208 km/l com um SUV? Entenda o sistema híbrido dos Great Wall nacionais
Sistema híbrido DHT pode ter até três motores elétricos e estará em todos os carros da Great Wall que serão lançados no Brasil a partir do final do ano
A Great Wall terá a primeira fábrica de automóveis do Brasil dedicada a fabricar veículos eletrificados: híbridos, híbridos plug-in e elétricos. É uma proposta que soa audaciosa em um primeiro momento, mas faz sentido a longo prazo.
Toda sua gama de modelos será formada por SUVs ou picapes, todos híbridos e com sistemas tão sofisticados a ponto de permitir um consumo de até 208 km/l. É um consumo baixo, sem precedentes.
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“Nós temos carros a combustão na China e em outros mercados, mas no Brasil nossa estratégia será dedicada a híbridos e elétricos. Hoje os híbridos plug-in estão restritos a carros premium no Brasil e a GWM pode oferecer um conjunto até mais avançado em segmentos mais acessíveis”, disse o COO da Great Wall Brasil, Oswaldo Ramos, se referindo ao conjunto híbrido que permite autonomia 100% elétrica de surpreendentes 200 km.
Híbridos flex também serão realidade. O executivo adiantou que a Great Wall já trabalha para adequar seus motores à gasolina brasileira e também para, futuramente, torná-los flex. Só se negou a antecipar a faixa de preço onde os carros da Great Wall serão posicionados.
O que é fato é que estarão abaixo das marcas premium, certamente. Lá fora, o novo Mercedes Classe C híbrido plug-in se gaba pela autonomia elétrica de 100 km e não faz isso sem motivo: em geral, os plug-in costumam ter autonomia entre 40 e 70 km, e a partir daí passam a depender do motor a combustão.
Híbridos para todos os gostos – e preços
O segredo para esta eficiência está na versatilidade da plataforma modular L.E.M.O.N. DHT (apenas DHT no Brasil), desenvolvida especificamente para carros híbridos e híbridos plug-in, e proprietária da Great Wall – que diz ter envolvido 199 patentes próprias, sendo 80 delas estratégicas. Essa plataforma é modular e focada na redução de peso.
Como é praxe entre as fabricantes asiáticas, a Great Wall tem uma estrutura verticalizada. Produz os componentes mais estratégicos dos seus carros por meio de suas empresas subsidiárias. Motores, baterias e toda a interface eletrônica dos veículos têm desenvolvimento próprio e a produção também envolve fornecedores de nível global.
Em comum, os híbridos e híbridos plug-in terão um motor 1.5 turbo com injeção direta de alta pressão (350 bar), turbo de geometria variável e que trabalha em ciclo Miller para entregar 156 cv.
Nos híbrido (HEV), o 1.5 turbo será combinado ao conjunto DHT130, que combina o motor turbo ao sistema híbrido DHT de 130 kW (245 cv) e 41,8 kgfm. Este motor elétrico pode impulsionar o carro sozinho, ter sua força combinada ao motor a combustão ou atuar como gerador para alimentar a bateria de modestos 1,8 kWh.
Esta será a mecânica dos SUVs médios da marca, mas seu funcionamento é diferente do que se vê nos Toyota Corolla, por exemplo. Está mais próximo da realidade do sistema e:HEV do Honda Accord.
O Haval H6 S é um SUV cupê de porte médio já baseado na plataforma L.E.M.O.N. DHT e foi apresentado há poucos meses. Ele ilustra bem o funcionamento do sistema híbrido mais convencional.
O motor a combustão só move o carro a partir dos 35 km/h. Antes disso ele trabalha conectado a um gerador de energia. Quando em modo paralelo, uma embreagem conecta o motor a gasolina ao câmbio e também passa a impulsionar o carro, além de gerar energia.
O detalhe é que o motor a combustão só tem duas marchas a disposição, sendo a primeira uma espécie de reduzida e a segunda marcha, que é engatada a partir dos 65 km/h, algo como uma marcha longa, um overdrive. Cabe aos motores elétricos compensar a falta de mais marchas com seu torque elevado. Nessa configuração, o H6S faz de 0 a 100 km/h em 7,5 segundos.
Em um patamar acima estará o sistema híbrido plug-in (PHEV), que estará disponível com dois conjuntos: ou com um motor elétrico extra no eixo traseiro, o que eleva a potência aos 326 cv, ou com dois motores elétricos traseiros, chegando aos 435 cv e 77,7 kgfm.
Este conjunto mais potente é o chamado 1.5T+DHT130+P4, e que tem a disposição o um pacote de baterias maior, com 43 kWh (sendo 39,7kWh líquidos). Essa bateria é grande o suficiente para que um SUV rode mais de 200 km sem precisar gastar uma gota de gasolina. E é isso que faz com que a Great Wall declare consumo médio entre 75 e 208 km/l.
Ainda é possível repor 80% da carga em 45 minutos conectado a um carregador rápido. A eficiência térmica com esse conjunto salta para os 50% e permite fazer longas viagens sem que o motorista precise se preocupar com a autonomia. Se a bateria estiver acabando, o motor a gasolina entra em ação e cumpre sua função.
