Vale a pena comprar carro usado de locadora? Veja os prós e contras
Carros usados de locadora podem ser mais baratos e alternativa aos carros populares. Conheça os riscos e as vantagens na hora da compra
Os carros usados de locadora podem ser uma boa opção para quem busca um carro mais novo, mas não tão caro quanto um zero-km. Na verdade, dependendo do segmento e da faixa de preço, é difícil escapar dos carros usados de locadoras. São uma alternativa à falta de carros populares abaixo dos R$ 70.000.
De acordo com a Abla, a Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis, com dados do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), 33% de todos os automóveis e comerciais leves vendidos no Brasil entre os meses de julho, agosto e setembro de 2022 foram registrados por locadoras.
Com esse aumento, cresceu também a oferta de carros usados de locadora. Eles chegam ao mercado em cerca de um ano, com até 40.000 km rodados.
Com os carros novos tão caros, carros de locadora usados estão no radar de quem busca um modelo com um ou dois anos de uso, baixa quilometragem e preço próximo da tabela. Afinal, carro de locadora é um bom negócio?
Pouco rodado e barato
Um carro de locadora até pode ser uma opção interessante, por conta da renovação constante das frotas. Dependendo do segmento, encontra-se veículos de baixa quilometragem e com preço abaixo da tabela. Muitos não são de locação normal, mas provenientes de serviço de carro por assinatura.
Como compram direto da montadora com desconto e lucram com a locação, conseguem vender o seminovo por preços menores. Assim, podem ganhar mais dinheiro vendendo carro do que as próprias fabricantes de automóveis.
Exemplo: um Jeep Compass Longitude 1.3 Turbo 2022 com 8.800 km rodados era oferecido numa loja de locadora de São Paulo por R$ 164.410 contra R$ 186.690 do modelo novo – diferença de 13,55%. Na tabela, um carro como esse é avaliado em R$ 173.700.
Enquanto a locadora oferecia um Fiat Argo 1.0 2022 com 20.000 km por R$ 65.300, a própria Fiat pedia R$ 79.790 pelo mesmo carro em seu site, ou quase 22,2% a mais. O preço de tabela é mais baixo: R$ 64.000.
O que costuma ser uma vantagem nesses carros é a garantia de que o hodômetro não foi adulterado, pois é um risco que as grandes locadoras não querem correr.
Os riscos dos carros de locadora
Mas é preciso estar muito atento ao carro que está sendo comprado. O maior medo de quem vai comprar esse tipo de usado é o estado geral. Afinal, ele foi utilizado por diferentes pessoas ao longo da sua vida, muitas vezes até para rodar em aplicativos de mobilidade, e nenhuma delas cuidou do automóvel como se fosse seu.
Isso é verdade, mas a boa notícia é que o veículo maltratado dá sinais claros, mesmo pouco rodado.
Como interior e porta-malas muito sujos e riscados, faróis e lanternas com sinais de poeira e protetor de cárter e braços de suspensão cheios de riscos. A embreagem com acionamento duro também indica que encarou trabalho pesado em estradas ruins.
Quer saber se o carro usado era de aplicativo? Sente no banco traseiro. A espuma dos assentos dos carros mais baratos costuma ceder e perder o suporte para o corpo.
“Em geral, veículos de locadora são bem cuidados, mas às vezes eu conserto carros maltratados, que sofreram pancadas na parte inferior ou receberam retoques malfeitos na pintura”, explica Henrique Macchi Jorge, dono de uma oficina de Campinas (SP).
Mas as locadoras garantem que só veículos em perfeito estado vão para a venda.
“Nossos carros seguem à risca a manutenção recomendada pelo manual do proprietário durante o período de locação e passam por uma revisão completa antes de seguirem para a venda”, diz Heros Di Jorge, diretor executivo da Seminovos Localiza.
Mas há casos e casos. Carros e carros.
Garantia de fábrica? Talvez!
Se você faz questão de um usado com ainda com garantia da fábrica (que, geralmente, é de três anos), olho aberto: revisão nas concessionárias é raro.
Para reduzir os custos, as locadoras costumam fazer a manutenção indicada no manual do proprietário em oficinas independentes que as próprias locadoras credenciam, o que invalida a garantia. Estas oficinas podem ser, até mesmo, concessionárias de uma marca diferente.
