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Causos e piadas do Salão do Automóvel

Carros sem motor, falsas celebridades, estande montado da noite para o dia... A gente conta para você as histórias mais estranhas (e engraçadas) do Salão do Automóvel

Por Péricles Malheiros
Atualizado em 9 nov 2016, 14h56 - Publicado em 10 Maio 2016, 13h42
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  • Bastidores do Salão do Automóvel

    Lançamentos importantes da indústria automobilística, gente famosa, shows ao vivo, luzes, megaestandes: o Salão do Automóvel é, realmente, uma festa grandiosa e badalada. E, como tal, basta a luz se apagar para que os segredos de bastidores do “antes e durante” surjam e, na velocidade da luz, caiam nos ouvidos do povo. Algumas, porém, ficam guardadas a sete chaves. Até que alguém resolve abrir esse baú de histórias. Conheça alguns relatos famosos (e outros nem tanto) do que já rolou na feira automobilística mais importante da América Latina.

    Fusão a álcool

    A primeira história retirada desse baú carrega a poeira acumulada durante 42 anos e remete diretamente ao Salão do Automóvel de 1966, época em que ainda era realizado nos 24.000 metros quadrados do Pavilhão da Indústria e do Comércio, no Parque do Ibirapuera — em 2016, o evento será realizado no Centro de Exposição Imigrantes, com 90.000 metros quadrados de área coberta e climatizada. Flávio Guimarães havia acabado de assumir a gerência de assuntos institucionais da Ford. Com ar saudosista, ele conta: “Foi meu primeiro Salão. Lembro-me dos presidentes da Ford [Henry Ford II] e da Willys [Max Pearce] conversando animadamente na área VIP do nosso estande. O problema é que o uísque os deixou animados demais. Felizmente, o Salão já havia fechado as portas quando eles entraram naquela fase de falar alto e cair na gargalhada a cada minuto de conversa”.

    A preocupação de Guimarães fazia sentido. “A certa altura, eles começaram a discutir sobre a compra da Willys pela Ford. Chamamos alguns seguranças e isolamos o estande da Ford para que os executivos das outras fábricas não ouvissem o restante da conversa.” A fusão das duas empresas (a mais importante da indústria automotiva na época) foi anunciada meses depois. “E pensar que tudo nasceu em uma conversa de bar, ou melhor, de Salão”, diz brincando Guimarães.

    Barrados no baile

    Em 2006, uma ação da Polícia Federal no Salão foi ainda menos discreta que o descontraído papo entre os amigos Henry Ford II e Max Pearce. Ela invadiu o estande da Lamborghini e levou embora nada menos que seis exemplares da marca sob a alegação de que o importador estaria vendendo os carros, apesar de estes terem entrado no Brasil pagando as reduzidas taxas destinadas aos veículos de exposição. Três dias e uma liminar depois, já no último dia da festa, tudo havia voltado ao normal.

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    Tanto a saída quanto o retorno dos carros foram eventos à parte. “Foi uma correria para ver de perto os Lamborghini ligados, andando pelos tapetes vermelhos do Anhembi”, diz Leandro Ferreira, um dos visitantes sortudos que viram o inusitado desfile. Quer ter uma idéia de como foi? Entre no YouTube e faça uma busca com a frase “Polícia Federal no Salão do Automóvel”.

    Perigo, penetras!

    Supermáquinas costumam ficar protegidas e isoladas, bem longe das mãos dos visitantes — fato compreensível, afinal é praticamente impossível controlar a vontade de tocar um sonho. Acontece que muitos não se conformam em disputar, entre empurrões e cotoveladas na multidão, um lugarzinho melhor para esticar o pescoço, ver o objeto de desejo e voltar, remando contra a corrente no mar de gente que sempre se forma ao redor de estandes de marcas como a Ferrari, por exemplo. Na Porsche também é assim. Seu então assessor de imprensa, Luis Alberto Pandini, era uma das pessoas com autoridade para negar ou liberar a passagem de quem chega à única portinhola do estande. Ele conta que já viu de tudo.

