Pré-venda: vale a pena comprar carro antes de ele chegar na loja?
Clientes pagam por lançamentos que ainda nem chegaram ao show room. Comprar antes dos outros garante alguma exclusividade, mas a prática tem seus riscos
Tem gente que faz questão de estar entre os primeiros a adquirir certos produtos – são os early adopters.
A expressão em inglês se refere a essas pessoas que fazem esforços para garantir o item, como passar a madrugada na fila da Apple Store à espera do último iPhone ou se degladiar com outros consumidores pela última geração do PlayStation.
No caso de carros, você pode garantir os primeiros chassis daquele lançamento da moda entrando na pré-venda. Isso satisfaz quem gosta de exclusividade. Mas também traz riscos. O primeiro deles é em relação ao preço: os primeiros da fila podem pagar mais caro.
Quatro casos recentes provam o sucesso da pré-venda. O primeiro é o Renault Kwid, que precisou de um reforço no lote inicial (de 2.000 unidades) e de uma prorrogação no período devido às mais de 7.000 encomendas de clientes que nem sequer viram o modelo ao vivo.
Na VW, o novo Polo acumulou cerca de 4.000 encomendas em um mês, enquanto 450 Amarok V6 esgotaram em menos de 24 horas.
Ainda mais rápido foi o estoque de 50 Peugeot 3008, que acabou em duas horas – só os da cor cobre foram vendidos em menos de 30 minutos. Os primeiros clientes foram presenteados com um patinete elétrico.
Ninguém duvida: ter um carro que pouca gente tem é legal. E as séries especiais de lançamento costumam ser bem equipadas e vir com alguns diferenciais, como na Amarok. No entanto, há suas desvantagens.
No lançamento oficial podem ocorrer (bons ou maus) reajustes nos pacotes de equipamentos, anúncio de novas versões e, nos primeiros meses de venda, problemas de produção com convocação de recall.
No caso do Kwid, por exemplo, a Renault convocou todas as unidades para um recall no sistema de combustível e nos freios, o que afetou as entregas do modelo logo após o lançamento.
Na sequencia, outros recalls foram anunciados – o que levou os clientes pelo menos quatro vezes de volta (e de forma compulsória) às revendas.
Quando foi lançado, o Fiat Mobi contava com motor 1.0 de quatro cilindros – menos eficiente do que o Firefly de três cilindros, lançado oito meses depois.
Ou seja, quem comprou o Mobi quatro-cilindros ficou com um veículo do mesmo ano-modelo de outros clientes com um carro igual, porém com motor melhor. E, sem dúvida, isso tem impacto no valor de revenda.
Uma estratégia muito utilizada pelas marcas é o de reajuste de tabela logo após a estréia: eles começam baixos e aumentam meses depois seu valor.
Foi o que aconteceu com o Jeep Compass. Seis meses depois do lançamento, a marca reajustou o preço duas vezes. O mesmo aconteceu com o Renegade: lançado em março de 2016 por R$ 69.900, registrou o seu sexto aumento por R$ 82.990, na versão Sport 1.8 flex.
A Fiat usou a mesma estratégia com o Mobi, depois de seis meses reajustou seu preço. Hyundai Creta e Nissan Kicks também, todas suas versões sofreram reajustes em menos de um ano de mercado.
Comprar sem ver
O pior problema da compra na pré-venda é a possível decepção com o modelo por nunca tê-lo visto ao vivo.
Há uma série de detalhes que podem provocar desencanto, seja o design, acabamento, espaço… ao sair da loja, até de dirigibilidade.
O Renault Kwid também foi a estrela da vez nesse caso. Em grupos do Facebook criados pelos interessados pelo modelo, clientes reclamavam de espaço, muito menor do que imaginavam. Outros se queixaram de que o carro era muito mais simples do que a propaganda sugeria.