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Brasil tem poucos carros novos à pronta-entrega e espera chega a 200 dias

A crise dos semicondutores, a recessão econômica e a pandemia da Covid-19 resultaram em pouca oferta de carros para pronta-entrega e longas filas

Por Pedro Henrique Oliveira, João Vitor Ferreira
Atualizado em 10 dez 2021, 14h15 - Publicado em 11 nov 2021, 12h01
frontier
Nem modelos importados, como a Frontier, escapam da escassez (Christian Castanho/Quatro Rodas)
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Quem quiser comprar um carro novo antes que o ano acabe precisará ou procurar bastante ou conter a ansiedade. QUATRO RODAS entrou em contato com concessionárias de 11 fabricantes em São Paulo, Belo Horizonte e Brasília para mapear quais modelos podem ser encontrados à pronta-entrega — e as notícias não são nada boas.

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Carros que estão na moda ou que foram lançados recentemente são os mais raros. Outros têm procura tão maior que a oferta que quem fizer o pedido poderá recebê-lo apenas depois da próxima Páscoa, em abril de 2022.

Para este levantamento, contatamos seis concessionárias de cada marca, duas de cada cidade. A exceção é para a GM, pois as duas concessionárias consultadas em Brasília não nos responderam. 

Chevrolet

Quando há algum Cruze disponível, é o hatch. Uma concessionária da marca em São Paulo disse não ter um Onix sequer na loja. Em outras, a recorrência foi da versão intermediária LTZ, tanto do hatch quanto do sedã. Mas um vendedor confidenciou que o modelo mais procurado hoje é o Tracker e, por consequência, também tem maior fila de espera. Quando encontramos o SUV, era na versão LT. O mesmo vale para a picape S10.

Em nenhum dos contatos o Joy (a geração passada do Onix) foi sequer citado pelos vendedores. De acordo com uma vendedora, não há previsão de retorno do modelo. Procurada, a General Motors falou que a disponibilidade depende da concessionária, mas que todos os modelos do catálogo podem ser pedidos. 

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Chevrolet Onix Joy Black 2020
Embora o modelo mais procurado seja a Tracker, o Joy é o modelo que menos aparece nas concessionárias da Chevrolet (Divulgação/Chevrolet)

Citroën

Talvez por, atualmente, só ter um automóvel no catálogo, o C4 Cactus, a Citroën esteja em uma situação relativamente mais tranquila. Em todas as cidades consultadas o SUV compacto tem unidades disponíveis à pronta-entrega. Mesmo assim, algumas configurações podem ter espera de até 60 dias.

Citroën C4 Cactus.
Citroën C4 Cactus (Divulgação/Citroën)

Fiat

Entre as marcas consultadas, a Fiat apresentou maior consistência na disponibilidade dos modelos. Em relação ao Mobi, alguns pontos de venda não têm expectativa de  receber mais unidades ainda em 2021. Versões do Argo, da picape Toro e do Cronos estão disponíveis nas três cidades.

Raridade é a picape Strada, dada como o modelo mais procurado pelos clientes. Uma concessionária de Brasília disse que só vende a picape por encomenda e que “são muitos pedidos e a montadora não consegue acompanhar”. Isso não é novidade: a própria Fiat mostrou em seu site que há espera de até 180 dias

Longa Strada
Líder de venda entre as picapes, a Strada parece estar indo tão bem que a montadora não está dando conta de acompanhar os pedidos (Henrique Rodrigues/Quatro Rodas)

Hyundai

É recorrente entre os vendedores que a Hyundai está apenas trabalhando com pedidos, sem estoque. A exceção foi para o Creta Action 1.6, ainda da geração passada e que segue em produção. Ainda assim, os carros que chegam são vendidos rapidamente.

Por outro lado, a nova geração do Hyundai Creta tem o maior tempo de espera: 120 dias, em média. O HB20X também está em falta, normalmente com uma espera de 90 dias para o cliente que fizer o pedido, mas receberá o novo motor 1.0 turbo em breve. Algumas lojas têm as versões Sense e Platinum do HB20 hatch e sedã.

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Procurada, a Hyundai disse que não consegue precisar as informações de disponibilidade dos seus carros

Hyundai Creta 1.0 Turbo
Seguindo o padrão dos SUVs lançados recentemente, o Creta também tem fila de espera e pode demorar até 120 dias para chegar ao cliente (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Honda

Enquanto em Brasília e Belo Horizonte encontramos pouquíssimos carros da Honda em estoque, em São Paulo a situação foi completamente inversa. Havia toda a sorte de modelos e versões para pronta-entrega.

Uma das concessionárias da capital paulista relatou que reabasteceram o estoque no início de novembro e que estão evitando retirar pedidos com mais de 30 dias de espera. A propósito, o SUV HR-V foi o único encontrado à disposição nas três capitais.

O WR-V quase sempre tinha uma versão em falta. Em apenas uma das concessionárias a espera dos clientes era superior aos 60 dias.

Honda WR-V chumbo visto de frente
O WR-V sempre apresenta pelo menos uma versão em falta nas concessionárias (Divulgação/Honda)

Jeep

A Jeep vem conseguindo vender bastante todos os meses, mas são carros pedidos muito tempo antes. Em todas as cidades pelo menos uma concessionária disse ter carros em estoque, quase sempre versões do Renegade. Duas lojas, porém, alegaram não ter carros disponíveis no momento.

