Nem pandemia, nem as festas de final de ano paralisaram os trabalhos do Centro de Desenvolvimento de Produto da Ford na Bahia. Mas o ritmo de projetos de carros voltados para o mercado brasileiro diminuiu ao longo de 2020, quando projetos de redução de custos de produção para modelos vendidos nos Estados Unidos se tornou prioridade.
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O trabalho segue no Centro de Desenvolvimento, que não será fechado mesmo com o fim da produção de carros da Ford no Brasil e o fechamento de suas três fábricas no país.
A Ford do Brasil já havia conquistado expertise nisso quando executou o mesmo trabalho para tornar Ka e EcoSport mais baratos de serem produzidos. Houve corte de equipamentos, mas também mudanças técnicas onde os olhos não alcançam. Não foi suficiente para torná-los lucrativos, porém: apenas a Ranger conseguiu, e segue em produção na Argentina após perder equipamentos na linha 2021.
Antes mesmo da pandemia o projeto de uma nova e profunda reestilização do Ford Ka já havia sido cancelado. Conta-se que teria mudanças profundas, com direito a um sensível aumento do entre eixos e a quadro de instrumentos digital, à moda do VW Polo.
Mesmo assim, o projeto da terceira geração do Ford EcoSport estava avançado. O design já estava definido e, não fosse pela pandemia, em dezembro teria começado a produção de protótipos do modelo em uma planta piloto mantida pela Ford e pelo Senai em Camaçari. O lançamento seria no fim de 2021.
A situação é até mais alarmante. Muitos fornecedores da Ford já estavam produzindo equipamentos e maquinário fundamentais para a fabricação do novo SUV compacto. A notícia do fechamento das fábricas da Ford no Brasil caiu como um banho de água fria nestas empresas e suas terceirizadas. A maioria não sabe o que acontecerá, nem o que fará com equipamentos e moldes que pesam toneladas.
Contudo, ao que tudo indica, a Ford honrará os contratos fechados e suas respectivas multas.
O projeto do novo Ford EcoSport era o BX755, mas havia outros dois em curso: o BX784, um SUV médio que era tratado como a nova geração do Territory, e um derivado dele com perfil cupê, com caimento do teto mais acentuado, o BX785. O que se conta é que o SUV cupê já havia sido apresentado à matriz nos Estados Unidos, com grande aprovação quanto ao design. O motor seria um três-cilindros 1.5 turbo.
A situação atual é: os três projetos estão definitivamente cancelados, assim como o projeto CX737, que previa um novo SUV baseado em uma plataforma da Mahindra e que também estava em um estágio avançado. Na semana passada a Ford comunicou que desistiu de formar uma joint venture com a Mahindra.
É difícil afirmar que tudo que foi feito e concluído destes projetos será perdido ou poderá ser reaproveitado no futuro. O caso do SUV indiano é mais delicado, pois depende de plataforma e motor de outra fabricante.
Mas uma característica dos três SUVs criados no Brasil pode dificultar sua continuidade em outros mercados: eles haviam sido projetados sobre a plataforma B2E, mesma dos últimos Ka e EcoSport, e que tem continuidade nos Puma e Fiesta vendidos na Europa.
Não há mais maquinário para produção de carros dessa plataforma no México, por exemplo. Restam as fábricas de Craiova, na Romênia, e Chongqing, na China (Changan-Ford). Isso desconsiderando propositalmente a fábrica de Chennai, na Índia. Enquanto a fábrica romena produz o Puma, as outras fabricam o EcoSport.
O que é fato é que levar qualquer um desses projetos para outro país levaria muito tempo e custaria muito dinheiro. E nada disso está previsto.
Questão de conjuntura
Um relatório apresentado pela Ford a seus investidores em outubro de 2020 pontuou como a fabricante norte-americana planeja crescer nos próximos anos, norteada pela meta de alcançar 8% de lucratividade.
Nele consta a alocação de investimento nas filiais mais fortes da Ford e em oportunidades de mercado com alto crescimento, produção de carros elétricos exclusivos em grande escala e criação de novos produtos compatíveis com condução autônoma da Argo AI.
Mas o que mais chama atenção é a previsão de oferecer carros mais acessíveis globalmente, incluindo os Estados Unidos. Isso, após anos de estratégias que focaram a linha da marca ao redor do mundo em SUVs e picapes.
Um EcoSport maior e com novas tecnologias também seria mais caro e, teoricamente, mais rentável. Uma nova geração do Territory, um carro que hoje custa a partir de R$ 179.990, baseada numa plataforma de carros compactos, nem se fala. Mas havia outra barreira: a eletrificação.
“Os projetos não tinham condições de eletrificação. Por mais que os Fiesta e Puma sejam B2E e tenham versões mild-hybrid na Europa, a Ford não queria eletrificação em Camaçari”, conta uma fonte que também ressaltou que contratos com fornecedores para a fábrica na Bahia eram significativamente mais caros por causa da distância das grandes cidades brasileiras.
Vale dizer que mesmo o Territory atual, que é baseado em um carro da chinesa Yusheng, tem versões híbrida e elétrica na China.
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