Como Romain Grosjean sobreviveu ao inferno no GP do Bahrein?
Em rara cena de um F1 entrando em chamas após colisão, foram os trajes especiais que evitariam o pior ao piloto francês
Neste domingo (29), Romain Grosjean chocou o mundo ao colidir sua Haas contra o guard-rail do circuito de Sakhir, no Bahrein. Muito mais que uma batida normal, o Fórmula 1 do francês se partiu e foi consumido pelas chamas. Após 30s de muita tensão, o piloto conseguiu sair do cockpit, tendo apenas queimaduras leves. Como isso foi possível?
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A resposta está no composto sintético que compõe os macacões dos competidores, feito à base de polímeros especiais com resistência elevada. O Nomex, como é batizado comercialmente, é uma evolução do já conhecido kevlar — matéria-prima de coletes à prova de bala e roupas anti-fogo —, mas aperfeiçoado.
De acordo com sua fabricante, o Nomex oferece propriedades das mais diversas: resistência a ácidos, descargas elétricas e, principalmente, calor. O segredo da proteção térmica está no fato de que, quando expostas ao fogo, as fibras engrossam e acabam carbonizadas, absorvendo toda a energia térmica do ambiente.
Não à toa, o Nomex é usado nas mais diversas profissões: pilotos de avião, bombeiros, eletricistas e, claro, pilotos de Fórmula 1, que contam com vestuário milimetricamente calculado para oferecer o máximo de proteção sem desconforto ou falta de mobilidade nos apertadíssimos carros.
Além dos macacões, as blusas em contato direto com a pele, zíperes, apetrechos e meias também seguem as normas, garantindo resistência de até 800º C de temperatura, 11s de exposição ao fogo sem combustão e manutenção da temperatura sob as roupas em até 41ºC por, no mínimo, 11s.
Ainda que um bólido como o de Grosjean pegar fogo seja fato raro na Fórmula 1 atual, muito dessa rigidez vem de acidentes traumáticos como os sofridos por Niki Lauda e Lorenzo Bandini, entre vários outros que sofreram queimaduras e até morreram em grandes prêmios.
Todo detalhe possivelmente perigoso foi mitigado: os zíperes não derretem sob fogo — para que não atrapalhe a abertura do macacão por equipes médicas —, os patrocínios são impressos em tinta especial, evitando combustão e emissão de gases tóxicos e o capacete, muito por conta do acidente de Felipe Massa, conta com uma ‘blindagem’ com um polímero chamado Zylon, que é resistente ao fogo e tolera impactos com pressão de até 5,9 GPa (58 mil vezes maior que a pressão atmosférica ao nível do mar).
O ‘calcanhar de aquiles’ do traje são, justamente, as luvas; resistentes ao fogo mas com proteção reduzida, a fim de não atrapalhar a operação do volante e seus mais de 25 botões. Isso faz ainda mais sentido quando as piores queimaduras sofridas pelo francês foram, justamente, nas mãos.
Naturalmente vanguardistas em boas práticas e tecnologia, a Fórmula 1 tem o hábito de sempre estudar as causas de acidentes graves e realizar mudanças para que esses não se repitam. Foi assim com a morte de Ayrton Senna, com a batida fatal de Jules Bianchi — que acelerou a implantação dos halos, que protegem a cabeça dos pilotos — e do próprio acidente de Massa, citado acima.
Em breve a FIA divulgará detalhes oficiais sobre a grave colisão no GP do Bahrein, esclarecendo outras questões como a separação tão brutal do monocoque, motor e chassi, a atuação do guard-rail na absorção do impacto e os motivos para um incêndio tão vigoroso.
Até lá, resta agradecer à tecnologia que cumpriu seu papel com honras e à equipe técnica e médica, que contribuíram para evitar uma tragédia maior.
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