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Quanto ao tempo de espera, na maioria dos casos o cliente que quiser comprar um Renegade, Compass ou o novo Commander em configuração específica terá que esperar até o próximo ano. No caso do importado Wrangler, só encontramos em São Paulo. Nas demais cidades o prazo, quando existia, era sempre para 2022.

Jeep Wrangler em teste

Nissan

Com o Versa V-Drive fora de linha, o Nissan Kicks foi beneficiado por ter se tornado o único carro produzido na fábrica de Resende (RJ). Não à toa, são raras as configurações que não estão disponíveis em poucos dias.

Uma vendedora de São Paulo disse que a marca vem passando bem pelo momento e não teve muitos problemas com a entrega de carros durante a pandemia. Porém, a picape Frontier, fabricada na Argentina, tem versões em falta: os prazos de espera variam de 30 a 200 dias.

Nissan Kicks 2022
(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Peugeot

Havia estoque tanto o hatch 208 quanto do SUV 2008 em todas as cidades pesquisadas. Contudo, dependendo da versão, a fila de espera varia entre 90 dias para o hatch e 120 para o SUV. O ponto fora da curva é o 3008, que não existe à pronta-entrega, podendo demorar até 180 dias para chegar ao cliente nas capitais paulista e mineira.

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Peugeot 3008
Peugeot 3008 estreou esse ano e já um dos modelos que apresenta maior tempo de espera, podendo chegar a 180 dias (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Renault

O Renault o Kwid tem grande variedade de versões disponíveis em todas as lojas ouvidas. Por outro lado, o sedã Logan e a picape Oroch sempre estavam em falta e, quando estavam disponíveis, eram em poucas as opções. O tempo de espera varia entre 30 e 60 dias para a picape, podendo chegar aos 90 dias para o sedã.

Sandero, Stepway, Captur e Duster quase sempre estavam disponíveis, porém em menor variedade de configurações. Quanto ao prazo de entrega, dificilmente passam dos 45 dias.

Renault Kwid

Toyota

Consultada, a Toyota foi direta ao dizer que “não possui veículos à pronta-entrega na rede de concessionárias do país”, contando mais com a demanda dos clientes e entrega dos modelos requisitados.

Contudo, até encontramos alguns carros nas lojas. Havia algumas poucas unidades de Hilux, especialmente das mais básicas, nas lojas consultadas. O Corolla Cross foi encontrado em poucas versões, enquanto o Corolla com maior disponibilidade é o recém-lançado GR-S.

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Em Brasília, fãs da Hilux esperam até 150 dias para a entrega da picape. Já em Belo Horizonte, o prazo dado tanto para a Hilux como para a SW4 é de 180 dias. Quanto ao Yaris, alguns vendedores admitiram que novas unidades tanto do hatch quanto do sedã só chegarão em 2022. 

Toyota Hilux 2021 vermelha vista 3/4 de frente
Dentre os veículos da Toyota, a Hilux é uma das maios difíceis de se encontrar nos estoques das concessionárias Toyota, com prazo podendo chegar a 180 dias (Divulgação/Toyota)

Volkswagen

Os principais carros da Volkswagen não existem em estoque. Os relatos mais comuns são de ausência de Jetta, Polo, Amarok, Virtus (com maior disponibilidade em Belo Horizonte) e Nivus. Este último, em algumas lojas, não tem previsão de chegada. Em outras, o prazo dado ao cliente é de 30 a 40 dias. 

O que chamou nossa atenção foi a grande disponibilidade do T-Cross. A versão 200 TSI automática foi a única que não encontramos para entrega imediata.

T-Cross

Por que faltam carros novos no Brasil?

Não falta vontade às fabricantes para produzir mais carros. O que falta são outras coisas.

A pandemia da Covid-19 não desencadeou apenas a crise dos semicondutores, também impactou na disponibilidade de matérias primas e até de meios para o transporte dos insumos pelo mundo. Isso desestabilizou toda a cadeia de fornecimento de componentes: chega a faltar peças para produzir outras peças. 

Muitas empresas chegaram a ter (ou ainda têm) carros incompletos nos pátios à espera de alguns poucos componentes. Por fim, todo esse desarranjo combinado com a alta do dólar estão levando os preços dos carros às alturas.

De acordo com o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, “o sistema de produção ficou desorganizado e isso afeta as montadoras, consequentemente afeta os fornecedores e isso também aumenta o custo”, explicou. “Você não tem uma eficiência na linha de produção planejada e muitas vezes tem que parar parcialmente (as fábricas) ou ter jornadas adicionais e isso aumenta o custo.”

Dados liberados pela entidade nesta semana apontam que a produção de carros novos em outubro caiu 24,8% quando comparada ao mesmo período do ano passado.

Gráficos do estoque de carros nas fábricas e concessionárias brasileiras
Dados de estoque nas fábricas e concessionárias no Brasil (ANFAVEA/Divulgação)

Ainda de acordo com o levantamento, o estoque de veículos nas concessionárias foi de cerca de 11 dias ao longo do mês de outubro. Isso ajuda a explicar um pouco porque há carros que são tão raros nas lojas e até mesmo a alta nos preços dos seminovos. 

Gráficos do mercado de carros nas fábricas e concessionárias brasileiras
Os números mostram que os resultados de outubro são os piores para o mês desde 2016 (ANFAVEA/Divulgação)

A falta de carros para entregar aos clientes impacta, obviamente, nos emplacamentos. 2021 teve o pior mês de outubro desde 2016, ainda que isso seja representado por números 4,5% maiores na comparação com o mês anterior. 

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