O que também cancela a garantia é a perda do prazo da revisão, nem sempre respeitada. É uma revisão de 10.000 km feita apenas aos 16.000 km, por exemplo. E os registros dos serviços nem sempre acompanham o veículo seminovo: pode ser necessário ligar para a central da locadora para saber quando, exatamente, o carro parou para fazer revisão.
Isso não impede que as próprias locadoras ofereçam garantia de até 1 ano em seus seminovos. Entretanto, é possível achar carros com manual carimbado na oficina certa e ainda com garantia da fabricante, que pode variar entre três e cinco anos.
É o caso do educador físico Fernando Dias da Silva Júnior, de Monte Mor (SP), que comprou um Renault Logan de locadora ainda dentro da garantia de três anos e precisou usá-la quando a caixa de direção apresentou defeito.
“Fui atendido normalmente na concessionária, que instalou uma peça nova e ainda me disponibilizou um carro reserva durante o reparo”, afirma Silva.
Variedade de modelos
Ao contrário do que se pensa, há grande variedade de marcas, modelos e cores nas lojas de carros usados de locadoras.
É verdade que a maior parte é de compactos de entrada, porém há sedãs médios, SUVs, minivans, picapes, furgões e até modelos de luxo de Audi, BMW, Jaguar e Mercedes, em geral usados por diretores de grandes empresas.
Outra vantagem é encontrar modelos recentes no mercado, que ainda têm pouca oferta nas lojas multimarcas. Entre eles, alguns casos exóticos.
Apesar dos grandes descontos, a venda de grandes lotes de carros novos para locadoras pode ser usada pelas fabricantes para manter um ritmo de produção ou compensar a baixa procura por um modelo no varejo.
Foi assim que grande parte dos Peugeot 208 2021 e 2022 tiveram locadoras como primeiro proprietário. E também foi assim que o mercado de seminovos foi inundado por unidades do Peugeot 2008 Allure sem central multimídia, uma configuração que não existe no varejo.
Como reconhecer um carro de locadora?
Antes da mudança para a placa do Mercosul, era fácil reconhecer um carro de locadora, porque os carros com placa de Belo Horizonte (MG) circulando por outros grandes centros nem sempre eram de mineiros passeando pelo país.
Hoje, é preciso atentar às sequências das placas: GKJ 0001 a HOK 9999, NXX 0001 a NYG 9999, OLO 0001 a OMH 9999, OOV 0001 a ORC 9999, OWH 0001 a OXK 9999, PUA 0001 a PZZ 9999 e QMQ 0001 a QQZ 9999 são usadas por Minas Gerais. E locadoras costumam emplacar seus veículos lá devido ao IPVA menor: apenas 1%, só para elas.
Como fica a revenda?
Se há consumidor que tem preconceito, o mesmo não ocorre com a maioria dos lojistas independentes, que compram e vendem usados de locadora sem problemas.
Para manter o estoque alto e ter variedade de modelos, muitos recorrem às locadoras e compram grandes lotes para revendê-los.
“Se depender só de clientes que chegam à porta da loja, meu negócio não gira. Preciso captar carros no mercado e as locadoras oferecem boas oportunidades”, explica o diretor de uma rede de lojas de usados de São Paulo, que pediu para não ser identificado.
“O mesmo vale para o cliente que possui um carro que já foi de locadora. Se for bem cuidado e um bom negócio, coloco para dentro da loja como qualquer outro e pago o mesmo”, concluiu.
Como comprar um carro de locadora?
A compra de um carro seminovo de locadora deve seguir o mesmo ritual de um usado qualquer. É preciso analisar o interior à procura de riscos em plásticos e de manchas e rasgos nos bancos, verificar se todos os equipamentos funcionam e exigir manual do proprietário e chave reserva.
A carroceria não deve ter riscos profundos e peças com cor ou textura da tinta diferente. Veja se os vãos estão uniformes e se os parafusos de fixação não estão descascados, o que significa que a peça foi retirada.
É comum as locadoras trocarem pneus e rodas entre carros do mesmo modelo na sua frota. Confira se são da mesma marca e medida, inclusive estepe.
Se levar o carro ao mecânico, observe no elevador se há vestígios de terra e marcas no assoalho, o que significa uso em estradas de terra.
Na parte de documentos, solicite o número do Renavam e a placa do veículo escolhido e consulte o Detran em busca de multas ou restrições.
Também é interessante passar os dados do veículo a um corretor de seguros para ver se o valor da apólice não é muito alto e se o modelo tem aceitação pelas seguradoras.