Um dos erros clássicos na hora de fazer a manutenção do carro é achar que tudo que é mais barato é a melhor opção. O gerente de engenharia do Grupo DPaschoal, maior rede de peças e serviços automotivos do Brasil, Eliel Bartels, afirma que esse é um dos principais fatores de encarecimento dos gastos com manutenção de veículos.
“O brasileiro pensa apenas no dispêndio imediato, no quanto ele vai gastar na hora e por isso acaba levando a peça mais barata, sem perceber que isso vai ocasionar um aumento da frequência de troca das peças e no final ele vai gastar mais dinheiro”, afirma Bartels
Segundo ele, se existe a opção de comprar uma peça original importada ou peças asiáticas, que não são originais, mas são mais baratas, a grande maioria dos motoristas prefere comprar a peça mais barata. “Ao comprar uma peça alternativa em vez da original, essa peça pode degradar outros itens do sistema original do carro. Com isso, o consumidor terá mais gastos para consertar essas outras peças que foram danificadas, além de precisar trocar com mais frequência a peça comprada inicialmente”, completa.
O gerente de engenharia da DPaschoal não propõe que sempre sejam compradas as peças e contratados os serviços mais caros, mas apenas que o consumidor não leve em consideração apenas o preço na hora de fazer a manutenção do carro, para que o barato não saia caro. “O motorista paga 50 reais em uma peça que em outro lugar ele viu por 100 reais, mas depois ele precisa trocar essa peça a cada 3 meses. Ele acaba gastando mais trocando muitas vezes a peça mais barata do que ao comprar a peça melhor e mais cara, que duraria um ano”, diz.
Mas, como saber se a peça mais cara é de fato a melhor ou se é apenas uma tentativa da oficina de ganhar dinheiro em cima do cliente? Não há uma fórmula para desvendar as más ou boas intenções das oficinas, mas algumas dicas podem ajudadar o consumidor para que ele não se deixe enganar:
1) Pergunte ao mecânico qual é o motivo para a indicação de uma determinada peça e não de outra mais barata
Se o mecânico responder que a peça mais cara é a que deve ser levada simplesmente porque ela é a melhor e não der alguma razão para isso, o consumidor deve desconfiar. “Por outro lado, se o técnico pergunta como a pessoa usa o carro e, baseando-se no perfil de direção do motorista, ele dá motivos para que seja usada uma certa peça, há uma razão para aquela indicação”, diz Bartels.
Deve-se avaliar, portanto, se houve alguma explicação plausível para o uso de um item e não de outro. Por mais que o consumidor não seja especialista no assunto, no mínimo é possível perceber se a explicação é absurda ou pelo menos se faz algum sentido.
Bartels dá um exemplo do que, em tese, seria uma boa justificativa para a compra de um item, com base no perfil do motorista: “O vendedor diria: ‘Você é uma pessoa que dirige na cidade, chovendo ou não você mantém a mesma velocidade, então o melhor para você é este pneu, porque ele tem uma profundidade do sulco maior, o que diminui a possibilidade de aquaplanagem, enquanto este outro pode ficar careca em menos tempo'”, comenta o gerente de engenharia da DPaschoal.
2) Pesquise o custo do serviço e das peças em mais de uma oficina ou loja
“Diferenças podem ocorrer, até por questões regionais. Em uma cidade do interior o preço pode ser um e na capital outro”, diz Eliel Bartels. Tanto para itens automotivos, como para qualquer outra decisão de compra, pesquisar preços é a melhor forma de medir qual é a média de preço de um produto.
Fazendo mais de uma consulta, o consumidor terá mais informações sobre o item buscado e pode usar o que um vendedor disse para negociar preços com outro. E quanto mais conhecimento, menor a probabilidade de se enganar se algo ruim for oferecido.
O gerente da DPaschoal orienta também que ao encontrar preços com uma diferença superior a 100% em duas lojas, o consumidor pesquise em mais alguns lugares, porque algo está errado. Uma das lojas está com um preço muito alto, ou muito baixo.
3) Se for difícil encontrar uma peça, não compre no primeiro lugar que encontrar
Segundo Bartels explica, a dificuldade em encontrar uma peça pode ser um sinal de que ela está em falta no mercado. E diante de uma baixa oferta, o seu preço se eleva. Portanto, mesmo não sabendo se um preço está alto demais, a demora em encontrar um certo item pode indicar que em outro momento ele seria encontrado por um valor mais baixo.
Por isso, se possível, o ideal é não comprar a peça na primeira loja em que ela for encontrada e aguardar um tempo até que a oferta se normallize e os preços voltem ao normal. “Mesmo se o seu carro estiver parado, vale a pena esperar mais um pouquinho. Uma montadora pode ter solicitado um número grande de peças para a linha de produção de um modelo, e se o consumidor não esperar ele vai pagar o preço mais alto por causa do desabastecimento”, orienta o gerente da DPaschoal.
4) Não pague um pacote de serviços em uma revisão sem perguntar as justificativas para cada conserto e receber uma resposta objetiva
Assim como não se deve comprar uma peça da marca mais cara sem que a sua venda seja justificada, o mesmo vale para a revisão. “Sempre existe aquela oficina que faz uma revisão geral no carro e o mecânico diz: ‘Vai custar 850 reais, mas vai ficar bom’. Se o mecânico só mostra o preço, ele não é especialista. Ele deve mostrar as causas de cada problema e a necessidade de realizar os consertos”, orienta Bartels.
E novamente entra a questão do discernimento do consumidor para avaliar se realmente faz sentido pagar determinado conserto ou não. Bartels faz uma analogia: “Um médico não diz a um paciente: ‘Você tem hipertensão porque está obeso e o tratamento é este. Ele pergunta ao paciente quais são seus hábitos e a partir disso faz um diagnóstico do que gerou a doença e o que o paciente deve fazer. No carro nada deve ser substituído sem uma explicação objetiva”, complementa o gerente da DPaschoal.