Startups apostam até em garantia vitalícia para vender carros usados
Mercado de usados começa a oferecer garantias maiores, de um ano ou mais, porém comprador deve estar atento à manutenção
“Três meses para motor e caixa.” Quem compra carro seminovo ou usado já ouviu esse mantra de lojistas e concessionárias. O padrão do mercado sempre foi esse: conceder 90 dias de garantia previstos por lei para esses itens. A entrada de startups no mercado de segunda mão, contudo, já adota outra postura, diferente dessa das antigas.
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Diversas companhias novatas nesse segmento viram que precisavam ter um diferencial. Uma das estratégias foi investir justamente na cobertura para o carro negociado. Garantia de um ano ou mais, e até cobertura vitalícia, faz parte do modelo de negócio dessas empresas. Mas o cliente também tem de fazer sua parte.
O consumidor Carlos Felipe Philippson Quintas foi atraído justamente por essa garantia estendida. Morador de São Paulo, o especialista em segurança cibernética de 36 anos sempre teve um pé atrás em comprar modelos usados. Em dezembro de 2021, contudo, optou por adquirir um Ford Focus 2013 com a Kavak, uma das novas startups de seminovos.
“Meu receio em comprar carro usado começou em 2017, quando comprei um Citroën Aircross que me deixou na mão e a concessionária não queria arrumar alegando que o problema na embreagem não estava no pacote de três meses de garantia”, relembra Felipe, que foi atraído pela cobertura de dois anos para qualquer usado oferecido pela Kavak.
“Depois de avaliar carro por assinatura, fazer financiamento e comprar um carro zero, eu e minha esposa resolvemos ir à empresa e depois do bom atendimento e das explicações quanto à garantia do veículo, optamos por seguir com a compra de um usado”, completa.
Outras empresas também miraram nessa estratégia de atrair consumidores. A Karvi, por exemplo, acena com cobertura de um ano. Já a Creditas vai além, com garantia vitalícia.
“Essa garantia tem valor para o cliente, pois ele está comprando um carro usado em uma condição diferente do padrão do mercado”, defende Fabio Zveibil, vice-presidente de Soluções para Consumidores da Creditas.
Manutenção preventiva
Obviamente, para se valer da cobertura é preciso cumprir obrigações. Por contrato, o cliente deve seguir as especificações do fabricante no Manual do Proprietário – ou seja, obedecer os tipos de óleos e fluidos – e tem de fazer as revisões dentro do prazo estabelecido –, mesma regra quando se compra um zero km. Seja em oficinas próprias, como é o caso da Creditas, ou em rede com oficinas parceiras.
Na Creditas e na Kavak, por exemplo, a manutenção deve ser feita a cada 10.000 km ou em intervalos de seis meses. Na Karvi, a recomendação é a cada 7.000 km ou seis meses. Ou seja, não dá para o consumidor se livrar do “três meses para motor e caixa” e achar que pode seguir aquele estereótipo de motorista que “só bota gasolina e roda”.
Na Karvi, a manutenção pode ser realizada em qualquer oficina, porém é necessário solicitar a nota fiscal eletrônica como forma de comprovação. Na Creditas, as revisões devem ser feitas nas próprias instalações – na Vila Leopoldina, em São Paulo capital, ou em Barueri (SP) – ou em oficinas parceiras da Bosch e da Porto Seguro.
Revisão detalhada
Do lado das companhias, essa oferta de cobertura maior é possível graças ao trabalho de revisão dos carros. Todas elas garantem que cada um dos seminovos e usados à venda passa por uma vistoria que inclui mais de 250 itens. Na Karvi, por exemplo, o veículo que for aprovado em todas as etapas recebe um selo e um certificado impresso que funciona como garantia.
“Por que a garantia de um ano começa pela caixa e motor? Porque fazemos a vistoria detalhada com 280 itens e os componentes mais difíceis são justamente a caixa e o motor. Os demais conseguimos detectar na inspeção”, explica Matías Fernandez Barrio, CEO e fundador da Karvi.
Mas como fecha a conta? Primeiro, segundo os executivos do setor, a questão da inspeção previne problemas e despesas futuras. Ao mesmo tempo, as startups que atuam nesta venda de carros usados conseguem praticar preços mais valorizados dos veículos de segunda mão, uma vez que atraem um consumidor que busca justamente segurança na negociação.
“O cliente, na média, está disposto a pagar por essa tranquilidade. Interessa a ele não ter problema com esse carro. E também é uma forma de reter o cliente para uma futura compra. Para um lojista, manter uma garantia estendida é uma forma de criar negócios para o futuro”, acredita Matias, da Karvi.
O motorista Carlos Felipe Quintas, que comprou um Focus 2011, já é um destes clientes “conquistados”. Ele conta que logo depois da compra do carro teve um problema que foi imediatamente sanado e acredita que a experiência mudou sua relação com carros usados.
“Tive um problema com a vedação do tanque de combustível. Entrei em contato, agendei o conserto e em três dias o problema foi resolvido sem custos. Os receios que eu tinha antes não tenho mais. E se agora tivesse de trocar por outro usado, eu iria à mesma empresa, certamente”, reconhece.
“Sem dúvida, trouxe um cliente novo. Mas o desafio do carro usado é que cada carro é um carro e cada cliente é um cliente. Temos um perfil de consumidor disposto a pagar um pouco mais, fazer test drive, saber a procedência e a qualidade do veículo, e de ter controle sobre o carro e o custo total de posse do bem”, explica Flávio, da Creditas.