Os truques da Renault para o Kwid custar R$ 32.490
Subcompacto abriu mão de itens banais para garantir o preço atrativo. Será que vão fazer falta?
Henry Ford inventou a linha de montagem para reduzir o tempo e o custo de fabricação de seus automóveis. A novidade estreou em 7 de outubro de 1913. E desde então a indústria continua atrás de novas formas de fazer automóveis mais baratos.
O Renault Kwid está cheio de bons exemplos de como fazer isso. São seus segredos para ter preço inicial de atrativos R$ 32.490.
Esse é o valor da versão Life, que vem de série com airbags dianteiros e laterais (algo que nenhum de seus concorrentes oferece nem sequer como opcional), mas… e o quais são os outros atrativos?
Bem, é mais fácil falar do que ele NÃO tem!
Companhia das Índias
Na hora de cotar as peças com fornecedores, levou quem cobrou menos. E a negociação foi feita por uma equipe independente da Renault do Brasil para evitar favorecimentos. Resultado: 40% dos componentes do Kwid montado no Paraná é importado da Índia, onde o modelo é vendido desde 2016.
Mesmo com o custo de transporte, logística, cotação do dólar desfavorável e imposto aduaneiro de 30% jogando contra, sairia mais barato trazer lotes e lotes de componentes do país asiático.
E boa parte destas peças são exclusivas do carro brasileiro.
Encosto inteiriço
A estrutura dos bancos está entre as peças que vêm da Índia. Os encostos dos bancos dianteiros são inteiriços – ou seja, o encosto de cabeça faz parte do encosto do banco.
Sai mais barato fazer um banco assim, com menos peças. Não à toa, Fiat Mobi e Volkswagen Up!, dois dos principais concorrentes do Kwid, lançam mão da mesma estratégia.
Motor mais simples
Enquanto Logan e Sandero usam o motor 1.0 SCe três cilindros de 79/82 cv e 10,2/10,5 mkgf, o Kwid usará uma configuração mais fraca – com 66/70 cv e 9,4/9,8 mkgf.
O culpado desta diferença é o cabeçote: o Kwid tem comandos simples, enquanto os Renault maiores têm comandos variáveis para admissão e escape – tecnologia que encarece o propulsor.
Mesmo assim, será econômico: a Renault divulga médias 15,2 km/l com gasolina e 10,5 km/l com etanol em trecho misto.
Retrovisor interno não tem função dia/noite
Retrovisores internos fotocrômicos (que escurecem o espelho para reduzir o reflexo dos faróis dos carros atrás) ainda são considerados luxo.
A questão é que o Kwid Life não terá nem mesmo a alavanca para escurecer manualmente o espelho. É item restrito aos pacotes mais caros.
Regra de três
Já explicamos que não há nenhum impedimento técnico em usar somente três parafusos nas rodas. Mais do que alegrar donos de Ford Corcel, a medida ajuda a reduzir custos – são quatro peças a menos em cada carro.
Mas isso pode gerar uma certa dificuldade no futuro, pois o mercado de acessório para rodas de três furos no Brasil é quase inexistente – nos últimos tempos, o Smart Fortwo era um dos poucos modelos a ter esse artifício.
Ponteiro a menos
Parece preciosismo, saudosismo ou outros “ismos”, mas o conta-giros (tacômetro) faz falta. Quem estiver em qualquer Kwid que não seja o topo de linha precisará de ouvidos treinados para saber quanto de reserva de potência ainda tem em uma ultrapassagem.
E aqui a economia é basicamente a do relógio com ponteiro no painel, pois a injeção eletrônica sempre “sabe” em qual rotação o carro está.
Olho nos centavos
Nessa faixa de preço cada centavo conta. Então a Renault economizou alguns metros de fiação ao não oferecer luz interna no porta-malas e preparação para som para apenas dois alto-falantes, na dianteira.
Na ponta do lápis também entra o tecido economizado com a retirada do porta-revistas, nas borrachas de vedação apenas no batente das portas e no uso de arame para fixar as coifas das juntas homocinéticas, em vez de abraçadeiras metálicas.
