No fim dos anos 60, o governo russo decidiu produzir um carro popular e moderno, com robustez para suportar as estradas da União Soviética.
O escolhido foi o Fiat 124, que após várias modificações tornou-se em 1970 o VAZ-2101, conhecido no mundo todo como Lada 1200. Em troca do aço russo, a Fiat ergueu a maior e mais moderna fábrica da Europa, financiada pelo governo italiano.
O que os engenheiros de Turim não imaginavam é que a criatividade dos soviéticos era ilimitada: em pouco tempo eles desenvolveram um fora de estrada que logo se tornaria o mais famoso de todos os automóveis russos: o VAZ-2121 ou Lada Niva. Era o primeiro VAZ que não era um projeto Fiat.
A carroceria aberta dos protótipos logo cedeu espaço a uma fechada, com estrutura monobloco.
O bom isolamento térmico e as molas helicoidais nas quatro rodas faziam dele um utilitário mais civilizado e confortável que os rústicos LuAZ 969 e UAZ 469, que eram destinados aos campos de batalha.
Dona da marca Lada, a AvtoVAZ começou a produzir ro Niva em 1977, mas ele só ganhou o mundo no Salão de Paris do ano seguinte: o estilo quadrado não seduziu, mas a suspensão dianteira independente cativou a atenção de quem tinha olhar mais técnico.
A surpresa ficou por conta da tração 4×4 permanente com diferencial central, requinte até então restrito ao exclusivo e caríssimo Range Rover.
Impulsionado por um moderno 1.6 com comando de válvulas no cabeçote, seus 76 cv ofereciam na época bom desempenho para um jipe: levava 23 segundos para chegar aos 100 km/h e alcançava 132 km/h de máxima. Mas performance não era prioridade: o consumo médio de 8,5 km/l favorecia a autonomia em regiões inóspitas da Rússia.
Sua ficha técnica indicava um autêntico fora de estrada: caixa de transferência com reduzida, ângulos de entrada e saída de 40 graus na frente e 32 atrás e vão livre do solo de 23,5 cm.
Para facilitar a travessia de trechos pantanosos, ele encarava água a até 51 cm de altura e os freios dianteiros eram a disco. Tudo por uma fração do valor de um Land Rover Série III (atual Defender) ou Toyota FJ.
Não demorou para ele despontar no rali: cinco Nivas disputaram o 1° Paris-Dakar, em 1979, e dois completaram a prova. Depois veio um terceiro lugar em 1981 e um segundo lugar em 1982. Até o campeão belga Jacky Ickx correu com o jipe russo.
Um câmbio de cinco marchas veio em 1985: foi assim que ele chegou ao Brasil cinco anos depois, onde conquistou uma legião de entusiastas pela valentia e preço acessível (US$ 10.040).
Ao longo dos anos, o Niva sofreu poucas modificações: uma versão com motor Peugeot diesel surgiu em 1993 e dois anos depois recebeu um novo 1.7 a gasolina, com injeção eletrônica. No mesmo ano foram apresentadas as versões VAZ-2129 (três portas) e VAZ- 2131 (cinco portas), ambas com entre-eixos alongado de 2,7 metros (30 cm a mais que o normal).
Ainda em produção, a última revisão do jipe veio em 2020, quando ganhou, enfim, comandos de ar-condicionado com botões giratórios, tomadas de 12V e quadro de instrumentos com computador de bordo. Novos bancos, amortecedores com carga revista, painel redesenhado, embreagem redimensionada e freios mais potentes foram adotados em 2009.
Se enganou quem pensava que o jipe russo derivado de um Fiat não iria longe. A Guerra da Ucrânia e as sanções internacionais, o governo russo, que assumiu a produção da Lada (que havia sido comprada pela Renault há alguns anos) decidiu manter seu carro mais rústico em produção até pelo menos 2027, quando completará 50 anos em produção com quase o mesmo visual de 1977.
Motor | 4 cilindros em linha de 1,6 litro |
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Potência | 76 cv a 5 450 rpm |
Câmbio | manual de 5 marchas, tração 4×4 permanente, com reduzida e bloqueio de diferencial |
Carroceria | 2 volumes, 5 lugares |
Dimensões | comprimento, 373 cm; largura, 168 cm; altura, 164 cm; entre-eixos, 220 cm |
Peso | 1.150 kg |