Cadillac no Brasil? Eletrificação pode expandir presença da GM no País
Além da Chevrolet, a General Motors poderia passar a atuar no Brasil também com a Cadillac e com a BrightDrop, sua startup de soluções logísticas
Em janeiro de 2021 a General Motors anunciou que todos os seus carros serão elétricos a partir de 2035. O que parecia ser extremamente audacioso, porém, começa a parecer possível. As últimas movimentações da empresa mostram seu empenho para cumprir sua meta, inclusive no Brasil.
Para tirar o atraso por aqui, os novos Chevrolet Blazer EV e Equinox EV, dois SUVs elétricos, tiveram a estreia no Brasil confirmada para 2023 antes mesmo do lançamento do novo Chevrolet Bolt (será no final deste mês). Na verdade, os dois novos modelos foram confirmados antes mesmo de ficarem prontos.
Ainda assim, serão fundamentais para o futuro da General Motors no Brasil. Não apenas por expandir a gama de eletrificados por aqui, mas por viabilizar a importação oficial de outros carros elétricos, inclusive de outras marcas do conglomerado. Falo dos Cadillac e até mesmo dos furgões de entrega da BrightDrop.
Não parece, mas carros de luxo e o setor logístico vem ajudando a tracionar a eletrificação no Brasil. Enquanto o valor agregado de carros mais requintados amortiza o custo da mecânica elétrica, furgões e caminhões elétricos são procurados por empresas preocupadas com emissões e ruídos, pela possibilidade de operar à noite e até por, a longo prazo, ser menos custoso.
A General Motors, no mínimo, estuda essas possibilidades com alguma esperança.
“A eletrificação traz outra perspectiva para a GM na América do Sul, principalmente em função dos veículos, tecnologias e serviços que desenvolvemos globalmente. Estamos avaliando novas oportunidades de negócio na região tendo em vista uma maior diversificação”, disse Santiago Chamorro, presidente da GM América do Sul, em comunicado divulgado recentemente.
Este seria o momento ideal para a GM. É justamente quando os seus primeiros carros baseados na arquitetura Ultium (criada com foco na otimização de custos e redução de preços de carros elétricos) está começando a ganhar as ruas, pelo menos nos Estados Unidos. E também quando os próximos passos da empresa começam a ficar mais claros.
A enorme GMC Hummer EV estreou os conceitos da Ultium, que será comum a todos os carros elétricos de nova geração de todas as marcas da General Motors. Entre eles estão a Chevrolet Silverado EV, o Cadillac Lyriq e os Chevrolet Blazer e Equinox EV.
Elementos-chave para carros elétricos, como arquitetura eletrônica, motores e módulos e células de baterias podem ser intercambiáveis entre todos eles. Essa arquitetura também prevê atualizações futuras e até mesmo evolução da tecnologia de baterias, sem que isso possa tornar a Ultium obsoleta.
México pode ajudar o Brasil
Confirmando-se a vinda da Cadillac ao Brasil, o Lyriq é o carro mais cotado para o início dessas operações. É o primeiro carro elétrico da Cadillac e, a despeito da imagem de luxo associada à marca, é relativamente barato para os padrões dos Estados Unidos. Custa a partir de 63.000 dólares, enquanto o Cadillac XT6 custa 49.000 dólares e o Escalade parte dos 78.500 dólares.
Para efeito de comparação, o Audi e-tron parte dos 71.000 dólares nos Estados Unidos. No Brasil, porém, o Cadillac Lyriq teria preço equivalente ao do Audi e de outros elétricos de luxo, algo ao redor dos R$ 550.000.
O segundo carro elétrico da Cadillac é que tornaria a marca um pouco mais acessível. A fabricante já iniciou os testes de rodagem de um novo SUV médio elétrico, que poderia substituir o XT4 (36.000 dólares nos EUA, preço de um Chevrolet Bolt EUV) e tem lançamento previsto para 2024.
