O Drift é o esporte a motor que mais cresce no mundo todo e aqui no Brasil tem um dos maiores grids (número de carros competindo) de 2020. Para entender o fenômeno, QUATRO RODAS acompanhou as duas últimas etapas do Ultimate Drift, o campeonato brasileiro da modalidade que aconteceu entre os dias 20 e 22 de Novembro no Sambódromo de São Paulo.
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Quando você assiste a um esporte como o basquete, por exemplo, você espera sempre pelo momento mágico, que é a enterrada. É o momento mágico do esporte que nós espectadores adoramos. Tanto isso é verdade que existem campeonatos somente de enterradas.
Pois bem, se tentarmos aplicar essa teoria no automobilismo, podemos dizer que o Drift é, para o esporte a motor, o que é a enterrada para o basquete, pois é basicamente uma apresentação de controle da dinâmica do automóvel com uma tocada agressiva, com o carro escorregando por todo o traçado da pista.
O Drift começou no Japão com pilotos que se inspiravam em uma técnica usada nas corridas de turismo japonês para contornar a curva em maior velocidade. Eles deixavam a traseira escapar um pouco e contraesterçavam o volante, fazendo a tangência da curva no limite da tração (ou falta de tração) do carro.
O Drift como é praticado hoje em dia foi desenvolvido, de fato, nas corridas de ruas, especificamente nas montanhas japonesas. Em 1988 já havia campeonatos da modalidade no Japão.
A fama mundial veio com o sucesso do mangá Initial D, que era baseado nas corridas ilegais de montanha no Japão, e no Brasil ganhou força principalmente depois do filme Velozes e Furiosos – Desafio em Tóquio, lançado em 2006. Mas o esporte já era praticado por brasileiros que moravam no Japão e trouxeram a sementinha do Drift para cá muito antes de 2006.
Comparado a outras categorias do automobilismo, o Drift é muito democrático. Para praticá-lo, basta um carro com câmbio manual e tração traseira com diferencial blocado (que impede rotações diferentes nas rodas traseiras, fazendo com que o carro não faça curvas sem perder a tração nas rodas. Isso ocorre, pois não há diferença nas rotações das rodas interna e externa traseiras.
Para entender melhor, vale assistir ao clássico vídeo abaixo, que mostra o funcionamento do diferencial em um automóvel de rua.
Os carros que competem no Ultimate Drift são de todos os tipos e estilos. Vai do Chevrolet Chevette com motor VW AP, até um Mustang 1964 com motor Coyote V8 5.0 Supercharger com mais de 700cv. Os mais preparados tem suspensão alterada, freio traseiro hidráulico e acionado por uma alavanca alta para se aproximar do volante, e esterçamento maior das rodas dianteiras, fazendo com que o carro ande em um ângulo ainda maior.
Claro que um bom equipamento ajuda muito, mas em uma batalha qualquer um dos dois pilotos que vão para a pista pode ganhar. Ali quem faz (muita) diferença é o piloto. Já falaremos sobre isso.
Se você já está pensando em competir com seu carro, antes vale experimentar a modalidade em um simulador (com volante e um computador) e treinar muito nas pistas virtuais. Muitos dos pilotos profissionais da categoria usam simuladores e conseguem configurar no virtual todas as configurações de seus carros reais, e ainda testá-los nas pistas onde irão competir. Existe, inclusive, diversos campeonatos virtuais que formam muitos pilotos mundo afora.
Se prepare e prepare o bolso antes de ir para as pistas, pois o gasto de pneus é, talvez, o maior custo de uma competição de drift. Uma borracharia atendia todas as equipes, que gastavam um par de pneus traseiros a cada duas ou três voltas.
Aqui não tem corrida, tem Batalha
Para quem nunca acompanhou, um evento de Drift pode causar certa estranheza à primeira vista. Isso porque não se trata de uma corrida propriamente dita, onde o mais rápido ganha, e sim de uma apresentação de destreza ao volante, que se dá nas chamadas batalhas.
É quando dois competidores largam juntos fazendo drift ao longo da pista por duas voltas, alternando as posições. Quem vai na frente, tem que mostrar técnica, velocidade e agressividade superiores a quem está atrás, que tenta seguir o carro da frente colocando pressão na tentativa de se impor – e atrapalhar ao máximo.
Quanto mais próximo do carro da frente o carro de trás estiver, melhor ele será pontuado, pois mostra que ele esta conseguindo acompanhar ou até passar o carro da frente. Mas não pode bater, se bater é desclassificado.
O julgamento é feito por três juízes, que analisam o percurso feito pelo piloto por meio de marcações na pista. Umas determinam onde os carros precisam passar com as rodas traseiras e cones marcam pontos onde a frente do carro tem que apontar. Além disso, uma volta limpa e sem tantas correções, e a agressividade ao volante também contam na pontuação final.
Um dos modelos mais utilizados é o BMW Série 3 dos anos 1990. Ele vem praticamente pronto de fabrica, por ter tração traseira e câmbio manual, e é fácil de aumentar a potência do motor com um simples kit de turbina. Também é necessário adequar os carros para as normas de segurança exigidas pela CBA, como gaiola de proteção, extintores e chave geral.
Mas os tradicionais carros japoneses também estão presentes. Nissan Skyline, Mazda RX7 e o Nissan 350Z, um dos queridinhos do Drift mundial, dominam.
Saímos de lá impressionados com o nível de pilotagem e profissionalismo do Drift Brasileiro, e imaginando o Sambódromo lotado de espectadores vibrando a cada segundo durante as batalhas. Isso se não houvesse a pandemia, claro. Mas Ultimate Drift promete seis etapas para 2021.
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