VW Voyage Los Angeles já foi mico e hoje é antigo raro e valorizado
A cor azul enseada marcou a série que fazia tributo às Olimpíadas de 1984, mas era considerada extravagante demais para a época
O ano é 1984. Após o sucesso do Gol Copa, com 3.000 unidades lançadas em 1982 para homenagear a Copa da Espanha, a Volkswagen aproveitou os Jogos Olímpicos de Los Angeles, nos EUA, para, desta vez, dar uma série especial ao Voyage. Mas esgotar o estoque deles nas concessionárias foi tarefa tão árdua quanto uma maratona.
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O nome não poderia ser mais óbvio: Voyage Los Angeles. Baseado na versão LS (assim como o Gol Copa), ele unia o que havia de melhor já disponível para o sedã com itens exclusivos.
Enquanto o volante de quatro raios era emprestado do Passat GTS (que em 1985 receberia o famoso “quatro bolas”), o quadro de instrumentos e os comandos no painel (este, espumado) vinham do Voyage LS código 1.
A cabine ainda recebia bancos Recaro, que não eram os mesmos do Gol GT 1.8, mas um modelo mais simples. O retrovisor do lado esquerdo recebia comando interno, enquanto o do lado direito ainda era opcional. O porta-malas era todo acarpetado, algo raro na época.
Por fora, o VW Voyage Los Angeles exibia as rodas de liga leve – mesmas do LS código 2 –, um pequeno aerofólio na tampa do porta-malas, partes dos para-choques pintadas na cor da carroceria, spoiler dianteiro, faixas pretas pintadas nas laterais, vidros verdes e para-brisa degradê.
A lista ainda incluía faróis de neblina quadrados (Cibié Serra II) emprestados pelo Santana, inscrições “Los Angeles” no vidro traseiro e “L.A.” na tampa da mala e um friso vermelho de ponta a ponta da carroceria na altura da linha de cintura.
Mas é a cor azul enseada metálica, exclusiva da série especial, que torna o Voyage Los Angeles facilmente reconhecível. E foi justamente ela a culpada pela serie especial ter se tornado um mico à época.
O brasileiro tem o costume de comprar o carro novo pensando no segundo dono. Isso era ainda pior quando o carro era visto como investimento. Qualquer coisa diferente seria motivo para torcer o nariz para o carro. Poderia ser a carroceria de quatro portas, um motor diferente ou mesmo a cor da carroceria.
A cor tão chamativa era um problema. A dificuldade de igualar aquele tom metálico em uma eventual repintura com os recursos da época, outro. Conta-se que, diante disso, os concessionários chegaram a repintar o carro inteiro de outra cor para conseguir vender as unidades que tinham em estoque.
A intenção da Volkswagen era repetir a mesma tiragem de 3.000 unidades do Gol Copa, mas apenas 300 teriam sido produzidas. E uma só uma fração delas não foi descaracterizada ou modificada, o que as torna as mais valorizadas do Voyage.
Motor ainda não era AP
Em 1984 o VW Voyage ainda usava o motor MD-270. No caso da série Los Angeles, todos receberam o 1.6 8V a álcool, que rendia 81 cv e 12,8 kgfm e geralmente estava combinado com câmbio manual de quatro marchas. O câmbio de cinco marchas era oferecido, mas é muito raro.
O motor AP 1600 só estreou nas linha Gol, Parati e Voyage em 1985, primeiramente nas versões com cinco marchas. O AP só se tornou padrão na linha com o lançamento dos modelos 1986.
Green card garantido
Uma série especial com o nome de uma cidade dos Estados Unidos combinava com a intenção da Volkswagen de enviar seu sedã brasileiro para o país do Tio Sam.
Desde o lançamento do Voyage, um grupo de executivos da VW passou a tocar um secretíssimo “Projeto 99”. Não era nenhum carro novo, mas quase isso. O plano da fábrica era exportar 100.000 carros para o mercado americano.
Em 1982, alguns carros foram despachados para teste no Alasca, a temperaturas de até 45 graus negativos. Passados cinco anos, o Voyage chegou lá. Além de ter seu nome mudado para Fox, para conseguir o green card foram necessárias 2.000 modificações.
O carro ganhou injeção eletrônica, item banido por aqui pela famigerada política de reserva de mercado da informática, e catalisador, este só adotado no nosso Voyage em 1992. Até a linha de produção teve de ser aprimorada, com a importação de 15 robôs para melhorar a qualidade das soldas, outra exigência do comprador externo.
Com todos os aprimoramentos, o Fox chegava aos americanos ao preço de 5.200 dólares, segundo informações da época do jornal Automotive News. Preço inferior ao mais barato dos carros japoneses por lá comercializados.
No fim de 1989, a revista americana Car and Driver comparou oito modelos da classe econômica. O Fox fez bonito e ficou em terceiro, atrás apenas de VW Golf e Honda Civic DX. Preço e qualidade ajudam a entender os 220.000 Fox que foram exportados até 1993 para os Estados Unidos.
Cosmopolita, além de rodar pelo continente americano, também chegou a circular no Iraque, a partir de 1988. O movimento migratório em direção ao Oriente Médio durou apenas até 1990, com o início da Guerra do Golfo.
Mas o privilégio de ter um Voyage à moda americana acabou por chegar aqui. Na linha 1988, a VW apostou alto e lançou o modelo GLS. Com motor 1.8, ele era a própria versão brasileira do Fox, inclusive com o mesmo painel.
Até 1996, quando deixou de ser fabricado, o Voyage acompanhou as mudanças estéticas do Gol. Foram produzidos no total 856.471 Voyage da primeira geração e nada menos que 391.295 deles foram expatriados. Agora, quem está na berlinda é a segunda geração do Voyage, que pode sair de linha no fim de 2021 junto com o… Fox.