recorreu a concessionária nos Estados Unidos: 800 dólares cada.
“Churrasco de RS6”
“Após diversos procedimentos de testes na caixa do Audi RS6. Testes elétricos, mecânicos e rastreio pelo equipamento VAS, bem como acompanhamento do portal DISS e ODIS e diagnostico final pelo plano de verificação. Ficou fechado o parecer técnico em substituição da caixa de transferência e seus componentes para solução do inconveniente.” Este teria sido o diagnóstico que condenou o câmbio.
Luiz, descontente com um diagnóstico tão caro e que não apontou o que exatamente estaria ruim no câmbio, buscou maiores esclarecimentos. Até que conseguiu falar com um engenheiro da Audi, que disse que o defeito exato só poderia ser descoberto se o câmbio fosse aberto e que as modificações alegadas pelo proprietário, de escape e escapamento esportivo, não teriam motivado isso. Além disso, poderia ser dado um desconto na troca do câmbio, que sairia por R$ 165.446.
“Fiquei indignado. Como de praxe, fui inútil e em um momento de raiva mandei a seguinte mensagem pro engenheiro: Dia 28. Queima de fogos, trio elétrico e churrasco de RS6. Vou tacar fogo no carro. Eles usaram isso e entraram com uma liminar pra eu não “colocar fogo no meu carro”.
Quatro Rodas teve acesso ao documento, uma tutela cautelar antecedente da 16a Vara Cível da Comarca da Capital, do Rio de Janeiro, pedindo para ter acesso ao carro para que seja feita uma perícia técnica.
A Audi alega que o carro foi levado à concessionária apresentando a luz do câmbio no painel em abril de 2022. O carro estaria pulando a terceira marcha. A Audi ainda aponta que foram realizadas alterações para aumentar a potência do veículo, o que “afeta diretamente no funcionamento do sistema de câmbio do veículo, comprometendo a vida útil dos componentes. “
À reportagem, Luiz alegou que seu RS6 não tem nenhum remap (como é chamada a troca do mapa de injeção do motor), apenas filtro esportivo e escape.
Quatro Rodas, porém, localizou uma publicação no Facebook onde o proprietário mostra uma arrancada com o carro e lista todas as mudanças que fez, inclusive mudança das bombas de combustível de baixa e alta pressão e “Remap Stage 2”. A potência da perua esportiva teria saltado aos 750 cv.
[Atualização: a reportagem questionou sobre essas modificações e o proprietário disse que elas, na verdade, não foram feitas e que a perícia será feita e poderá atestar isso.]
O documento da justiça segue com a justificativa para essa tutela antecipada: “diante da ameaça do réu de eliminar o único meio de prova para corroborar a origem dos problemas apresentados pelo automóvel, o que claramente prejudicaria a AUDI em eventual ação indenizatória proposta pelo réu, uma vez que, caso de fato o réu ateie fogo no automóvel, não será possível realizar perícia no veículo a fim de comprovar que tais fatos não decorrem de vício do produto.”
Na decisão, a justiça tenta impedir que o carro seja incendiado sob pena de multa de R$ 20.000.
Procurada por Quatro Rodas, a Audi enviou o seguinte posicionamento sobre o caso:
“A Audi do Brasil lamenta o episódio ocorrido com Sr. Luiz Augusto Aguiar e ressalta que enviou todos os esforços necessários para a resolução imediata do caso. Esclarece também que o veículo Audi RS 6 Avant em questão foi adquirido inicialmente na concessionária Audi Center Blumenau (SC), em 2018, e vendido ao Cliente no fim de 2021.
A única inspeção periódica registrada para o veículo foi realizada pela Audi Center Blumenau em 28 de abril de 2021, com 1.094 km, onde não foram identificadas quaisquer modificações. Posteriormente, o veículo esteve na concessionária Audi Center Rio (RJ) pela primeira vez em 9 de dezembro de 2021, com 1.621 km rodados, e modificações no escapamento, filtro de ar esportivo, módulo do motor e Down Pipe. O representante do Cliente, quem levou o veículo para manutenção, e ele próprio, tinham ciência das modificações sofridas pelo veículo e do impacto destas na falha atual apresentada na caixa de transmissão.
Não obstante, insta frisar que mesmo diante do inequívoco fato de que a atual situação do veículo não está relacionada a uma falha de produto, a montadora e sua concessionária autorizada não mediram esforços para reanalisar o orçamento e oferecer ao cliente uma composição de custos para reparo do carro.
A Audi do Brasil reitera que todos os seus veículos passam pelo mais alto nível de inspeção em todas as fábricas da marca ao redor do mundo. Como é de conhecimento público, adulterações das características originais do veículo podem provocar falhas no seu funcionamento normal. É importante destacar que todos os veículos da linha R e RS da Audi possuem dois anos de garantia de fábrica, desde que as revisões sejam feitas nas concessionárias autorizadas dentro do tempo ou quilometragem estabelecidos pelo fabricante e que as características originais do produto estejam preservadas.
A Audi do Brasil permanece à disposição para esclarecer eventuais dúvidas.”
Por fim, questionamos a Audi sobre como seria o posicionamento da marca diante de uma quebra como essa fora da garantia, mas em um carro original. A resposta foi a seguinte: “A Audi do Brasil preza pelo atendimento de seus clientes e possui uma política de cortesia diferenciada, sendo que todos os pleitos dos clientes são analisados em detalhe. Neste caso específico é preciso ressaltar que o veículo é utilizado em uma condição adversa para o qual foi concebido nos impossibilitando de um atendimento diferenciado.”