Financiamento: entenda porque o juro zero não existe
A taxa zero só dá as caras no papel. Na prática, ela está bem escondida
Vamos ser diretos: juro zero não existe. É uma das formas mais comuns do “me engana que eu gosto” tão arraigado no comércio, inclusive no de veículos novos e usados, para atrair os incautos.
Às vezes nem um negócio de pai para filho prevê emprestar R$ 1.000 para pagar daqui a seis meses pelo mesmo valor.
“Daí vem uma pergunta bem simples: você emprestaria dinheiro para alguém de quem nunca ouviu falar, não conhece nem por indicação, em 15 vezes sem cobrar juros? Imaginem instituições saudáveis realizando parcelamentos dentro dessas condições e dividindo os valores pelas quantidades fixas que os clientes devem pagar”, comenta o youtuber Reinaldo Domingos, que comanda o canal Dinheiro à Vista e é doutor em educação financeira, presidente da Abefin (Associação Brasileira dos Educadores Financeiros) e autor de diversos livros sobre o tema.
A pegadinha da taxa zero está no desconto na compra à vista. Ou melhor, a falta de desconto.
Como funciona: o juro 0% anunciado é sempre calculado em cima do preço de tabela da fábrica. Mas se o interessado decidir pedir um desconto para a compra à vista, vai descobrir que o vendedor está disposto a fazer um abatimento de 10%.
Bingo: é aqui que estão os juros embutidos.
Custos ocultos
As concessionárias que oferecem a dita “taxa zero” ainda recorrem a outro artifício: esse plano de financiamento é oferecido em circunstâncias mais restritas.
Em geral, elas exigem uma boa entrada – algo como 40% a 60% do total do carro – combinada a um número reduzido de parcelas, normalmente até 12 meses.
Mesmo uma parcela inicial para pagar só daqui a 30 dias também prevê uma taxa embutida. O antídoto para isso é paciência na negociação e tempo para pesquisar.
Portanto, o primeiro passo começa em casa, buscando na internet as principais ofertas para o modelo que você quer e as diferentes opções de financiamento.
A segunda etapa na busca do que for mais próximo do “juro zero” é ir para a rua para comparar entre três e cinco lojas e negociar ao vivo com o vendedor.
Uma delas terá de lhe conceder o correspondente dos juros embutidos em forma de desconto – algo geralmente entre pelo menos 5% e 10% no pagamento à vista.
Quer dizer que juro zero é mentira na cara dura? “Bem, digamos que seja uma forma de vender de modo a deixar a loja menos exposta, ou seja, de forma que o consumidor vai chiar menos”, explica Domingos.
Para ele, o brasileiro sabe que existem os juros – daí o “engana que eu gosto” –, mas não tem disposição (entenda-se por tempo e paciência) para buscar o menor preço.