As armas do novo Chevrolet Cruze para brigar com os japoneses
Fomos aos EUA para dirigir a segunda geração do Chevrolet Cruze, que aposta em design e desempenho para incomodar Civic e Corolla
O novo Cruze só deve ser lançado em junho, mas a Chevrolet não quis esperar até lá para mostrar sua novidade ao público. Enquanto ele fazia sua pré-estreia nas pistas com a nova cara da marca na Stock Car, vários protótipos rodavam pela ruas brasileiras levemente disfarçados posando livremente para as câmeras dos celulares. Diante desse cenário, resolvemos dar uma forcinha à GM: fomos até os Estados Unidos para ver como anda a nova geração do sedã que acaba de desembarcar por lá. O Cruze foi apresentado primeiro na China, em 2014, numa versão local. Meses depois, ganhou visual mais jovem (e atraente) após passar pelas mãos dos americanos e foi exibido ao mundo pouco antes do Salão de Detroit, em janeiro de 2016.
É esse o carro (com leves modificações no visual, calibração e oferta de equipamentos) que será produzido na Argentina a partir de maio e importada para nosso país no mês seguido. Nos EUA, o Cruze é oferecido em quatro versões de acabamento: L, LS, LT e a top Premier (esta última substitui a antiga LTZ). O sedã usado na nossa avaliação foi um exemplar cedido por uma concessionária de Fort Lauderdale, estado da Flórida.
Ao vivo, o Cruze impressiona mais do que nas fotos. O design com cantos retos foi trocado por um estilo mais esguio, deixando-o menos careta e mais esportivo. A frente ostenta um belo conjunto óptico acima de uma grande tomada de ar. Como seu antecessor, o Cruze possui falsas vigias nas colunas C, que reforçam a impressão de porte superior e ainda combina com a silhueta de cupê típica dos modelos mais recentes de sua categoria – como é o caso também do novo Honda Civic, que chega ao Brasil entre julho e agosto. Atrás, as lanternas se unem a vincos que terminam na base do para-choque. Nas versões mais caras, essa peça tem falsas saídas de ar, para dar um toque de agressividade. No geral, o resultado agrada aos olhos, embora sejam nítidas as semelhanças com rivais coreanos, como Hyundai Elantra e Kia Cerato, principalmente de longe.
Basta abrir a porta para notar um salto de qualidade frente ao antigo Cruze, mesmo nas versões básicas. A cabine é bem-acabada, com padrão de qualidade acima da média tanto de seu antecessor quanto do segmento dos sedãs médios no Brasil, onde ele perderia apenas para o Citroën C4 Lounge, atualmente a referência nesse quesito. Diante de Civic e Corolla, o novo Cruze parece pertencer a uma categoria superior, graças ao uso de plásticos menos rígidos e materiais agradáveis ao toque. Um detalhe, no entanto, causou estranheza: o freio de estacionamento acionado por pedal, que equipava a unidade avaliada. No Brasil, ele deve ser substituído por um sistema de acionamento elétrico por botão.
Boa interface
O painel tem design moderno, destacando a nova geração da central multimídia MyLink, que traz uma interface mais intuitiva, suporte para Apple CarPlay e Android Auto e tela central de 7 polegadas (como opcional nos EUA, há um monitor de 8 polegadas). Mas faltam nichos e porta-objetos maiores, oferecendo somente os tradicionais porta-copos. A modernidade da cabine em geral, porém, contrasta com o quadro de instrumentos, que tem uma aparência excessivamente simples. Ele permite fácil leitura das informações, mas empobrece o visual.
Nas dimensões, o sedã espichou quase 7 cm no comprimento, mas praticamente manteve largura (1,79 m) e distância entre-eixos (2,70 metros, só 1 cm a mais que antes). Mesmo assim, o aumento do espaço interno foi substancial. Só para as pernas dos passageiros traseiros o ganho foi de nada menos que 9,1 cm. O único porém é que quem viaja lá não pode ter mais de 1,80 m, senão bate a cabeça no teto, que é baixo por conta do perfil de sedã-cupê do Cruze.
O porta-malas também encolheu, de 450 litros para 440 litros. É o suficiente para uma família de quatro pessoas, mas um pouco abaixo dos concorrentes, como Civic (449), Corolla (470) e Jetta (510). E pode ficar ainda menor na versão comercializada no Brasil, já que o modelo americano traz um pneu de uso temporário (mais fino) no lugar do estepe comum, que costuma ser o padrão do mercado brasileiro.
