Aumentos sucessivos e carros novos chegando a patamares de preços sem precedentes são uma triste realidade do mercado automotivo desde o início da pandemia, há um ano. Se prepare, pois isso pode perdurar por mais um bom tempo.
Engana-se quem pensa que o que vem deixando os carros mais caros é a pressão do dólar frente ao real desvalorizado e a falta de peças, especialmente eletrônicas, na indústria – o que até está forçando algumas fabricantes a darem férias coletivas.
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O fato é que toda a cadeia produtiva global foi impactada pela pandemia da covid-19 não apenas pelo fechamento de cidades e, consequentemente, de fábricas. Isso gerou falta de insumos, mas também atrasou fretes em todos os modais. Se voos foram cancelados, faltaram (e ainda faltam) contêineres para transporte marítimo.
E aí, não tem jeito: o valor dos fretes aumentam. E muito! Dados públicos apresentados pela Anfavea apontam que o custo do frete marítimo ficou 339% mais caro de janeiro de 2020 para janeiro de 2021, sendo que a locação dos contêineres está 170% mais custosa agora. Para o transporte aéreo a alta é de 105%.
Em coletiva para a imprensa, o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes, destacou que a indústria vem fazendo um grande esforço logístico para não paralisar a produção (a ponto de transportar peças de helicóptero de aeroportos diretamente para a fábrica) ou adequar a capacidade produtiva e o próprio mix de produção (entre versões e modelos, por exemplo).
“Esse risco de interrupções continuará sendo permanente em nosso setor até a cadeia global de produção se ajustar ao novo patamar e voltar, aos poucos, a ter um sistema equilibrado. Eu queria registrar, também, que esse desafio é para aço, borrachas, pneus, plásticos e diversos materiais. Cada dia é um item, que não é o mesmo para todas as montadoras”, esclarece Moraes.
Destes, o que mais vem pressionando o custo de produção dos carros novos são as resinas e os elastômeros, que estão 68% mais caros em 2021. O aço vem logo na sequência, com custo 61% mais elevado, acompanhado pelos pneus, 16% mais caros agora, e pelo alumínio, com alta de 13%.
Vale dizer que a alta no preço dos metais não é o único problema. Há falta deles para a indústria, especialmente daqueles mais avançados e de uso mais específico. Nos bastidores, fala-se que isso poderá atrapalhar o desenvolvimento e, consequentemente, o lançamento de novos motores no mercado. O novo SUV da Fiat, chamado provisioriamente de Progetto 363, é um dos que vem tendo seu desenvolvimento prejudicado.
Luiz Carlos apontou uma outra questão ainda mais séria: “Há um problema mais complexo que é o de semicondutores. É um problema global, que afetou nossas matrizes e afeta o Brasil. Acho que é um problema mais complexo, que vai levar mais tempo para ser resolvido e eu acho que até o final do ano vamos ter bastante emoção na questão da produção”.
Ainda com relação ao preço dos carros novos, a Anfavea lembrou da carga tributária e de como questões conjunturais do Brasil impactam no preço de carros novos. É uma questão antiga levantada pela entidade mas que agora, em meio a uma crise, passa a ter peso maior sobre a indústria.
Nas contas da Anfavea, um carro novo de R$ 100.000 que tem metade deste valor financiado pelo comprador terá R$ 42.000 do custo total representado por impostos.
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