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Clássicos: Aero Willys, o primeiro carro desenvolvido no Brasil

Ele estreou em 1960 com ultrapassadas do modelo americano, mas em 1962 passou a ser considerado o primeiro projeto inteiramente desenvolvido no Brasil

Por Hairton Ponciano Voz
Atualizado em 12 ago 2023, 17h48 - Publicado em 17 out 2020, 00h12
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  • Aero Willys 2600, da década de 60, da Willys.
    (Pedro Bicudo/Quatro Rodas)

    Publicado originalmente no Especial Grandes Brasileiros, em 2015

    As linhas arredondadas, os cromados e as grandes dimensões chamavam atenção. Numa época de pioneiros, em que as ruas eram frequentadas por veículos, digamos, mais rudes (Rural, Jeep, Kombi), o Aero Willys se impunha como a versão civilizada. Era o cara de terno no meio do povo comum.

    O sedã, que começou a ser produzido no Brasil em 1960, tinha um indisfarçável jeitão de carro americano. Além disso, naqueles primórdios, praticamente não tinha concorrente. Havia o Simca Chambord e só. Os outros eram carros menores.

    Aero Willys 2600, da década de 60, da Willys.
    (Pedro Bicudo/Quatro Rodas)

    Por isso, começou a se firmar como o carro de quem tinha posses – ou como veículo oficial. A própria Willys anunciava que ele era o carro preferido dos prefeitos. Mas, por baixo daquele verniz, ele não tinha muita sofisticação. O Aero Willys utilizava parte das peças Jeep. Outro fato que depunha contra era que nos EUA ele não tinha se saído bem.

    Interior do Aero Willys 2600, da década de 60, da Willys.
    (Pedro Bicudo/Quatro Rodas)

    A Willys Overland decidiu, então, trazer o ferramental e produzi-lo por aqui. Se lá ele era apenas “mais um”, aqui ele seria o topo de linha da marca, composta por Dauphine, Jeep e Rural.

    Porta-malas do Aero Willys 2600, da década de 60, da Willys.
    (Pedro Bicudo/Quatro Rodas)

    O motor de seis cilindros rendia 90 cv e tinha uma característica incomum: as válvulas de admissão ficavam no cabeçote, mas as de escape estavam localizadas no bloco. Mesmo assim, tinha larga utilização na linha Willys (Jeep e Rural também vinham com ele) e mais tarde equipou até o Ford Maverick.

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    Lanterna traseira do Aero Willys 2600, da década de 60, da Willys.
    (Pedro Bicudo/Quatro Rodas)

    Na edição de fevereiro de 1962, reportagem da QUATRO RODAS já chamava atenção para o envelhecimento do projeto, especialmente a traseira: “Os ressaltos dos para-lamas e o tamanho das lanternas – grandes e pesadas – contrastam bastante com o tratamento geral dado ao carro”. Como era derivado de um off-road, a altura em relação ao solo foi elogiada (“alto, para vencer grandes elevações, e curto, para safar-se das piores depressões”).

    Farol do Aero Willys 2600, da década de 60, da Willys.
    (Pedro Bicudo/Quatro Rodas)

    Cinzeiro era um item que não podia faltar. Naquela época, era normal os carros virem com um na frente e outro atrás, no mínimo. A reportagem elogiava a qualidade do estofamento (“excepcional”). Ressaltava que o carro acomodava confortavelmente seis pessoas e que os passageiros do banco de trás eram “servidos por duas grandes bolsas e um grande cinzeiro”.

    Espelho retrovisor do Aero Willys 2600, da década de 60, da Willys.
    (Pedro Bicudo/Quatro Rodas)

    Embora o ambiente competitivo fosse muito baixo, a Willys resolveu modificá-lo inteiramente. Em vez de importar um projeto pronto (e desatualizado), a empresa decidiu investir num novo automóvel.

    Na edição de outubro de 1962, um mês antes de o novo carro ser apresentado no III Salão do Automóvel, o Aero Willys ano 63 era a matéria de capa. A reportagem mostrava todo o desenvolvimento do “projeto 213”, inteiramente concebido pelo departamento de estilo da Willys.

    Sergio Berezovsky, redator-chefe da revista Quatro Rodas, dirigindo um Aero-Willys modelo 1966.
    (Ricardo Rollo/Quatro Rodas)

    O texto era assinado pelo jornalista Hamilton Ribeiro, com fotos de Oswaldo Palermo: “No princípio era uma ideia arrojada (…), mas não cabia na cabeça de um Simenon ou de um Wallace. Nascia na cabeça de um punhado de diretores e técnicos de uma fábrica de automóveis. Idealistas? Não, não eram uns sonhadores. E surgiu o primeiro carro concebido no Brasil, para demonstrar que automóvel também é nosso”.

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    No mês seguinte, o projeto 213 era oficialmente apresentado ao público, no estande da empresa no Salão. Era o Aero Willys 2600.

    A base era um monobloco feito especialmente para automóvel de passeio. As linhas da carroceria mudaram radicalmente. No lugar do excesso de curvas do modelo anterior, o Aero 2600 veio com linhas mais retas.

    Aero Willys 2600, modelo 1966.
    (Ricardo Rollo/Quatro Rodas)

    Na edição de agosto de 1963, a revista fez um extenso teste com o modelo. Chamou atenção para o aumento da área envidraçada, tanto na frente como atrás. E comemorou o fim do “rabo de peixe, de gosto discutível”.

    Embora o estilo tenha sido aprovado, a revista dizia que era possível notar influências do Pontiac Tempest (na dianteira), do Simca (lateral) e do Mercedes-Benz 220 (traseira). Mas, apesar de ressaltar certa desarmonia no design, a revista concluía: “Não obstante, cada detalhe, salvo as restrições mencionadas, constitui, de ‘per si’, uma solução estilisticamente razoável”.

    Aero Willys 2600, modelo 1966.
    (Ricardo Rollo/Quatro Rodas)

    A parte mecânica era remanescente do modelo anterior, mas o motor havia ganhado dois carburadores e mudança no coletor de admissão, e a transmissão chegava com nova relação de marchas. O modelo passou a render 110 cv.

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    Com isso, agora ele precisava de 21,1 segundos para chegar a 100 km/h e alcançava 129 km/h de máxima. Um carrão. Na conclusão do teste, o veredicto: “Enfim, um carro robusto, bem-adaptado às nossas condições”.

    Agosto de 1963

    “Tomando-se como padrão o automóvel americano, uma vez que o Aero Willys dele se origina, o modelo 1962 estaria situado na mesma escola dos veículos ianques de 1949. Seu sucessor, o 2600, já poderia ombrear-se com carros da mesma procedência, digamos, de um lustro depois (…). Nas manobras em pequena velocidade, ou com o carro parado, o sistema de direção exige esforço do piloto, que não raro é obrigado a deslocar-se de sua posição natural para conseguir executá-las (…). Como o capô não pode ser trancado, fica à mercê dos amigos do alheio.”

    Aero Willys

    Teste fevereiro de 1962

    Preço

    Fevereiro de 1962 Cr$ 1.187.000
    Atualizado R$ 152.864 (IGP-DI/FGV)

    Ficha técnica

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