    “Desenvolvi até um método especial para detectar picaretas. Eles dizem: sou juiz, sou prefeito, tenho coleção de Porsche. Quando a pessoa não se cadastrou previamente, ou não a conheço, sempre bato um papo ali mesmo, na porta do estande”. A artimanha de Pandini tem funcionado. “Certa vez, perguntei a um falso colecionador: qual versão você tem? Quando ele falou que era um 920 — um modelo que nunca existiu —, a máscara caiu e alguns minutos depois ele foi embora.”

    Bastidores do Salão do Automóvel
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    “Supermáquina”

    A Fiat encontrou no Salão de 2004 a melhor oportunidade para apresentar o Stilo Michael Schumacher. E, como era véspera do GP Brasil de Fórmula 1, ninguém melhor que o próprio piloto para fazer as honras. Depois de posar para fotos — Rubens Barrichello também estava lá, mas sequer um Mille Rubinho foi criado para ele —, o alemão demonstrou especial atenção por outro carro que estava no estande, o Stilo Tuning, que havia sido personalizado pela própria Fiat. “Ele se aproximou e perguntou a um executivo que o acompanhava se aquele carro andava bem”, afirma em confidência uma fonte ligada à organização da Fiat na época. “O executivo que estava com ele respondeu que mais ou menos, colocando a mão em seu ombro e direcionando-o para a área fechada do estande.” Detalhe: o carro não tinha nem motor nem câmbio, e no interior – protegido dos curiosos por duas camadas de película escura em todos os vidros – só havia um banco e o volante.

    Serviço 24 horas

    Todo mundo viu Michael Schumacher naquele Salão, menos a equipe da Publistand, empresa contratada pela Toyota para a montagem de sua área, que devia estar descansando após a saia justa encomendada pelo presidente da montadora na época, Hiroyuki Okabe. Quem conta é uma fonte que acompanhou tudo de perto e prefere se manter anônima. “Um dia antes da abertura do evento à imprensa, o senhor Okabe vistoriou o estande por seis horas. Verificou atentamente cada lâmpada, cada detalhe. Às 22h, reuniu seus executivos e o comando da Publistand e decretou: quero um ambiente diferente.” A alegação de que a execução seguiu à risca o que foi previamente aprovado não foi suficiente para reverter a situação. Depois de uma madrugada exaustiva de trabalho, mais os segundos disponíveis antes que as portas do Anhembi fossem abertas, lá estava o novo layout exigido por Okabe.

    Nossa fonte conta mais: “Depois de tudo pronto, o senhor Okabe fez questão de elogiar pessoalmente a equipe que montou o estande, reconhecendo que achava impossível o cumprimento da missão que ele próprio havia dado”.

    Beleza virtual

    Sérgio Habib, ex-presidente da Citroën no Brasil, sempre foi ávido por pesquisas de mercado. Ele costuma contar que no Salão de 1996 colocou um time de pesquisadoras nas portas de saída do Anhembi. Cada visitante que deixava o pavilhão era convidado a responder perguntas do tipo “O que você achou do estande da Citroën?”, ou “Qual o carro mais bonito da marca em exposição?”. As opiniões, claro, eram as mais variadas. Algo normal, exceto pelo fato de que, naquele ano, a Citroën não participou da mostra.

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    Cenário de guerra

    Até Soninha Francine, quinta candidata à Prefeitura de São Paulo mais votada em 2008, tem suas lembranças de Salão. “Logo eu, que hoje em dia evito ao máximo rodar de carro, estreei justamente no estande da Anfavea”, diz ela ao recordar seu primeiro emprego, aos 16 anos, em 1984. “Nem deu tanto trabalho recepcionar os visitantes. Duro mesmo é manter o sorriso depois de vários dias em pé e de salto alto. O banheiro feminino é uma cena de guerra, com várias meninas esparramadas pelo chão, descalças, aproveitando cada segundinho da folga. O pior é que depois disso você tem que voltar linda e sorridente para o estande, como se estivesse adorando a missão de socar os pés inchados de volta no sapato.” 

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