Esse novo carro, ainda sem nome, será fabricado no México, na planta de Ramos Arizpe, que no passado fabricou o Sonic e hoje envia o Equinox para o Brasil. Esta fábrica também enviará para o Brasil os Blazer EV e Equinox EV a partir de 2023. Por sinal, o Honda Prologue também será fabricado por lá, com a mesmíssima arquitetura.
Este novo carro teria conjunto de baterias menor que os 100.4 kWh do Lyriq, mas poderia ter a mesma mecânica de suas primeiras unidades, um motor elétrico de 345 cv e 44,9 kgfm. Isso porque o Lyriq ainda receberá um conjunto mais potente, com dois motores e cerca de 500 cv.
Dois possíveis nomes para o irmão menor do Lyriq já foram registrados, inclusive no Brasil: Optiq e Symboliq. Seguem a mesma linha dos Lyriq e Celestiq. Nossa reportagem encontrou registros de marca da Cadillac no Brasil feitos em 2020 e 2021. A BrighDrop também tem registros feitos, desde 2020.
A Cadillac até já ensaiou sua estreia oficial no Brasil por pelo menos duas vezes nos últimos 30 anos: após a reabertura das importações e às vésperas da crise financeira de 2008. Agora, porém, tudo pode ter ficado mais fácil sem a necessidade de grandes custos para adaptar seus carros às condições brasileiras. A nossa gasolina com álcool não é um problema para carros elétricos.
O que há de tão especial e diferente na arquitetura Ultium?
O nome é forte e diz respeito a uma arquitetura que poderá ser escalável para qualquer tipo de carro elétrico que a General Motors (e outras empresas que queiram pagar por ela) possa fazer.
Ela contempla uma plataforma versátil, motores elétricos robustos, modulares e pequenos o suficiente para não limitar as suspensões, tecnologia das baterias e toda a arquitetura eletrônica. As tecnologias proprietárias da GM atreladas a cada uma dessas partes é que estão pavimentando seu futuro totalmente elétrico.
Por enquanto, há quatro motores disponíveis para os GM baseados na plataforma Ultium. Um de 245 cv para aplicações de tração dianteira, um de 320 cv para uso dianteiro ou traseiro, um de 345 cv para aplicações também nos dois eixos e um menor, de 85 cv, que pode ser usado com conjuntos dianteiros ou traseiros para compor uma tração integral.
A capacidade de fabricá-los a partir de alguns componentes básicos em comum ajudará a ter economia em escala, que se traduz em preços mais baixos. Essa mesma lógica é muito forte para as baterias Ultium.
As células das baterias são sempre as mesmas, independentes se serão dispostas na longitudinal, transversal, em pé ou deitadas conforme os diferentes módulos exijam, para se enquadrarem em cada projeto. Estas células ainda acumulam 50% mais energia que as equivalentes de segunda geração, que estão presentes no Bolt, por exemplo.
São baterias de níquel-cobalto-manganês-alumínio (NCMA) e, por usarem menos cobalto e níquel, tendo silício como ânodo, ainda custam 60% menos. A GM ainda promete que estas baterias não tenham perda de capacidade com o uso de recarga rápida – aceitam carregadores de até 350 kW.
Uma informação interessante passada pelos engenheiros da GM durante visita ao laboratório de testes de baterias da empresa, em Warren (Michigan) é que os Chevrolet Bolt que alcançaram os 160.000 km rodados (100.000 milhas) ainda têm 94% da capacidade original das baterias, uma perda de apenas 6%. É menos do que a empresa estimava.
Outra grande sacada da arquitetura Ultium é que a comunicação entre os módulos de baterias com o seu sistema de gerenciamento é feito sem fio, o que facilita a escalabilidade e reduz não apenas o custo com mais cabos, mas também o peso do conjunto.
Tudo isso, porém, tem um custo. O investimento da GM nessa guinada rumo à eletrificação começa pelos 35 bilhões de dólares que serão aplicados até 2025. A ideia, porém, é recuperar isso rapidamente com a economia na escala de produção, na redução nos custos de desenvolvimento e, no final de tudo, com carros elétricos mais baratos e competitivos.