Audi pode abandonar fábrica no Brasil por calote milionário do governo
Estado promete restituição de R$ 289 milhões às marcas alemãs desde 2012, quando passou a valer o programa Inovar-Auto
A Audi pode abandonar a fábrica de São José dos Pinhais (PR) – que deixará de produzir o A3 Sedan em dezembro deste ano – caso o governo brasileiro não pague a dívida que já tem há cerca de oito anos, quando começou a valer o programa Inovar-Auto.
Em entrevista ao Automotive Business, o CEO da empresa, Johannes Roscheck, garantiu que o pagamento “é simbólico”, mas essencial para garantir novos investimentos no país junto à matriz e trazer a produção de um novo projeto à unidade paranaense.
Na reportagem, Antonio Calcagnotto, diretor de relações institucionais e sustentabilidade da Audi do Brasil, afirmou que, nos dias atuais, o calote do Estado com as marcas alemãs (considerando também as rivais BMW e Mercedes-Benz) é de R$ 289 milhões.
Esse valor diz respeito à tributação adicional recolhida de veículos importados dos países fora do Mercosul – com sobretaxa de 30%, foi apelidado de Super IPI. Naquela época, a promessa era devolver a diferença às empresas que nacionalizassem a produção.
“Esse tem sido o nosso principal tema de negociação. Não queremos nenhum incentivo, só que esses recursos sejam restituídos. Mesmo que em dez anos. Seria um compromisso importante para mostrar à matriz”, afirma Cacagnotto ao Automotive Business.
No caso da Audi, os modelos A3 Sedan e Q3 passaram a ser fabricados aqui em 2015, na unidade compartilhada com a Volkswagen no Paraná, após investimentos de 175 milhões de euros. Vale lembrar que o SUV deixou de ser feito no país no início de 2019.
E, por enquanto, não há previsão de pagamento para a dívida, já que o Inovar-Auto parou de valer em 2017 e, no programa atual Rota 2030, instituído durante o governo de Michel Temer, não nenhuma citação à devolução prometida às marcas anteriormente.
De acordo reportagem do Estadão, o ex-presidente enviou ao Congresso um projeto de lei que estabelecia o pagamento da dívida com prazo máximo de cinco anos. Entretanto, esse projeto segue parado até agora na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
Já o ministro da Economia, Paulo Guedes – que, durante a gestão do atual presidente Jair Bolsonaro, afirmou que não pagaria dívidas de governos anteriores –, chegou a prometer a restituição em uma década. Mas, há pelo menos um ano, não retoma o assunto.
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