Apresentado no mês passado no Salão de Xangai, o novo Citroën C5 AirCross é um dos carros mais ambiciosos da fabricante francesa em anos. Além do design interessante e do interior sofisticado, ele estreia uma suspensão hidráulica inédita e bastante curiosa.
O sistema é chamado Progressive Hydraulic Cushions (amortecedores hidráulicos progressivos, em tradução literal). Ele foi demonstrado no C4 Cactus há um ano e promete conforto equiparável com o antigo sistema hidropneumático da marca (do qual falaremos abaixo). A vantagem é que este novo é menos complexo e mais barato.
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Na verdade, complexo é o amortecedor. Em vez de ter apenas uma parte com óleo pressurizado, ele tem duas câmaras hidráulicas nas extremidades, interligadas entre si, e um setor pressurizado entre elas. Cada uma das partes hidráulicas tem sua função: uma faz a compressão e a outra, o rebote.
Uma câmara hidráulica lida com as irregularidades da pista sem transmitir as vibrações para o resto do veículo. A outra reage a esforços maiores, como lidar com quebra-molas e buracos. Isso, sem envolver eletrônica.
Contudo, quando a suspensão trabalha com carga leve, como em uma estrada plana, o esforço recai sobre o setor pressurizado e sobre as molas, como aconteceria em um carro com amortecedores convencionais. Em impactos muito fortes todos os setores e até as molas entrarão em ação para mitigar o impacto.
A vantagem das câmaras hidráulicas está em seu funcionamento progressivo, com movimento mais suave e gradual. Amortecedores comuns absorvem a energia para, em seguida, retornar parcialmente – os hidráulicos absorvem a energia que é dissipada na forma de calor, não com movimento oposto.
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De acordo com a Citroën “a presença destas câmaras hidráulicas permite aos engenheiros da marca oferecer uma maior liberdade de movimentos, o que proporciona um efeito de tapete voador”.
Tudo isso parece muito promissor, mas ainda precisa ser posto à prova. O C5 Aircross não foi experimentado pela imprensa em nenhum lugar do mundo. Ele chegará primeiro na China, em outubro, e só em 2018 será lançado na Europa. Ainda não há planos de importá-lo para o Brasil – ao contrário do irmão Peugeot 3008, que chega nos próximos meses.
A suspensão que os alemães invejaram
Suspensões são um dos grandes legados automotivos da Citroën. Desde 1955 seus carros mais sofisticados são equipados com suspensão hidropneumática. Complexa, ela usava óleo mineral para sustentar o carro e esferas de nitrogênio para absorver impactos. Para ajustar a altura, uma bomba hidráulica entra em ação para pressurizar o óleo.
Estreada pelo Citroën DS, a tecnologia garantia um rodar suave que nenhum outro fabricante conseguia replicar. Não à toa, o sistema foi usado sob licença por Rolls-Royce, Maserati e Mercedes-Benz.
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Havia uma compensação automática entre a compressão exercida em cada roda. Isso não só permitia suspender uma roda para a troca de um pneu como até mesmo trafegar sem uma das rodas traseiras.
A suspensão hidropneumática inclusive salvou o então presidente da França Charles De Gaulle de um atentado em 1962. Cerca de 140 tiros foram disparados contra seu DS 19. Seus batedores foram mortos e todos os pneus perfurados, mas o carro continuou rodando estável graças ao sistema de bolsas de ar.
A partir do final dos anos 80, sensores e eletrônica mais complexa permitiram controlar a inclinação do carro em curvas, altura e rigidez da suspensão. Deu certo: até hoje um Citroën Xantia 3.0i V6 Activa 1999 é o carro mais rápido no teste do alce da revista Teknikens Värld.
A suspensão hidropneumática teve outras duas evoluções, Hydractive 2 e Hydractive 3. O último modelo equipado com ela é a geração atual do Citroën C5, que ainda é vendido na Europa.