Desde o início deste século escuta-se sobre os planos milagrosos de recuperação da Alfa Romeo e de sua aura esportiva de alto valor aspiracional, quase extintos por sucessivos erros estratégicos. Após a formação da Stellantis, em 2021, a marca voltou a dar lucro em 2023 e agora prepara-se para o próximo passo: o Alfa Romeo Milano é seu primeiro carro elétrico – mas também terá versões a combustão.
Tomar esse caminho rumo aos elétricos ainda rendeu uma mudança no logotipo da Alfa Romeo. Desde que foi fundada em Arese (pequena comuna na província de Milão), em 1910, seu escudo traz dois dos símbolos que identificam a cidade de Milão: a estrela que é o símbolo histórico da capital da Lombardia, e a serpente Biscione, brasão da nobre família Visconti e um dos símbolos mais emblemáticos da cidade. Até 1972, o nome Milano apareceu na parte inferior do logotipo.
Agora, Milano é o nome do carro e os desenhos estão forjados no cuore sportivo.
É um retorno às origens, mas a base do Alfa Romeo Milano não é inédita: usa a plataforma e-CMF (ou Smart Car) dos Jeep Avenger e Peugeot e-2008. Juram, porém, que houve uma intensa injeção de genes “alfistas” por parte dos técnicos e pilotos que fizeram os mais memoráveis Alfa das últimas duas décadas, no que se refere à sua dinâmica (como o 4C, 8C, Giulia e Stelvio Q e Giulia GTA). O desenvolvimento ficou a cargo dos engenheiros da Alfa Romeo no Centro de Testes de Balocco, a norte de Milão, sob a liderança de Domenico Bagnasco, responsável pela validação da essência dinâmica do veículo.
As dimensões são compactas: 4,17m de comprimento, 1,78m de largura e 1,50m de altura. Isso, porém, não os impediu de encurtar os balanços da carroceria, alargar as caixas de roda e deixar a traseira “achatada”, remetendo ao antigo Giulia TZ com o desenho das lanternas.
Por dentro chama a atenção o pequeno volante, a instrumentação a cargo de uma tela digital de 10,25” e aspecto telescópico e a central multimídia com o mesmo tamanho e direcionada para o motorista, assim como os principais comandos estão bem próximos. Ainda tem as saídas de ventilação com formato de trevo de quatro folhas (quadrifoglio), bancos esportivos dianteiros Sabelt em algumas versões e porta-malas com 400 litros, um dos maiores do segmento na Europa.
Além do design, um Alfa Romeo define-se muito pela sua dinâmica de condução e aqui os engenheiros italianos não puderam poupar esforços para arrancar um sorriso de Carlos Tavares, CEO da Stellantis, depois dos testes de Balocco terem terminado.
O que adiantam é que a direção é especialmente direta (14,6:1) e que a suspensão será rebaixada em 2,5 cm na versão mais esportiva, Veloce. Esta ainda terá grandes discos ventilados nas rodas dianteiras, com diâmetro de 380 mm e pinças de quatro pistões. Destaque ainda para a montagem de um diferencial autoblocante Torsen para elevar o nível do comportamento em curva da versão esportiva.
Mas a gama será grande. Existirá uma versão 4×4 (Q4) e quatro motorizações para agradar a três tipos de clientes bastante diferentes.
Começa pelo híbrido leve, com o motor três cilindros 1.2 com turbo de geometria variável e trabalhando em ciclo Miller combinado com um motor elétrico de 29 cv instalado dentro do câmbio automatizado de dupla embreagem com seis marchas para entregar 136 cv. A versão Q4 estreia depois. E ainda tem as duas versões elétricas.
O chamado Milano Elletrica terá uma versão de entrada com 156 cv e a versão Veloce, com 240 cv. Para ambas a bateria de lítio tem 54 kWh: rende 410 km na versão de entrada e 370 km na versão esportiva, sempre no ciclo WLTP. O carregamento da bateria pode ser feito a 11 kW em corrente alternada (AC) ou até 100 kW em corrente direta (DC).
Alguns detalhes concretos sobre a condução apontam para um tempo alargado de condução elétrica dos Milano híbridos (os italianos prometem que a condução em cidade poderá ser feita com o motor a gasolina desligado em até 50 por cento do tempo) e uma velocidade máxima de 150 km/h em modo totalmente elétrico, desde que com leves cargas de acelerador.
Este é apenas o primeiro Alfa Romeo elétrico, sendo que em 2027 a Alfa Romeo terá uma gama de modelos exclusivamente elétricos. Resta saber se o Tonale será capaz de se converter, uma vez que foi concebido em uma plataforma de motores de combustão, caso contrário terá um ciclo de vida muito curto já que foi lançado em 2023.
Desta vez as perspectivas são otimistas, como o foram no passado. Mas agora com um realismo e uma credibilidade pouco vistas na marca italiana.