Velhice precoce
Modelos que recebem mudanças prematuras deixam na garagem dos donos um mico com cheiro de novo
Quando um carro com cheiro de novidade ganha a preferência do consumidor, a última coisa que o novo proprietário quer é que o modelo sofra cedo alguma alteração de conteúdo, visual ou motorização. Mas nem sempre esse padrão é respeitado pelas montadoras, e certos casos viram exemplo. Com dois anos de operações no Brasil recém-completados, a JAC acaba de apresentar o J3 reestilizado de forma simultânea no Brasil e na China. Mantendo o preço de 35 990 reais para o hatch e 37 990 para o sedã, as mudanças foram concentradas na dianteira, com novos faróis, para-choque e capô, além do interior, que ganhou console repaginado, mostradores duplos e volante com comandos de som.
A reforma visual, entretanto, deixou de fora o J3 S, que chegou ao mercado em abril com status de primeiro flex e esportivo da marca chinesa. Por 37 490 reais, ele tem o mesmo motor 1.3 do J3 reprogramado para beber etanol. As diferenças antes eram mínimas: faixas decorativas, iluminação do painel e costura dos bancos na cor vermelha e faróis com máscara escura. Agora eles têm carrocerias diferentes. O face-lift só chegará ao J3 S no fim do ano. Até lá, o consumidor terá de optar entre motor flex e mais potente e visual atualizado, por uma diferença de 1 500 reais em favor do 1.3. Quem comprou o J3 S dois meses antes não teve essa opção.
Em outubro de 2011, a Hyundai fez alarde para lançar o Elantra, que na época vinha com motor 1.8 de 160 cv, um dos mais potentes da categoria. Menos de dois anos depois, e na contramão da concorrência de Honda e Toyota, que lançaram versões 2.0 de seus sedãs mas mantiveram em linha o 1.8, a Hyundai acabou com o motor a gasolina e lançou o Elantra com um 2.0 flex. A potência aumentou de 160 para 178 cv, porém a conta também ficou mais cara. Os 18 cv adicionais custam mais de 20 000 reais, e a tabela saltou de 76 125 reais para 96 376 reais, também pela mudança de IPI para importados. A retirada de uma opção mais em conta e que já tinha um motor adequado ao sedã causou revolta de alguns clientes que compraram o 1.8, que agora consideram ter um mico nas mãos.
A onda dos carros que saíram de linha rapidamente também passou pela Honda. A quarta geração do CR-V foi lançada em março de 2012, com um 2.0 que bebia apenas gasolina. Mas 14 meses depois, em maio deste ano, veio a versão bicombustível. Especialistas em mercado de usados dizem que a tendência é que o CR-V de cara nova a gasolina seja preterido no mercado, já que padrão dessa geração será o flex.
Na linha 2012, a Ford lançou o Ka com dois motores, 1.0 e 1.6. Este último, batizado de Sport, destacava- se pelas faixas decorativas de gosto duvidoso no capô, teto e nas laterais. O proprietário pode até ter ficado feliz com seu visual exclusivo, mas certamente não aprovou o que veio a seguir: em janeiro, ou seja, apenas 17 meses após ter sido lançado, a Ford tirou de linha o Ka Sport e aposentou o 1.6.