Como imposto e cota de importação podem afetar carros elétricos e híbridos
Governo estuda como serão distribuir cotas de acordo com o histórico de cada marca, o que poderia beneficiar montadoras consagradas mais do as novatas
Comprar um carro elétrico pode ficar mais caro a partir de janeiro no Brasil. O Governo anunciou, na última semana, que os carros elétricos e híbridos a pagar imposto de importação. Isso tende a impactar boa parte dos veículos eletrificados à venda no Brasil, já que poucos deles têm produção nacional.
O ponto chave é que algumas empresas podem sofrer mais do que as outras. Há diferentes fatores que vão além da simples taxação e das cotas de importações isentas definidas pelo o governo no chamado período de transição.
Antes de ir mais fundo no assunto, vale relembrar como era antes. O Brasil não taxava a importação de carros híbridos e elétricos como forma de fomentar o segmento de energia limpa. Agora, com a justificativa de fomentar o desenvolvimento e a produção nacional, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), decidiu na semana passada retornar com o imposto de importação gradualmente, a partir de janeiro de 2024.
A alíquota cobrada inicialmente será de 12% para híbridos (leves, plenos ou plug-ins) e de 10% para os elétricos. Ela subirá gradualmente até os 35%, em julho de 2026, que é rigorosamente o mesmo imposto pago por veículos a combustão.
Cronograma do retorno do imposto sobre veículos elétricos
Período | Híbrido Leve | Híbrido Plug-in | Elétrico |
Janeiro de 2024 | 12% | 12% | 10% |
Julho de 2024 | 25% | 20% | 18% |
Julho de 2025 | 30% | 28% | 25% |
Julho de 2026 | 35% | 35% | 35% |
Para amenizar, o Governo vai liberar cotas para importação durante esse período de transição. No primeiro período, entre janeiro e julho de 2024, será disponibilizada uma cota de US$ 284 milhões para os elétricos, US$ 226 milhões para os plug-ins e US$ 130 milhões para os híbridos leves.
O valor das cotas vai caindo conforme o imposto for aumentando, como você pode conferir no quadro abaixo. Pode ser que essas cotas ajudem a salvar o segmento neste primeiro período, mas aqui a pouco discutiremos mais sobre isso.
Cotas de Isenção do imposto
Período | Híbrido Leve | Híbrido Plug-in (PHEV) | Elétrico a bateria (BEV) | Caminhões elétricos |
Julho/2024 | US$ 130 milhões | US$ 226 milhões | US$ 283 milhões | US$ 20 milhões |
Julho/2025 | US$ 97 milhões | US$ 169 milhões | US$ 226 milhões | US$ 13 milhões |
Julho/2026 | US$ 43 milhões | US$ 75 milhões | US$ 141 milhões | US$ 6 milhões |
Por si só, apenas a taxação pode causar uma grande reviravolta no segmento, hoje é dominado por empresas chinesas como a BYD e a GWM. Uma explicação para isso está nos preços baixos, possível graças ao processo de produção barato e à baixa margem de lucro, como esclarece Murilo Briganti, consultor automotivo e sócio da Bright Consulting.
De acordo com Briganti, como as novatas chinesas buscam se consolidar no Brasil, trabalham com margens próximas aos 15% — 10% para a montadora e 5% para as concessionárias. Já empresas mais consolidadas e que não dependem exclusivamente dos eletrificados — principalmente as do segmento premium — podem trabalhar com margens mais altas, chegando a 20% só para a montadora.
O que vai acontecer com o aumento, como explica Briganti, é que as marcas que focam nos carros de entrada terão que repassar os impostos ao clientes. Em outras palavras, carros elétricos e híbridos baratos vão, sim, ficar mais caros.
“No caso das montadoras que estão comercializando veículos mais acessíveis, acho difícil elas conseguirem manter o mesmo patamar de preço. Elas já vieram com um preço muito competitivo e com margens reduzidas, justamente para conquistar o mercado. Portanto, devem ter um acréscimo do preço final do consumidor”, explica o consultor.
As cotas disponibilizadas pelo Governo serviriam, justamente, para amenizar esse impacto inicial nos preços. Mas isso pode não acontecer, pelo menos não para todo mundo.
Os valores já estão definidos, mas a maneira como essas cotas serão divididas entre todos os fabricantes ainda não. O que pode acontecer é um favorecimento para marcas que já estão estabelecidas no Brasil há algum tempo. E é justamente isso que impede que previsões de preços sejam feitas no momento. Outro ponto é que o imposto de importação é aplicado ao valor de entrada do carro no Brasil, não sobre o valor de venda.
O mais provável é que as cotas sejam definidas de acordo com o histórico, de acordo com Briganti. Usando um exemplo prático, é possível que a Renault tenha uma bonificação maior para importar o Kwid e o Megane e-Tech do que a BYD para importar toda a sua linha.
Isso significa que o Kwid será o elétrico mais barato do Brasil? Nas palavras do consultor: “Não acredito que seja possível.” E a explicação são as próprias regras do “jogo”. “Eu enxergo exatamente o oposto. A Renault não depende das vendas do Kwid elétrico, já as chinesas dependem muito, pelo menos neste momento, de qualquer volume de vendas”, explica Briganti.
Como o maior volume de vendas das montadoras consolidadas é de carros a combustão, todo o lucro que vier dos elétricos já é alguma coisa. Logo, isso permitirá que elas subam seus preços — e consequentemente seus lucros — para ficar no mesmo patamar do resto do segmento.
Isso vai acontecer? Talvez. O que é certo é que em breve um GWM Ora 03 custando R$ 150.000 será coisa do passado. Enquanto o Governo não definir como serão distribuídas as cotas, será difícil fazer previsão de preço para o futuro, então se quiser comprar um elétrico, a hora é agora.