Acompanhamos o Rally dos Sertões em expedição à cidade do ET Bilu
Instituição que comanda a Cidade Zigurats também afirma ter descoberto a cidade perdida de Ratanabá e fazer pesquisas com buracos negros
Quem vem de longe para o Rally dos Sertões espera encontrar muito calor em Mato Grosso do Sul, mas a manhã do dia 30 de agosto estava fria a ponto de apressar a partida da Expedição. A parte turística do maior rali do mundo já teve sua estrutura contada aqui no site, mas, a quem duvida do caráter desbravador dos Sertões, uma visita ao “pedacinho” de espaço sideral no coração do Brasil pode dar melhor dimensão da aventura.
O município de Corguinho fica a 120 km de asfalto de Campo Grande, mas, a bordo de uma Nissan Frontier 4×4, a reportagem acompanhou o grupo de desbravadores ocasionais à Cidade Zigurats, o grande destaque local. Nessa pequena vila de Corguinho, moram os seguidores de Dakila, um misto de ideias, filosofia e religião que se tornou mais conhecido por nos apresentar ao ET Bilu.
O pretenso extraterreste ficou famoso em 2010, quando a TV Record foi à cidade entrevistá-lo. Na época, Zigurats era conhecida como Projeto Portal, mas o mesmo local que rumava a caravana é onde o “ser espacial” nos disse para buscar conhecimento em horário nobre de domingo.
Caminho mágico
Logo na saída, o líder da Expedição, Renato Perotti, avisa no rádio: “evitem brincadeiras quanto ao ET”, afinal de contas, uma das apoiadoras da etapa sul-mato-grossense do rali, a 067 Vinhos, pertence ao Ecossistema Dakila: uma espécie de holding que é dona não apenas da vinícola (que produz a bebida com uvas gaúchas) e da Cidade Zigurats, mas de uma empresa de consultoria para comércio exterior nos Emirados Árabes, um depósito de material de construção, um instituto de pesquisas e um banco, dentre outros.
Ainda que a cidade das casas de telhado semiesférico deixe todos ansiosos, logo isso fica em segundo plano, pois a estrada de chão traz junto as paisagens de cinema. Após alguns minutos em trilhas rurais, a expedição se “enfia” na serra de Maracaju, com paredões que separam o Pantanal, a oeste, do lado mais habitado do Mato Grosso de Sul, de onde viemos.
No pé da serra, os quilômetros de Jeep Wrangler, Troller T4, um Renegade e todos os tipos de picape média possível têm que parar. Isso porque, ao cruzar uma baixada que fica em uma fazenda, um mar de vacas e seus filhotes atravessam nosso caminho. Novamente uma cena de filme, com estética pouco óbvia para quem pensa em Brasil.
Com todo o grupo inspirado pelo momento, é a vez do representante de Dakila na expedição pedir a palavra. Afinal de contas, ao cruzarmos o início da serra já entraremos em Zigurats. “O Urandir [Fernandes de Oliveira, fundador de Zigurats] sonhou várias vezes que deveria fundar sua cidade nesse local”, conta o guia.
“Quando ele conheceu o vendedor do terreno, ele o disse que também havia sonhado que venderia a área para alguém como o Urandir”. Mesmo pedindo sete vezes mais do que o líder tinha à disposição, o vendedor fechou negócio.
Os quilômetros seguintes então são percorridos em trilhas muito bem calculadas, capazes de divertir os condutores sem estragar o passeio dos ocupantes. Um veículo 4×4 em boas condições é capaz de chegar ao morro de onde vemos as primeiras construções, antes de chegarmos ao portal onde o grupo de exploradores faz sua foto-registro.
Fé acima de tudo
Os habitantes da Cidade Zigurats nos recebem com muita simpatia e calma nas palavras. São homens e mulheres de diferentes faixas etárias, que sempre frisam como a ida ao interior do MS os trouxe paz e entendimento de questões da vida.
Também somos avisados que ali há o “epicentro da anomalia magnética do Atlântico Sul”; na prática, isso significaria que nossos pedidos têm mais chance de se realizarem casos pensemos neles ali.
A simpatia dos guias não é quebrada nem quando o ET Bilu é citado em provocação. Seus membros, inclusive, tratam a aparição na TV Record como se não houvesse debate de que aquilo realmente era um alienígena de voz fina falando em português.
O único momento em que respostas evasivas são dadas, na verdade, é quando alguém pergunta de onde vem o sustento de tudo aquilo. Sem detalhes, a líder do tour cita todas as empresas da Dakila como fonte de renda coletiva.
Zigurats é literalmente uma cidadezinha, e em suas ruas nota-se casas mais chiques e outras menores. Todas, entretanto, trazem a semiesfera no telhado, que, segundo a Dakila, é um resgaste de técnicas de construção da natureza e de povos antigos, capaz de façanhas que vão de melhorar o sono dos seus moradores a resistir até o ano de 5600.
Toda infraestrutura da cidade busca reaproveitar água e luz, e o mesmo valerá ao grande projeto da vez: uma pirâmide de 63 m de altura. Ela será a suprema demonstração de um zigurate: templo em forma de pirâmides com degraus que foram inventados pelos povos Sumérios.
A reportagem teve acesso ao maior zigurate já feito lá, com cerca de 9 m de altura — exatamente sete vezes menor que a nova pirâmide, sempre por questões de numerologia. Dentro da pirâmide nada se parece com o que imaginamos encontrar: na verdade, seus três andares são basicamente uma casa comum, que antes era habitada por Urandir e, em breve, será alugada para turistas.
Pesquisas “científicas”
Após o tour, seguimos a um outro vilarejo do grupo, esse voltado para a recepção dos turistas e atividades de recreação. Lá também fica a sede da Dakila Pesquisas, que afirma estudar coisas capazes de modificar o Modelo Padrão — espécie de “supertabela periódica” que descreve a “receita” de absolutamente tudo no Universo.
Ao mesmo tempo que Dakila estuda, através de revelações e métodos próprios, fenômenos como campos gravitacionais, cientistas do Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser, nos EUA, estudam a mesma coisa, investindo milhões de dólares em equipamentos que elevam os limites da tecnologia humana.
A suposta cidade perdida da Amazônia também foi “descoberta” pelos pesquisadores de Dakila. O grupo utilizou um avião equipado com Lidar para revelar o que seriam ruas e avenidas de uma metrópole “maior do que São Paulo” perdida sob a mata. Geógrafos ouvidos pelo G1, entretanto, disseram se tratar de formações naturais conhecidas há tempos.
Nada disso, porém, é o assunto do almoço de terça-feira. Felizes e confiantes, os membros de Dakila servem uma saborosa galinhada com feijoada. Durante a refeição, tiram um tempo para explicar suas crenças e reforçar que não se importam nem um pouco com quem pensa diferente.
É um clima tão tranquilo que mesmo quem está perplexo com tamanha ambição não tem ânimo para discutir. De barriga cheia e sob sorrisos largos, a Expedição do Rally dos Sertões vai embora durante a tarde, em uma trilha bem fechada e divertida.
Enquanto anoitecia e a turma seguia para Costa Rica (MS), cada família deve ter discutido suas impressões do tour, como a dupla de QUATRO RODAS na Frontier. Ainda que, por unanimidade, tenhamos discordado das pretensões científicas, é impossível não olhar pelo retrovisor de vez em quando, de olho em algum disco voador na rota de pouso em Corguinho.