Falta de padrão para recarga de carros elétricos ainda é entrave no Brasil
Esqueça a tomada da parede: o grande problema é o tipo de conector do seu carro elétrico (e onde ele é aceito)
HDMI, USB, RGB… O avanço da tecnologia nos forçou a aprender diferentes padrões de conexão de áudio e vídeo para que o futebol do fim de semana, por exemplo, não fosse cancelado porque alguém trouxe o cabo errado para ligar a TV ao receptor. Com a chegada dos carros elétricos está havendo um processo semelhante, mas motivado pela falta de padrão em relação aos tipos de tomadas de recarga.
A Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE) saiu na frente e criou o carregador que hoje conhecemos como tipo 1. Ele é o mais usado para o carregamento em estacionamentos de shoppings e casas dos EUA, mas suas características nunca foram apropriadas para a rede elétrica da Europa.
Desse modo, surgiu o carregador tipo 2, que predomina inclusive no Brasil. Todos os carregadores de Volvo, Porsche e a imensa maioria dos pontos de corrente alternada (AC) do Brasil utilizam o tipo 2, que também é o mais comum nos carros elétricos à venda por aqui.
Para recargas rápidas e ultrarrápidas (aquelas que podem ser feitas em poucos minutos), os eletropostos utilizam corrente contínua (DC), e há mais um agente do caos: o CHAdeMO, plugue criado por um consórcio de montadoras japonesas e que, no Brasil, está presente no Nissan Leaf.
Além disso, o gigantesco mercado chinês utiliza o padrão GB/T, que não tem a ambição de dominar o mundo (como o CHAdeMO), mas representa uma barreira a mais nos planos de padronização. Para recargas em corrente contínua, os carros europeus e americanos também diferem, com o padrão CCS1 e CCS2 sendo um equivalente DC para os respectivos tipos de carregamento AC (exceto os carros da americana Tesla, que adotam um padrão próprio).
E os adaptadores de carros elétricos?
Pesquisadores da Universidade de Lincoln, na Grã-Bretanha, vêm estudando a questão das tomadas e até comparam-na à questão da guerra das fitas dos videocassetes nos anos 1980. A aposta da Sony (o Betamax) tinha melhor imagem, mas, uma vez que o VHS (apoiado por um consórcio de marcas) caiu no gosto do público, não houve quem revertesse seu domínio.
Como o Japão teve bastante pioneirismo no lançamento de carros elétricos de grande volume, o CHAdeMO predominou por alguns anos, mas o padrão CCS vem ganhando muito espaço nos países ocidentais. No Brasil, só o Leaf mantém carregamento rápido à moda japonesa e, no exterior, até o novo Nissan Ariya já se rendeu ao tipo europeu de carregamento.
Como o carregamento em baixas potências depende de características locais, é provável que os tipos 1 e 2 se mantenham por tempo indeterminado. O carregamento em alta potência, por outro lado, tem boas chances de ser padronizado e, em breve, apenas um tipo deve predominar em grande parte do planeta.
Enquanto isso não acontece, os donos de EVs precisam utilizar aplicativos que indiquem o tipo de bocal disponível em cada eletroposto. No caso de São Paulo (SP), há apenas um ponto de recarga com CHAdeMO, por vezes formando uma fila de donos de Leaf atrás de recarga.
Quando o dono conecta o cabo ao carro, sistemas eletrônicos checam diferentes detalhes por segurança. Como os adaptadores vendidos na internet muitas vezes não atendem a esses detalhes (ou não têm suporte ao programa de computador utilizado pelo posto), é muito improvável que o dono consiga carregar seu carro em tomada DC diferente da embutida na carroceria.
Torre de babel
Ainda vai levar um tempo para que se adote uma tomada de recarga padrão universal