Como um Toyota Corolla poderá mudar de geração tão rápido quanto um iPhone
Graças às plataformas modulares e à eletrônica, a lógica e a contagem do tempo estão mudando para a troca de geração dos automóveis
![toyota corolla 2020 uae 3](https://gutenberg.quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/08/toyota-corolla-2020-uae-3.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Durante muito tempo, o que marcava a chegada de um modelo a uma nova geração era a mudança de plataforma.
Desde o surgimento das plataformas modulares, porém, essa referência deixou de valer e o padrão para a indicação de uma nova geração mudou para algo que ainda não está muito claro nem para as próprias fábricas.
Perguntamos para várias empresas o que identificaria uma “nova geração” quando o carro tivesse plataforma modular, e ouvimos diferentes tipos de respostas. Isso é… quando ouvimos, porque muitas optaram por não responder.
![Novo Volkswagen Golf 2020](https://gutenberg.quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/10/2-1.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
“Seu ponto é interessante porque a complexidade é cada vez maior”, diz Silvio Piancastelli, gerente de Conceito de Veículo do grupo FCA (Fiat Chrysler).
“A indústria sempre evolui plataformas e veículos em relação a materiais de alta performance, busca por competitividade e aplicações de novas tecnologias, independentemente de o modelo ganhar ou não uma nova geração”, afirma o engenheiro.
“Cremos que a melhor maneira de entender as gerações é entender as mudanças regulatórias e protocolares que devem ser atendidas, que podem interferir na escolha das soluções”, conclui.
![plataforma cmf fabricantes](https://gutenberg.quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/11/5658c3732daad077cb8a0072cmf-4.jpeg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Plataforma, de modo bem elementar, é a base do carro. É a estrutura a partir da qual se projeta todos os demais sistemas do carro.
Existe o conceito de arquitetura que engloba não só o chassi, mas também outros sistemas que são compartilhados, como suspensões, direção e chicote elétrico, entre outros.
Aqui vamos continuar tratando o tema como plataforma, ainda que para alguns casos o conceito seja mais amplo. Antigamente, as plataformas mudavam de tempos em tempos, acompanhando a evolução das tecnologias e os anseios do mercado.
![Toyota Corolla Altis Hybrid](https://gutenberg.quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/08/corolla-altis-premium-hybrid-53.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Às vésperas das plataformas modulares, houve uma fase que as fábricas em geral estabeleciam um prazo de validade para as plataformas: seis anos.
Essa duração era muito comum, mas não era lei. Carros premium, caros e na vanguarda tecnológica possuíam um fôlego maior para seguirem sem alterações. Picapes também.
Na outra ponta, modelos muito simples e baratos costumavam ter a vida útil de suas plataformas esticada ao limite em países emergentes, chegando a sobreviver por mais de uma década, justamente para continuarem assim: simples e baratos.
![próximos lançamentos plataforma GEM próximos lançamentos plataforma GEM](https://gutenberg.quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/05/0.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Acontece que, pressionadas pela evolução cada vez mais rápida das tecnologias e pelas novas demandas de mercado (compradores e concorrência), as fábricas se viram obrigadas a encurtar a validade das plataformas.
Para satisfazer essa necessidade, precisaram investir quantias cada vez maiores em períodos cada vez mais curtos, tão curtos que o tempo se tornava insuficiente para o retorno do investimento.
A brincadeira começou a ficar cara. E a renovação das linhas passou a ser um fardo para as fábricas. Daí surgiram as plataformas modulares com tempo de vida indefinido, uma vez que elas podem incorporar as evoluções de forma gradual.
![Fiat Fastback](https://gutenberg.quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/08/whatsapp-image-2019-08-16-at-10.18.25-1.jpeg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Outra vantagem das plataformas modulares é que elas podem ser utilizadas como base para diversos carros de propostas e tamanhos diferentes.
A primeira a apresentar o conceito foi a VW, com as matrizes MQB (para motores transversais) e MLB (longitudinais). Depois veio a Renault-Nissan com a CMF. E a febre se espalhou para Toyota, com a TNGA, PSA, com a EMP, e GM, com a GEM.
