Carro movido a hidrogênio pode parecer uma realidade distante das ruas. Essa é uma tecnologia cara e sobre a qual ainda pairam dúvidas em relação a oferta em grande escala, segurança no uso, transporte e armazenamento. Mas a tendência é de que esses limites sejam superados, até porque esse gás tem, de longa data, vasta aplicação na indústria e na agricultura.
E, pensando na mobilidade, o hidrogênio é o elemento mais abundante na natureza, ou seja, fácil de ser encontrado. E ele é uma poderosa fonte de energia. O hidrogênio surge como excelente alternativa para a descarbonização do transporte, porque o carro a hidrogênio é um veículo elétrico que precisa de uma bateria muito menor que as utilizadas nos elétricos convencionais. E seu tempo de abastecimento é bem menor.
Além disso, o hidrogênio pode vir a abastecer os automóveis a combustão ou, não necessariamente como combustível pronto, mas como componente de combustível sintético, por exemplo a gasolina. Assim como a eletricidade, a neutralidade do hidrogênio depende de como ele é produzido.
Atualmente, a maior parte do hidrogênio consumido no mundo deriva de metano, extraído de gás natural, GLP ou nafta, de origem fóssil, portanto. É assim porque o custo de sua produção é menor se comparado ao de outros tipos de hidrogênio mais limpos. Esse gás fóssil é conhecido como hidrogênio cinza ou SMR (Steam Methane Reforming) standard. É possível também obter metano de biomassa, mas o chamado hidrogênio verde é extraído da água, por meio da eletrólise das moléculas.
Para ser considerado totalmente limpo, o hidrogênio verde, por sua vez, depende da energia elétrica empregada em sua produção, a qual também deve ser limpa, ou seja: gerada por usinas hidrelétricas, eólicas ou solares. Além desses dois tipos cinza e verde, há também o hidrogênio que se convencionou classificar de azul, o qual está em patamares intermediários no que diz respeito aos teores de carbono.
Uma das variações de hidrogênio azul é composta por SMR standard com 60% de CO2 capturado da atmosfera. E outra, mais limpa, usa SMR standard com 95% de CO2 capturado diretamente das fontes geradoras, antes de ser lançado na atmosfera (pode ser retirado da chaminé de uma fábrica, por exemplo).
Segundo a fabricante de gases industriais Linde, com o aumento da escala e a consequente redução de seu custo, o hidrogênio verde poderá ser a solução de baixo carbono mais competitiva entre mais de 20 tipos de combustíveis até 2030, capaz de ser aplicado no transporte urbano, rodoviário e marítimo, no uso doméstico (calefação) e na indústria pesada.
Produção nacional
Por conta das condições climáticas favoráveis, com Sol, vento e água abundantes, o Brasil pode se tornar um dos maiores fornecedores de hidrogênio verde do mundo. Mês passado, o governo do Piauí lançou a pedra fundamental de um projeto apresentado como o maior do planeta para a produção de hidrogênio verde, que começará a operar em 2027, chegando à sua fase plena em 2035. O projeto prevê a instalação de um parque para produção do hidrogênio e também de uma fazenda de energia solar, para sustentar a operação.
O hidrogênio produzido no Piauí deverá ser exportado em navios, na forma líquida, como amônia [composta por moléculas de nitrogênio e hidrogênio (NH3)]. A amônia é uma solução aquosa que pode ser transportada e armazenada e serve como suporte no transporte de hidrogênio em viagens longas, podendo o hidrogênio ser retirado depois de chegar ao destino.
Assim como o hidrogênio, a amônia também é classificada pelas cores: cinza, azul e verde, de acordo com seu teor de CO2. Além do Brasil, existem outros projetos grandes, na Austrália e nos Estados Unidos, por exemplo. O principal cliente do Brasil deve ser a Europa.