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Santa Matilde SM 4.1 era esportivo do RJ feito por pai e filha de 19 anos

Opção aos importados, o esportivo fluminense com motor do Opala representou o ápice da exclusividade por mais de uma década

Por Felipe Bitu Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
9 dez 2023, 19h09
SANTA MATILDE
Adotados em 1987, faróis retangulares vieram do VW Santana (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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A proibição das importações de automóveis e bens de luxo, em 1976, complicou a vida de quem desejava adquirir um veículo importado e também de quem já tinha. Foi o caso do engenheiro Humberto José Pimentel Duarte da Fonseca, presidente da Companhia Industrial Santa Matilde e executor do projeto que resultou no SM 4.1.

Entusiasta de esportivos europeus, Humberto usava diariamente um Porsche 911 S Targa, mas, após escapar de um acidente, concluiu que um reparo de funilaria seria impossível ou inviável devido ao valor e disponibilidade de peças cada vez mais raras no mercado. Foi então que sua filha Ana Lidia sugeriu produzir seu próprio automóvel na fábrica de Três Rios (RJ).

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Lanternas traseiras exclusivas eram produzidas na própria fábrica, no Rio de Janeiro (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Muito ligada ao pai, Ana Lidia era uma jovem de 19 anos apaixonada por automóveis e decidida a cursar a graduação em engenharia mecânica. A ideia foi imediatamente rechaçada por Humberto, profundo conhecedor de automóveis e de todos os desafios envolvidos no desenvolvimento de produto e na engenharia de produção.

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Ana Lidia voltou a tocar no assunto quando sua mãe, Anna Luiza, alertou sobre a ociosidade na produção de plástico reforçado com fibra de vidro, utilizado em vagões ferroviários e colheitadeiras produzidos pela Santa Matilde. Descontente com a longa fila de espera por um Puma GTB, Humberto finalmente aceita o desafio proposto por sua filha.

Pai e filha analisaram revistas e catálogos de fabricantes como Porsche, Mercedes-Benz, Jaguar e Aston Martin, selecionando detalhes e características que mais agradavam em cada modelo. A partir deste estudo foi elaborado o croqui de um esportivo 2+2 lugares, que foi levado à apreciação do piloto Renato Peixoto, proprietário de uma renomada oficina em Petrópolis (RJ).

Santa Matilde
Ergonomia apurada, instrumentação completa e motor seis-cilindros do Opala: a manutenção poderia ser realizada em qualquer concessionária Chevrolet (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Renato gostou da ideia e aceitou a tarefa de desenvolver o primeiro protótipo, já como empregado da Santa Matilde: o piloto e preparador não permaneceu na equipe até a conclusão dos trabalhos. Dessa forma, a coordenação do projeto foi designada ao jovem designer Flavio Augusto Monnerat de Carvalho.

O protótipo agradou Humberto, que se queixou apenas da aceleração. Ana Lidia não se conteve: para ela faltava harmonia à traseira. A correção foi confiada aos designers Angela Carvalho e João Carlos Carraz, que não pouparam esforços: o SM 4.1 foi finalmente apresentado no Salão do Automóvel de 1978, com novas proporções em sua parte traseira.

Santa Matilde
A qualidade do acabamento justificava a produção limitada a um veículo por dia (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Impulsionado pelo motor de seis cilindros do Chevrolet Opala, o SM 4.1 oferecia bom desempenho para a época: 0 a 100 km/h em 13,1 segundos e máxima de 170 km/h. Era um verdadeiro GT: 1.270 kg, câmbio manual de quatro marchas, tração traseira e freios a disco nas quatro rodas para viajar tranquilamente por várias horas em altas velocidades.Santa Matilde

Era o automóvel mais caro do mercado nacional, com acabamento interno de couro e itens de conforto como ar-condicionado e acionamento elétrico dos vidros. O SM 4.1 recebeu melhorias contínuas até 1982, ocasião em que Ana Lidia promoveu a alteração de estilo mais drástica do modelo: a carroceria de três volumes.

Santa Matilde

“O SM 4.1 para 1983 estava do jeito que eu havia imaginado”, conta Ana Lidia. “Meu pai ficou muito apreensivo, mas a nova carroceria fez um sucesso imensurável e viabilizou a produção do modelo conversível em 1984: a ideia das capotas rígida e de lona veio de um Alfa Romeo 2600 Spider (1962-1968) que meu pai teve, mas o mecanismo foi inspirado no Mercedes-Benz R 107.”

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Santa Matilde
Motor seis cilindros em linha oriundo do Opala (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O auge da produção ocorreu em 1986. Em 1987, o cupê sofreu uma reestilização, adotando uma dianteira mais agressiva, com faróis retangulares e traseira mais alta. “Estava cada vez mais difícil encontrar faróis circulares da Cibié, então decidimos usá-los apenas no modelo conversível”, conta Ana Lidia.

Santa Matilde

Vitimada pela estagnação econômica, a Santa Matilde teve sua administração entregue ao sindicato local logo após a reabertura do mercado, em 1990. A última unidade foi finalizada em 1997 sob o número 936: destes, cerca de 120 são conversíveis. O legado do engenheiro Humberto é preservado por Ana Lidia e pelos colecionadores do SM 4.1, os “matildeiros”.

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Ficha Técnica

Santa Matilde SM 4.1 (1990)

Motor: longitudinal, 6 cilindros em linha, 4.093 cm3, alimentado por carburador de corpo duplo
Potência: 121 cv a 3.800 rpm
Torque: 29 kgfm a 2.000 rpm
Câmbio: manual de 4 marchas, tração traseira
Carroceria: fechada, 2 portas, 4 lugares
Dimensões: comprimento, 425 cm; largura, 169 cm; altura, 128 cm; entre-eixos, 242 cm
Peso: 1.270 kg
Pneus: 215/65 R 15

Edição – Julho de 1979

Quatro ROdas 228
(Reprodução/Quatro Rodas)

Aceleração 0 a 100 km/h em 13,1 s
Velocidade máxima 170 km/h
Consumo médio 8,79 km/l
Preço: Cr$ 446.051 (julho/79)

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