No marketing da mobilidade, várias empresas e montadoras passaram a investir em carros por assinatura. Uma forma de aumentar a rentabilidade e expandir os negócios na esteira do “Car as a Service”. Obviamente isso chegou aos veículos de maior valor agregado, como modelos de marcas premium e elétricos.
A proposta básica é a mesma: praticidade para quem contrata, lucro para quem oferece. Mas, no caso de carros de luxo e elétricos, a régua sobe bem. Falamos de mensalidades que partem da casa dos R$ 6.000 e podem passar dos R$ 20.000, enquanto um sedã compacto de marca genérica pode sair por parcelas de R$ 1.500.
E se muito especialista em finanças questiona a assinatura de veículos de entrada, dentro deste cenário, será que esse nicho de automóveis mais caros vale a pena? Nesses casos, a demanda vai além da conveniência e, acredite, envolve aspectos emocionais e racionais.
“Existem dois grandes pensamentos que regem o interesse nesse segmento de assinatura. O interesse em conhecer, saber e utilizar o veículo, e outro financeiro. Mas também tem a questão de aguçar o lado emocional, que supera a barreira financeira”, diz Antônio Jorge Martins, coordenador acadêmico da FGV-RJ para os cursos da área automotiva.
Por essa razão, a assinatura de um carro premium ou elétrico, apesar de envolver cifras altas, pode ser analisada de forma diferente. Isso porque, nos modelos zero combustão, há ainda muitas dúvidas sobre esse mercado, enquanto nos veículos de luxo o status e o poder aquisitivo do cliente podem ser fatores que influenciam.
Assinatura premium
Marcas como Audi, BMW e Jaguar Land Rover têm seus próprios serviços por assinatura. Os valores das prestações mensais são proporcionalmente tão elevados quanto os praticados em venda e financiamento.
Um Audi Q5 Sportback, por exemplo, no plano mais barato (36 meses e 1.000 km de franquia/mês) sai por R$ 11.335 mensais. Mas o público aqui pode querer a conveniência de quem tem dinheiro sobrando ou experimentar o status de uma marca de luxo. Ou mesmo prefere investir a quantia em outro lugar, em vez de um carro de alto valor.
Isso porque o mesmo Q5 Sportback custa R$ 352.990, segundo o preço de tabela da marca alemã. No caso de compra financiada do veículo diretamente com a Audi, podemos exemplificar com uma entrada de R$ 211.794 (60%) e 36 prestações de R$ 8.093 (taxa de 3,43% a.a.), para seguirmos o modelo do plano de assinatura mais barato do Q5.
Em um fundo de investimento mais conservador, como CDB, LCA e LCI, esses R$ 211.000 rendem, em média, R$ 2.100 (1%). Nem de longe cobre a mensalidade da assinatura, mas é preciso levar em consideração a prestação do financiamento – e que estamos falando de aplicações de baixo risco e sem cobrança de Imposto de Renda.
Também é preciso entrar nessa conta os custos de manutenção do carro (as revisões podem sair a R$ 10.000, cada uma), impostos de licenciamento e IPVA, e, se for o caso, seguro – itens cobertos pela assinatura. Mas ainda há outro fator. A desvalorização do carro de luxo depois de um ano de uso, em média de 20%, e sua liquidez.
“O automóvel de luxo tem uma depreciação maior, pois não tem liquidez grande, tem custo de manutenção alto e rede pequena. É um nicho de mercado. Ou seja, não é só dinheiro empacando. O dono vai demorar a vender o carro, ainda tem que negociar, e a assinatura tira esse problema da frente”, explica Milad Kalume Neto, consultor automotivo da Jato.
Ao mesmo tempo, há a questão da experimentação. Quem nunca sonhou em possuir um Audi, BMW ou Mercedes-Benz na garagem? Assinar o status de ter um modelo desses pode ser o atalho para se tornar um cliente de marca de luxo.
“Como os veículos têm preço elevado, as empresas fortalecem a ideia de o cliente fazer o teste do veículo e passar por cima de uma questão financeira, absorvendo esse custo mais elevado, porém em prol de ter um bem diferenciado dentro de uma modalidade de uso bem mais diferente”, ressalta Antônio Jorge.
“Vemos que muitos dos clientes que chegam até nós em busca da assinatura afirmam estar entendendo melhor como funciona esse modelo e que o enxergam como um produto financeiro, já que não precisam se descapitalizar para fazer uso do bem”, afirma Liandra Boschiero, gerente da Osten GO, empresa de assinatura de carros premium.
Carros elétricos
A experimentação ganha mais força ainda no caso da assinatura de carros elétricos. Isso porque é um mercado ainda incipiente no Brasil e esse modelo de negócio surge como alternativa para quem quer testar se vai se habituar a um veículo movido exclusivamente a bateria no dia a dia.
Ainda tem também as dúvidas que pairam sobre os veículos totalmente elétricos. Tanto sobre desvalorização e liquidez na hora da revenda como em relação à durabilidade das baterias.
“Olhando esse cenário ainda incerto dos carros elétricos, de insegurança, se tem onde carregar, dúvidas, a assinatura é uma sacada muito grande. Testa por um ano, dois anos. Deu certo, renova. O cliente vai testar, experimentar, só que com essa mentalidade de apenas usufruir do veículo”, diz Milad.
Fique atento
As dicas para quem vai assinar um carro elétrico ou de marca premium são as mesmas. É preciso ficar atento às letras miúdas do contrato. Trocas de pneus e serviços específicos fora da garantia geralmente são em lojas indicadas pela empresa de assinatura.
É importante também observar detalhes do seguro contratado junto com a assinatura. Verificar valores e condições das franquias e os tipos de cobertura é fundamental para evitar problemas no futuro.