Traseira molhada
Não se engane: muitos equipamentos só estão presentes em carros populares porque são obrigatórios por lei. Como não há exigência governamental, por quê colocar limpador e lavador do vidro traseiro?
Esse artifício é um velho conhecido da escola dos carros populares, fonte do qual a Renault nem bebeu tanto: o Kwid vem de série com desembaçador elétrico, item essencial em dias de chuva, mas ausente de outros rivais.
Pneus gringos
Os Kwid das fotos, bem como as unidades cedidas para testes com a imprensa, são calçados com pneus Continental ContiEcoContact 3, que na medida 165/70R14 custam entre R$ 270 e R$ 310, cada.
Mas os carros vendidos, como nossa unidade do Longa Duração, usam pneus JK Tyre Vectra, indianos, que custam R$ 200 cada. De acordo com a Renault, os dois pneus são homologados para o modelo e cumprem suas exigências.
Trabalhador solitário
Entra na mesma conta dos parafusos: menos (componentes) é mais (economia). E nem dá para criticar, pois a Toyota faz a mesma coisa em todas as versões do Etios – que chega a passar dos R$ 70 mil.
Como no hatch japonês, ao menos a Renault adicionou um mecanismo pantográfico ao braço do limpador, solução que amplia a área de cobertura da palheta e reduz a velocidade de sua extremidade (evitando a onda de água que o antigo Uno jogava em operadores de pedágio em dias de chuva).
Estado sólido
Engenheiros são pessoas práticas: se não precisa, por quê colocar? discos de freio ventilados também são mais pesados e caros. Só que aqui a economia de usar discos sólidos impacta diretamente na segurança.
Por mais que possam entregar desempenho similar em provas de frenagem individuais (até porque o Kwid pesa apenas 790 kg), discos sólidos são mais suscetíveis a fading e podem provocar sustos em viagens com o carro carregado em descidas de serra.
O que o Renault Kwid tem, afinal?
Por R$ 32.490, a versão de entrada Life tem airbags frontais e laterais (quatro no total), Isofix, fiação para instalação de rádio, desembaçador do vidro traseiro, ajuste interno dos retrovisores, para-choques pintados, maçanetas e retrovisores pretos, abertura interna do porta-malas, cintos dianteiros com ajuste de altura e encostos de cabeça laterais traseiros.
Pelo menos por enquanto, não há opcionais.
Em seguida está a versão Zen, de R$ 36.990. Soma ar-condicionado, direção elétrica e limpador traseiro, vidros e travas elétricas, retrovisor interno com função dia/noite, revestimento no porta-malas, alerta de luzes acesas, alças traseiras e dois alto-falantes. Rádio 2-din com Bluetooth é o único opcional de R$ 400.
A versão mais cara, Intense, soma faróis de neblina, retrovisores e maçanetas na cor da carroceria, computador de bordo, conta-giros, apoio de cabeça central na traseira, bolsas porta-revista atrás dos encostos dianteiros, rodas de liga aro 14″, rádio 2-din e luz interna dimerizada.
O detalhe é que a Renault só anunciou o preço da versão Intense com o pacote opcional “Connect”: R$ 40.990. O que ela tem a mais é a central multimídia MediaNav, câmera de ré, porta-malas com abertura elétrica, grade cromada, retrovisores com capa preta e ajuste elétrico, maçanetas internas cromadas, detalhes internos exclusivos e rodas aro 14″ escurecidas.
O Renault Kwid tem 3,68 m de comprimento, 1,59 m de largura, 1,47 m de altura e 2,42 m de entre-eixos, com porta-malas de 290 l. Em comparação com o VW Up!, é 1 cm mais curto, 5 cm mais estreito, 3 cm mais baixo e tem o mesmo entre-eixos, com porta-malas 5 l maior.
O Kwid tem altura livre do solo de 18 cm, contra 16 cm do Volkswagen. Para comparação dentro de casa, o Sandero Stepway tem 18,5 cm e o Duster, 21 cm de vão livre.