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Uma volta pelo incrível Museu do Dodge no Brasil

Fiel à marca, empresário cria museu com nacionais em estado de zero quilômetro

Por Isadora Carvalho | Fotos: Fabiano Cherchiari
Atualizado em 4 jul 2021, 11h07 - Publicado em 30 ago 2012, 09h58
Museu do Dodge
Entre os mais de 40 carros, um de cada ano (Fabiano Cherchiari/Quatro Rodas)

No filme Meia-Noite em Paris, o protagonista Gil procura recriar e reviver tempos que ele não presenciou, mais precisamente nos anos 20, época em que seus grandes ídolos, como Pablo Picasso e Ernest Hemingway, entre outros, estavam começando a produzir as grandes obras que os tornariam mundialmente conhecidos.

Movido pela sensação de nostalgia, o empresário Alexandre Badolato, 42 anos, parece desempenhar esse mesmo papel. A diferença é que seus ídolos não são personalidades das artes e da literatura mundial, mas importantes ícones da história nacional dos automóveis.

Eles são os Dodges produzidos entre 1969 e 1981 pela Chrysler do Brasil, referências de conforto e potência da indústria automotiva.

Para se manter mais próximo dessa época, Badolato começou a colecionar os modelos da marca. “Essa foi a maneira que encontrei para preservar a memória desses carros que foram tão importantes na história nacional.”

Alexandre Badolato, empresário e fundador do Museu do Dodge
Alexandre Badolato, empresário e fundador do Museu do Dodge (Fabiano Cherchiari/Quatro Rodas)

Desde a primeira vez que viu e andou no Dodge do avô, um Dart sedã 1979 bege, Badolato se apaixonou pelo design e pelo característico e inesquecível som do motor V8.

Assim que completou 18 anos, não pensava em outra coisa que não fosse comprar um Dodge. E conseguiu. “Comprei um Le Baron 1981 com 19 anos, graças à ajuda do meu pai, mas queria mesmo comprar um Charger R/T, o que só consegui após alguns anos.”

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Essa primeira experiência foi um pouco traumática. Por problemas mecânicos recorrentes, teve de vender seu primeiro Dodge. Comprou então o sonhado Dodge R/T ano 1979, que ficou como “filho único” por sete anos, até a compra do Dodge Charger R/T 1972, em 1999.

O modelo teve de esperar por um período de dez anos encostado até passar pelo processo de restauração, em 2002.

O Dodge Charger R/T 1979 tinha rodas de liga leve
O R/T 1979 tinha rodas de liga leve (reprodução/Divulgação)

A partir daquele ano, Badolato assumiu de vez a condição de antigomobilista e começou a comprar outros modelos Dodge para restaurar. “Meu sonho era ter uma pequena coleção de Dodge, mas, depois que fiquei conhecido na área, os carros é que me encontravam. Após um ano, já estava com oito carros”, diz ele.

Para conseguir guardar seu acervo, ele comprou um galpão no Ipiranga. Com o crescimento de sua frota, mudou para um lugar ainda maior, em Santo Amaro, bairro da zona sul de São Paulo. Segundo o empresário, comprar era até fácil diante do problema da restauração dos Dodge.

“Apanhei muito no início e tive de ajudar a especializar alguns profissionais em restauração. Só assim fiquei mais tranquilo.” Em 2004, Badolato já tinha funcionários de funilaria e pintura totalmente dedicados a seu acervo: “Faço questão da mesma cor e textura da época”.

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Com a intenção de preservar e resgatar a história da Chrysler no Brasil, o antigomobilista criou um portal reunindo as principais informações da marca. Foi com o site www.museudodge.com que surgiu o desejo de montar um museu físico, já que seu acervo contava com 40 unidades.

O prédio do Museu do Dodge, inaugurado em 2010, já está lotado
O prédio do Museu do Dodge, inaugurado em 2010, já está lotado (Fabiano Cherchiari/Quatro Rodas)

De acordo com Badolato, depois que lançou o site, em 2005, começou a ser procurado por ex-funcionários da Chrysler. “Eles queriam me entregar documentos e fotos da fábrica que, após o encerramento das atividades, teve a maioria dos seus registros perdidos”, diz ele, citando como exemplo um ex-funcionário que guardou por mais de 30 anos documentos que iam ser jogados no lixo na época do fechamento.

Nasce um museu

O colecionador decidiu comprar uma propriedade no interior de São Paulo para construir seu museu. “Comprei um terreno a 150 km de São Paulo, próximo a Campinas, e lá comecei a projetar o que hoje é o Museu do Dodge”, afirma.