A matriz MQB serve de base para modelos tão diferentes quanto VW Polo (hatch compacto), Jetta (sedã médio), Tarok (picape intermediária) e Atlas (SUV grande), além de Audi TT e Q3. Isso sem falar nos derivados de outras marcas do grupo, como Seat e Skoda.
![56a925d80e21630a3e102d74esquema-vw.jpeg Plataforma VW](https://gutenberg.quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2016/11/56a925d80e21630a3e102d74esquema-vw.jpeg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
”Hoje em dia, o principal fator (para identificar uma nova geração) é o aumento de [distância] entre-eixos, que vem acompanhada de outras mudanças como: desenho de suspensão, espaço interno, etc.”, afirma Ricardo Abe, gerente de Engenharia da Nissan.
“Existem evoluções das plataformas, o que aumenta a vida delas. Um exemplo é a do Kicks, que recebeu melhorias, reforços estruturais e entre-eixos maior que o do March e próximo ao do Versa”, explica o gerente.
A falta de um indicador evidente deixa as fábricas livres para usar o termo “nova geração” como quiserem. Afinal, é sempre melhor dizer que um carro é inteiramente do que parcialmente novo.
![Hyundai HB20 Diamond Plus 2020](https://gutenberg.quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/09/dscf9430-e1568923807654.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Ultimamente, por exemplo, a Hyundai criou polêmica ao anunciar o novo HB20 como um modelo de nova geração, sem que a plataforma tenha mudado.
A Hyundai tem a seu favor o argumento de que o carro mudou profundamente. Ganhou novo design, motores 1.6 e 1.0 turbo atualizados, novos equipamentos e teve um aumento de 3 cm no entre-eixos.
Não ficou apenas nas alterações de estilo, tipo grade, faróis e lanternas, que costumam ocorrer nas reestilizações de meio de ciclo de vida.
É um caso diferente do VW Gol, que, pelas contas da VW está na oitava geração, tendo apenas três plataformas ao longo da vida. Ele estreou em 1980.
![Volkswagen Gol Copa Pegada esportiva era a marca do visual do Gol Copa](https://gutenberg.quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2017/02/qr-658-gb-gol-copa-01-psd.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
As fábricas brasileiras nunca tiveram pressa em atualizar as plataformas de seus modelos.
Quando os volumes comercializados eram pequenos, havia a justificativa de que os carros precisavam ficar mais tempo no mercado para se pagarem. Mas nem sempre foi assim.
Atualmente, a indústria brasileira convive com veículos desenvolvidos a partir de plataformas modulares e convencionais. Mas chegará o tempo em esse detalhe técnico vai fazer pouca diferença.
“No futuro, o que vai determinar uma nova geração será a eletrônica embarcada. A contagem das gerações vai obedecer ao número de atualizações dos sistemas operacionais, como nos smartphones”, diz Albert Maier, engenheiro especialista em dinâmica veicular, da BMW.
![Mercedes-MBUX-02](https://gutenberg.quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2018/01/mercedes-mbux-02.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
A indústria automobilística vai passar a andar no ritmo da indústria eletrônica, renovando os produtos do ponto de vista de hardware e software a cada seis meses.
Um exemplo incipiente desses novos tempos é a oitava geração do VW Golf, que atualizou visual e tecnologias a bordo, mas manteve a base MQB e deixou praticamente intacta a silhueta.
Para se ter uma ideia de como foi até agora a diferença de passo entre essas duas indústrias até hoje basta comparar o tempo de renovação de um carro como o Toyota Corolla, por exemplo, com o de um iPhone.
Lançado em 1966 na primeira geração, o Corolla levou 52 anos para chegar à 12ª segunda geração – que é a atual. Já o iPhone foi lançado em 2007 e já está na 11ª geração em um intervalo de apenas 12 anos.
Em uma indústria que exige renovações cada vez mais rápidas, o tipo de plataforma que sustenta o produto acaba tendo menos importância do que a capacidade e a velocidade de atualização tecnológica que ele é capaz de proporcionar.