Motoristas de Uber e 99 com carros elétricos enfrentam filas para recarga
Houve um aumento significativo da frota de eletrificados nos últimos anos e a infraestrutura de recarga já não dá conta da alta demanda
Hoje, aplicativos de mobilidade como 99 e Uber já incentivam que seus motoristas usem carros elétricos até mesmo como forma de aumentar seus lucros e notas na plataforma.
O motorista Thiago Garcia foi um dos primeiros da categoria a optar por um carro elétrico. Inclusive, chegamos a contar, há pouco menos de dois anos, sobre sua economia anual de R$ 12.000. De lá para cá, porém, Garcia testemunhou um aumento exponencial da frota de eletrificados na cidade de São Paulo, onde mora e trabalha. E as coisas já não são tão fáceis como outrora.
“Quando comprei o JAC iEV40, praticamente não encontrava outros elétricos nos pontos de recarga. Porém, de dois anos pra cá, os postos estão sempre movimentados e no último ano até fila tenho pegado”, conta Garcia.
O motorista é dependente dos eletropostos públicos pois não conseguiu autorização do seu condomínio para a instalação de um wallbox doméstico – a melhor solução para quem tem um carro elétrico ou híbrido plug-in.
Diante disso comprou um patinete elétrico para que possa deixar o carro carregando em algum ponto e possa voltar pra casa. Contudo, conta que muitas vezes tem que aguardar mais do que o tempo de recarga, pois os postos ficam superlotados de motoristas de app com carros eletrificados formando fila.
Esse também é o caso do motorista Zilmar da Costa Dias, dono de um JAC e-JS1, que enfrenta filas de três a quatro carros em alguns postos de recarga rápida (que têm capacidade para recarregar as baterias em até 30 minutos).
“Eu moro em Campinas, interior de São Paulo, e no posto da CPFL sempre tem pelo menos três carros na minha frente, o que significa pelo menos uma hora e meia de fila”, conta Dias.
Zilmar tem a possibilidade de recarregar o seu carro em casa, mas a autonomia de 300 km não atende a sua demanda e, por isso, depende das recargas rápidas durante o dia. “Inclusive tenho que alugar um adaptador pra poder fazer as recargas rápidas, pois a JAC cobra R$ 14.000 nesse adaptador para que eu possa recargar nos eletropostos públicos”, desabafa Dias.
Carros elétricos da JAC têm carregadores com tomada de padrão chinês GBT, enquanto o padrão mais comum no Brasil é o Type-2, europeu. Mesmo com adaptador, a potência de recarga é limitada a 25 kWh, mesmo que a estação possa entregar mais de 150 kWh.
Porém, mesmo com os “perrengues” com as recargas públicas os dois motoristas alegam que não voltariam a ter um carro a combustão tanto pela experiência na direção que os elétricos oferecem quanto pela economia com combustível e manutenção.
Incentivo oficial
Recentemente, Uber e 99 anunciaram iniciativas para eletrificar suas frotas no Brasil. Para convencer os motoristas a aderir à ideia, as plataformas ofereceram desconto no valor da locação do carro. Empresas como Zarp (Localiza) e Movida oferecem a locação de carros elétricos com pagamento semanal e muitos motoristas têm aderido a essa nova categoria em busca de economia com o combustível.
Segundo Garcia, o modelo mais visto sendo usado pelos motoristas de app que aderiram a esse sistema de locação são os Renault Kwid E-Tech e o Nissan Leaf. O Kwid é compatível com carregadores Type-2, mas os Leaf dependem de adaptadores quando a estação de recarga não é compatível com seu padrão, ChaDeMo (japonês).
Esse, inclusive, é um dos motivos para a alta frequência no carregador da zona norte de São Paulo: é o único carregador rápido da cidade compatível com o Nissan Leaf.
A Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) informa que o Brasil passou da marca de 100.000 modelos eletrificados. E os carros elétricos tiveram um grande crescimento. Em 2022, o segmento emplacou 8.458 veículos, o que representa um aumento de 197% em relação a 2021 (2.851 unidades) e uma participação de 17% no acumulado de 2022.
Segundo a entidade, a rede pública de recarga passou de 1.000 para 2.800 unidades no país entre 2021 e 2022 – um endereço para cada 14 veículos. Nos EUA, porém, a rede é de um posto para cada oito carros. Na cidade de São Paulo são cerca de 400 pontos de recarga, mas claramente esse número é menor do que a demanda atual.