Logo depois da aquisição do local, conheceu e começou a namorar a engenheira civil Luciana, atualmente sua esposa. Ela idealizou toda a concepção do projeto do museu, inaugurado em abril de 2010.

Museu do Dodge
Após o restauro, os carros ficam como se tivessem acabado de sair da fábrica (reprodução/Divulgação)

Entrar no museu é como voltar aos anos 70, quando esses modelos eram verdadeiros sucessos de vendas.

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“Na restauração, sempre tenho a intenção de deixar o modelo como se estivesse em exposição na concessionária. Por isso tenho muito cuidado com o acabamento, em especial com a pintura. A maior parte dos meus carros está em pleno funcionamento e foi rodando até lá. Minha intenção não é preparar os carros para a imobilidade”, afirma Badolato.

Se o visual parece ser o de uma concessionária, a organização é a de um verdadeiro museu de automóveis. Enfileirados, os Dodge estão organizados por ano de fabricação e modelo. De um lado ficam os Charger, do outro os Dart.

É possível acompanhar a evolução dos modelos ao longo de 11 anos de fabricação. “Já tenho um representante de cada ano, incluindo a primeira carroceria fabricada, um Dart 1969, e exatamente o último modelo a sair da linha de montagem, um Dart 1981.”

O primeiro Dodge Charger R/T produzido
O primeiro Charger R/T produzido (reprodução/Divulgação)

Para conseguir a façanha de encontrar exatamente o ultimo modelo, Alexandre precisou de paciência e uma boa dose de sorte. Localizou, com a ajuda dos ex-funcionários da fábrica, a foto dos empregados com o que seria o último carro da linha.

“Com o número de série do Dodge da foto descobri que, depois daquele, haviam sido produzidos mais 15 carros. Lá fui eu, de novo, em busca do último.” Ele localizou no DPVAT o número final de chassi, o 93008, e descobriu que ele foi licenciado em Brasília. Tratou de acionar um amigo da cidade, outro apaixonado por antigos, para localizar o carro.

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“Em dois dias ele o encontrou abandonado no fundo de uma oficina em Sobradinho (DF), sem mecânica. Apenas carroceria, diferencial, suspensão dianteira e uma gaiola de tubos no interior”, afirma o empresário, que descobriu que o veículo havia passado seus últimos anos em um show chamado Firenight, em que tinha que dar cavalos de pau e andar em duas rodas.

O último Dodge, um Dart 1981, foi encontrado sem capô e mecânica
O último Dodge, um Dart 1981, foi encontrado sem capô e mecânica (reprodução/Divulgação)

Badolato também fez questão de correr atrás dos modelos Dodge que fizeram parte da sua juventude, entre eles o Dart Sedan 1979 que foi do avô e seu primeiro carro, o Le Baron 1981. “Claro que não foi tarefa fácil, mas sempre acreditei que iria encontrá-los”, diz com satisfação.

Segundo ele, todos os carros têm uma trajetória particular. Mas, logicamente, existem as mais curiosas, que resolveu reunir no livro Dodge, História de uma Coleção. “A primeira edição, com dez histórias, fez tanto sucesso que decidi lançar o segundo livro com mais contos”, diz Badolato.

Os livros tiveram grande repercussão entre os antigomobilistas. Dois deles foram influenciados pela paixão de Badolato e criaram minimuseus do Dodge. “O mais bacana é que foram feitos no mesmo estilo do meu. Fiquei muito lisonjeado.”

Dodge Dart 1971
O Dart 1971 foi o primeiro cupê (reprodução/Divulgação)

Toda semana o empresário recebe dezenas de pedidos de pessoas interessadas em visitar o espaço, mas ainda não é possível atender a todos. Ele pretende, no futuro, agendar visitas mensais e também planeja uma ampliação do galpão. Afinal, com os 40 carros prontos e ali expostos, não há mais espaço para receber os outros 30 que estão em processo de restauração. “Comprei o terreno pensando na possibilidade de ampliá-lo, pois já imaginava que meu acervo cresceria mais.”

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Badolato é totalmente fiel à marca e só usa modelos Chrysler. “Em 2010, importei um Dodge Challenger que utilizo para visitar minha família no interior de São Paulo nos fins de semana. O veículo que uso no meu dia a dia é um Chrysler 300 M 1999, que apelidei de ‘valet car’, ou seja, um carro que posso deixar nas mãos dos manobristas sem me preocupar com riscos e amassados.”

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