Na China, o Great Wall Wey Mocha já usa esse conjunto mais sofisticado. O SUV coordena o uso de cada motor para encontrar a melhor eficiência. Os plug-in preservam o câmbio de duas marchas para o motor a gasolina, que são usados em retomadas. A atuação dos motores elétricos na dianteira e na traseira é controlada eletronicamente: podem trabalhar juntos as acelerações ou na neve, ou alternar a distribuição de força no off-road.
Há seis modos de funcionamento, que permitem desde um modo elétrico eficiente, ou o uso de todos os motores na aceleração ou mesmo que o motor a gasolina não impulsione o veículo, passando a operar como mero gerador.
É assim que um SUV de 2.250 kg como o Wey pode escolher entre um consumo de 208 km/l ou uma aceleração de zero a 100 km/h em 4,8 segundos.
O que a Great Wall fará nos próximos meses é levar essa mecânica para carros das submarcas que oferecerá no Brasil: a Haval, a Tank e a Poer.
Interface eletrônica avançada
A nova plataforma de carros híbridos da empresa ainda tem a chamada Plataforma Digital CFF, com atualização Over The Air (OTA), por meio da internet. A intenção é oferecer mais que atualização da central multimídia, mas também otimizar os sistemas de condução semiautônoma, os comandos de voz e o uso de inteligência artificial – capaz de fazer reconhecimento facial do motorista para adaptar as configurações do carro a ele.
A Great Wall também antecipou que todos os seus carros vendidos no Brasil serão dotados de sistemas autônomos de nível 2. Em outras palavras, terão piloto automático adaptativo, assistente de permanência em faixa e frenagem autônoma de emergência.
O Haval Jolion HEV, recém-lançado na Malásia, ilustra bem toda a eletrônica envolvida nisso. Ele tem 14 radares e sensores, e 5 câmeras ao redor do carro (que também são usadas para o sistema de visão 360° e para o assistente de estacionamento automático) para viabilizar mais de 20 sistemas eletrônicos avançados.
Dentro, o Jolion HEV tem quadro de instrumentos digital, central multimídia de 12,3 polegadas e head-up display integrados na mesma interface. Por meio da internet, também permite o acesso a conteúdos multimídia, atualizações do navegador e do clima e até mesmo interpretar as emoções dos ocupantes por meio de inteligência artificial. E tudo isso poderia receber atualizações via internet.
Esse é apenas o início das aplicações de inteligência artificial nos Great Wall. A plataforma chamada Coffee Intelligence 2.0 também é capaz de coletar dados para tornar o sistema mais ágil e eficiente. A GWM espera chegar até 2024 com mais de 5,3 milhões de veículos vendidos com funções efetivas de coleta de dados, tornando-se líder no armazenamento e processamento de dados em big data, o que permitirá evoluir seus sistemas de direção semiautônoma. Essa evolução seria aplicada aos carros que já estão nas ruas por meio de atualizações.
Uma plataforma de inteligência cognitiva será capaz de definir cenários de assistência de direção inteligente e combinar fatores de segurança nos arredores para mudar sua abordagem, garantindo a segurança dos sistemas de assistência.
Ofensiva de longo prazo
A Great Wall comprou há poucos meses a antiga fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP), que em breve começará a ser modernizada e ampliada: sua capacidade anual ampliada de 20.000 para 100.000 unidades até 2025.
Antes disso, em meados de 2023, ela começará a fabricação das picapes e SUVs de maior volume da GWM. A gama de modelos será dedicada aos segmentos que estão em alta no Brasil atualmente, e onde a Great Wall enxerga uma boa oportunidade para seus produtos. Isso também justifica a eletrificação.
Na verdade, ainda não há muito o que antecipar sobre os carros da Great Wall além das informações sobre o conjunto mecânico. Os primeiros carros que lançará no Brasil nem sequer foram apresentados ainda, o que só será feito em abril, durante o Salão de Pequim. Será uma nova geração de SUVs.
Por outro lado, os primeiros Great Wall serão lançados em outubro deste ano, com outros modelos importados chegando até o final do primeiro trimestre de 2023. A picape média híbrida GWM Poer, por sua vez, já fará sua estreia com produção nacional e com toda a rede de concessionárias da Great Wall estabelecida. Serão 130 pontos de venda em 112 cidades brasileiras.
“Nós não podemos lançar uma picape média sem ter concessionárias no interior do Brasil”, disse Ramos. A Toyota trabalha em versão híbrida da Hilux e a nova geração da Ranger também terá ajuda de um motor elétrico, mas, ao que tudo indica, a Poer será a primeira picape híbrida vendida no Brasil.
No total, a Great Wall planeja 10 lançamentos no Brasil em três anos, quando conclui sua primeira fase de investimentos, com aporte de mais de R$ 4,4 bilhões.
Os carros estarão divididos em três submarcas: Haval (SUVs urbanos), Tank (SUVs off-road de luxo) e Poer (picapes). Todos serão vendidos nas mesmas concessionárias e, na prática, cada submarca representará uma linha com produtos em diferentes segmentos – assim como a Caoa Chery divide sua linha entre os Tiggo (SUVs) e os Arrizo (sedãs).