Canto da sereia: por V8 raiz, Ferrari 458 é vendida mais cara que 488 GTB
Não importa desempenho: donos de Ferrari vêm pagando mais caro por som dos motores naturalmente aspirados
Quando a Ferrari anunciou, em 2015, seu modelo 488 GTB turbo, muitos puristas se revoltaram com a aposentadoria dos motores V8 aspirados em nome do desempenho. A bronca parece continuar: a Ferrari 458 Italia, com V8 “raiz”, já é vendida mais cara que sua sucessora, mais nova.
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Com mercado pequeno no Brasil, a valorização tardia da 458 Italia é mais notável na Europa e Estados Unidos, onde as suas últimas versões ganharam bom valor nas cotações mais recentes.
Isso é especialmente notável dado que a 458 Italia de última linha oferece “apenas” 578 cv de potência e 55 kgfm de torque, contra 670 cv e 77,5 kgfm da sucessora com V8 turbo. A 488 GTB também traz gerenciamento variável de torque e ajustes anti-lag do turbo, a fim de levá-la de 0 a 100 km/h em 3 segundos, com máxima de 330 km/h, além de interior renovado e mais tecnológico.
As melhorias, entretanto, parecem não significar muito, e em revendas autorizadas da Ferrari na Inglaterra é possível encontrar uma 458 Italia 2014, com 10.200 km rodados, pelo equivalente a R$ 1,3 milhão.
Ao mesmo tempo, uma 488 GTB 2016, com 11.680 km, é negociada por R$ 100.000 a menos. Não se trata de pontos fora da curva, já que outras três revendas inglesas também vendem a 488 GTB por R$ 1,2 milhão ou menos.
Nos Estados Unidos a lógica é parecida, com as 458 Italia mais novas girando em torno de R$ 1.226.000, contra R$ 1.284.000 das 488 GTB mais baratas. Se a busca for por um modelo mais raro, a história muda: o cupê 458 Speciale já custa R$ 2.219.000 — troco de bala perto dos R$ 4.029.000 da conversível 458 Aperta.
Ainda que seja curioso o fato de ouvidos precificarem carros, tais detalhes são comuns quando se tratam de modelos de luxo, com mística e legado envolvidos. A Ferrari sabia disso, e, no lançamento da 488 GTB, anunciou um sistema de escapamento redesenhado, a fim de garantir “uma trilha sonora completa, limpa e totalmente distinta”.
Se a simples mudança na admissão já provocou tamanho impacto, há de se esperar coisas piores no futuro. Isso porque o Cavallino Rampante planeja, ainda nesta década, seu primeiro modelo completamente elétrico.
Em paralelo, as normas ambientais cada vez mais rígidas vêm gerando especulações sobre a necessidade dos esportivos de Maranello, em um futuro bem próximo, serem ao menos híbridos.
Não se assuste se as Ferrari a combustão começarem a se valorizar mais que ações da Tesla.
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