Ecotec turbo
Ao contrário do Civic, que oferece o motor 1.5 VTEC turbo apenas nas opções mais luxuosas, todas as versões do Cruze sairão de fábrica com o novo motor 1.4 turbo Ecotec. Recheado de tecnologias como injeção direta de combustível e bloco de alumínio, ele não só ajudou o Cruze a ficar 113 kg mais leve como fez o desempenho evoluir significativamente. São 155 cv a 5.600 rpm e torque máximo de 24,5 mkgf disponíveis a apenas 2.000 rpm – o atual é menos potente (144/140 cv a 6.300 rpm) e dispõe de muito menos torque (18,9/17,8 mkgf a 3.800 rpm). Segundo os números da GM americana, a aceleração de 0 a 100 km/h do modelo vendido por lá é de 7,7 segundos – uma grande evolução diante dos 11,4 segundos do Cruze 1.8 atual.
Durante o test-drive que fizemos pelas largas ruas e estradas da Flórida, ficamos impressionados com o funcionamento do motor 1.4, que não padece da falta de disposição nas respostas que acomete alguns motores turbinados em rotações mais baixas. Sobra fôlego nas acelerações e retomadas, graças também ao eficiente câmbio automático de seis marchas com trocas rápidas e progressivas. É bom deixar a transmissão realizar seu trabalho sozinha, já que o confuso sistema de trocas sequenciais (realizado por um pequeno botão posicionado no topo da manopla) tira uma parte do prazer de dirigir do motorista.
Falando em dirigibilidade, o Cruze é equilibrado: apesar de não ser tão suave (nem tão confortável) quanto um Corolla, ele lembra mais o Jetta 1.4 TSI, um sedã bom de curva com tempero levemente esportivo, mas sem ser duro demais a ponto de incomodar os ocupantes.
Diante dos seus rivais nos EUA, o Cruze não fica devendo na lista de itens de segurança. Além do controle de estabilidade (obrigatório por lá desde 2012), o sedã traz câmera de ré (que será exigida pela lei local a partir de 2018) e nove airbags, sendo dois frontais, quatro laterais, dois do tipo cortina e mais um para proteção dos joelhos do condutor. No Brasil, porém, essa combinação deve ser oferecida apenas na versão topo de linha, cujo preço deve ficar acima dos R$ 103.000 – a versão básica deve partir de R$ 86.000. No mercado brasileiro, a Premier (que por aqui deve continuar a ser chamada de LTZ) terá tudo que o novo Cruze oferece de melhor, como a assistência eletrônica de presença de veículos na traseira do carro e alerta de colisão frontal. Esses itens também devem estar disponíveis na versão hatch, que estreia nos EUA só em outubro – e que pode já dar as caras no Brasil no Salão do Automóvel, no final de novembro.
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Mais refinado e moderno, o Cruze ganhou um bom armamento para brigar pela liderança com chances reais de pelo menos pleitear avice-liderança do segmento, o que igualaria o feito obtido pela atual geração nos primeiros meses de 2012. Não seria tão difícil se na sua frente não tivesse um “pequeno” problema. A nova geração do Civic chega logo depois, com o mesmo apelo de motor turbo (só na versão top) e design agressivo ao estilo cupê. Será que tem espaço para dois nesse campo de batalha?
VEREDICTO
Motor moderno e design sedutor fazem do Cruze um forte competidor. Se a GM apostar na relação custo-benefício, o sedã pode ter chances de brigar pelo topo com os japoneses.
* A avaliação completa e os números de teste do Cruze que será vendido no Brasil você confere na edição de junho da QUATRO RODAS. Não perca!
Preço: | a partir de R$ 86.000 (estimado) |
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Motor: | gasolina, transv., 4 cil., 1.399 cm³, 16V, turbo, injeção direta, 155 cv a 5.600 rpm, 24,5 mkgf a 2.000 rpm |
Câmbio: | automático, 6 marchas, tração dianteira |
Direção: | elétrica |
Suspensão: | McPherson (diant.)/ eixo de torção (tras.) |
Freios: | discos ventilados (diant.)/ sólidos (tras.) |
Pneus: | 215/60 R16 |
Dimensões: | comprimento, 466,6 cm; altura, 145,8 cm; largura, 179,5 cm; entre-eixos, 270 cm; peso, 1.330 kg |
Porta-malas: | 440 litros |
Tanque de combustível: | 46 litros |