Chrysler Neon: a salvação da marca por trás de um carismático sedã
Repleto de personalidade, ele era barato, econômico, rápido e veloz, virtudes que ajudaram a salvar a Chrysler na virada do milênio
Quem ouve falar em Plymouth, Dodge e Chrysler imediatamente associa as três marcas norte-americanas a enormes e pesados sedãs, sempre impulsionados por motores de seis e oito cilindros. O que nem todos sabem é que as três compartilharam um dos projetos mais racionais e eficientes da década de 1990: o Neon.
A primeira aparição do Neon ocorreu no Salão de Detroit de 1991: era um carro-conceito com carroceria três volumes, quatro portas deslizantes, teto solar de tecido, vidro traseiro retrátil, porta-malas basculante e um motor dois tempos de três cilindros, 1,1 litro e 100 cv. Sua característica mais marcante eram os faróis redondos.
O Neon era tão importante para o futuro da Chrysler que mereceu atenção especial do CEO Lee Iacocca, do presidente Bob Lutz e do vice-presidente de design Tom Gale. A versão final foi uma das estrelas do Salão de Frankfurt de 1993 e entrou em produção já no ano seguinte, mantendo os faróis redondos que definiram sua personalidade.
Ele foi vendido no mercado norte-americano sob duas marcas diferentes: a popular Plymouth e a intermediária Dodge. A versão de exportação por sua vez recebia sempre a marca Chrysler. A concorrência era forte em qualquer mercado: Chevrolet Cavalier, Ford Escort, Saturn SL, Honda Civic, Toyota Corolla e Nissan Sentra.
Bem resolvida, a plataforma PL tinha baixo custo de produção sem comprometer a qualidade construtiva. As suspensões eram independentes nas quatro rodas, com sistema McPherson no eixo dianteiro e multibraços no eixo traseiro. O conjunto era perfeito para o motor de quatro cilindros em linha, 2 litros, 16 válvulas (com comando simples) e 132 cv.
O Neon era o modelo mais potente entre os compactos e um dos mais leves (cerca de 1.100 kg). As três primeiras marchas do câmbio manual eram escalonadas para acelerar de 0 a 96 km/h em 8,4 segundos. O bom coeficiente aerodinâmico e as relações longas de quarta e quinta marchas fizeram a velocidade máxima ser limitada eletronicamente a 190 km/h.
A versão de exportação recebia o motor EBD de 1,8 litro e 115 cv. O carisma do modelo era realçado pela oferta de tonalidades pouco discretas de vermelho, azul e verde. Apesar do sucesso, os proprietários reclamavam dos freios traseiros a tambor e da pequena abertura das janelas traseiras nos modelos de quatro portas.
Inicialmente restrita a membros do Sports Car Club of America, a versão ACR (American Club Racer) recebeu um motor de 2 litros com duplo comando e 150 cv. Acelerava de 0 a 96 km/h em 7,6 segundos e sua dinâmica melhorava com freios a disco nas quatro rodas e suspensão recalibrada. Superava os 200 km/h graças à eliminação do limitador de velocidade.
Uma das novidades da Dodge para o modelo 1998, foi a exclusiva versão R/T, mantendo a base da versão ACR e adicionando faixas longitudinais na carroceria, em alusão ao Dodge Viper GTS. Para manter sua competitividade, uma nova geração do Neon estreou em 2000, agora oferecida apenas com a carroceria de quatro portas.
Os faróis redondos permaneceram, mas o interior foi completamente desenhado. O fim da divisão Plymouth, em 2001, permitiu ao Neon receber uma nova grade com a identidade visual da linha Dodge. Apresentada em 2003, a esportiva SRT-4 ganhou o motor EDV de 2,4 litros com turbo e 215 cv para acelerar de 0 a 96 km/h em 5,6 segundos: era capaz de acompanhar o esportivo Viper em percursos bem sinuosos.
Rebatizado como Dodge SRT-4 em 2004, o modelo vendeu muito além do esperado, mas não o suficiente para manter a popularidade do Neon. Em setembro de 2005, a última unidade deixou a fábrica de Belvidere, Illinois, encerrando uma carreira coroada por mais de 2 milhões de unidades comercializadas em dez anos de produção: o Neon foi decisivo para salvar a Chrysler na virada do milênio.
Nos EUA, foi sucedido pelo Dodge Caliber, uma estranha mistura de hatch, perua e crossover. Curiosamente, o Dodge Neon retornaria em 2017, destinado ao México e Oriente Médio: a nova encarnação do sedã nada mais era do que uma variação do Fiat Tipo produzido pela então Fiat Chrysler Automobiles na Turquia.
Ficha técnica
Plymouth Neon Sport Coupe 1995
Motor: transv., 4 cil. em linha, 1998 cm3, alimentado por injeção eletrônica
Potência: 132 cv a 6.000 rpm
Torque: 17,8 kgfm a 5.000 rpm
Câmbio: manual de 5 marchas, tração dianteira
Carroceria: fechada, 2 portas, 5 lugares
Dimensões: comprimento, 436 cm; largura, 170 cm; altura, 139 cm; entre-eixos, 264 cm; peso, 1.106 kg
Pneus: 185/65 R14