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Criações brasileiras, novos Ford EcoSport e Territory podem nunca existir

Ford encerrou produção no Brasil, mas não seu Centro de Desenvolvimento. Mesmo assim, três projetos de novos SUVs que estavam em curso foram cancelados

Por Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 19 fev 2021, 19h04 - Publicado em 13 jan 2021, 10h43
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  • EcoSport
    Terceira geração do EcoSport seria um carro maior e mais espaçoso (João Kleber Amaral/Quatro Rodas)

    Nem pandemia, nem as festas de final de ano paralisaram os trabalhos do Centro de Desenvolvimento de Produto da Ford na Bahia. Mas o ritmo de projetos de carros voltados para o mercado brasileiro diminuiu ao longo de 2020, quando projetos de redução de custos de produção para modelos vendidos nos Estados Unidos se tornou prioridade.

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    O trabalho segue no Centro de Desenvolvimento, que não será fechado mesmo com o fim da produção de carros da Ford no Brasil e o fechamento de suas três fábricas no país.

    A Ford do Brasil já havia conquistado expertise nisso quando executou o mesmo trabalho para tornar Ka e EcoSport mais baratos de serem produzidos. Houve corte de equipamentos, mas também mudanças técnicas onde os olhos não alcançam. Não foi suficiente para torná-los lucrativos, porém: apenas a Ranger conseguiu, e segue em produção na Argentina após perder equipamentos na linha 2021.

    Antes mesmo da pandemia o projeto de uma nova e profunda reestilização do Ford Ka já havia sido cancelado. Conta-se que teria mudanças profundas, com direito a um sensível aumento do entre eixos e a quadro de instrumentos digital, à moda do VW Polo.

    Mesmo assim, o projeto da terceira geração do Ford EcoSport estava avançado. O design já estava definido e, não fosse pela pandemia, em dezembro teria começado a produção de protótipos do modelo em uma planta piloto mantida pela Ford e pelo Senai em Camaçari. O lançamento seria no fim de 2021.

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    EcoSport
    Traseira tinha elementos inspirados no Mustang Mach-E (João Kleber Amaral/Quatro Rodas)

    A situação é até mais alarmante. Muitos fornecedores da Ford já estavam produzindo equipamentos e maquinário fundamentais para a fabricação do novo SUV compacto. A notícia do fechamento das fábricas da Ford no Brasil caiu como um banho de água fria nestas empresas e suas terceirizadas. A maioria não sabe o que acontecerá, nem o que fará com equipamentos e moldes que pesam toneladas.

    Contudo, ao que tudo indica, a Ford honrará os contratos fechados e suas respectivas multas.

    O projeto do novo Ford EcoSport era o BX755, mas havia outros dois em curso: o BX784, um SUV médio que era tratado como a nova geração do Territory, e um derivado dele com perfil cupê, com caimento do teto mais acentuado, o BX785. O que se conta é que o SUV cupê já havia sido apresentado à matriz nos Estados Unidos, com grande aprovação quanto ao design. O motor seria um três-cilindros 1.5 turbo.

    A situação atual é: os três projetos estão definitivamente cancelados, assim como o projeto CX737, que previa um novo SUV baseado em uma plataforma da Mahindra e que também estava em um estágio avançado. Na semana passada a Ford comunicou que desistiu de formar uma joint venture com a Mahindra.

    É difícil afirmar que tudo que foi feito e concluído destes projetos será perdido ou poderá ser reaproveitado no futuro. O caso do SUV indiano é mais delicado, pois depende de plataforma e motor de outra fabricante.

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    Ford- Mahindra- SUV indiano
    Dianteira do projeto CX757, indiano (Reprodução/Internet)

    Mas uma característica dos três SUVs criados no Brasil pode dificultar sua continuidade em outros mercados: eles haviam sido projetados sobre a plataforma B2E, mesma dos últimos Ka e EcoSport, e que tem continuidade nos Puma e Fiesta vendidos na Europa.

    Não há mais maquinário para produção de carros dessa plataforma no México, por exemplo. Restam as fábricas de Craiova, na Romênia, e Chongqing, na China (Changan-Ford). Isso desconsiderando propositalmente a fábrica de Chennai, na Índia. Enquanto a fábrica romena produz o Puma, as outras fabricam o EcoSport.

    O que é fato é que levar qualquer um desses projetos para outro país levaria muito tempo e custaria muito dinheiro. E nada disso está previsto.

    Questão de conjuntura

    Um relatório apresentado pela Ford a seus investidores em outubro de 2020 pontuou como a fabricante norte-americana planeja crescer nos próximos anos, norteada pela meta de alcançar 8% de lucratividade.

    Nele consta a alocação de investimento nas filiais mais fortes da Ford e em oportunidades de mercado com alto crescimento, produção de carros elétricos exclusivos em grande escala e criação de novos produtos compatíveis com condução autônoma da Argo AI.

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    Territory EV 2020 - China
    Ford Territory tem versão elétrica na China (Divulgação/Ford)

    Mas o que mais chama atenção é a previsão de oferecer carros mais acessíveis globalmente, incluindo os Estados Unidos. Isso, após anos de estratégias que focaram a linha da marca ao redor do mundo em SUVs e picapes.

    Um EcoSport maior e com novas tecnologias também seria mais caro e, teoricamente, mais rentável. Uma nova geração do Territory, um carro que hoje custa a partir de R$ 179.990, baseada numa plataforma de carros compactos, nem se fala. Mas havia outra barreira: a eletrificação.

    “Os projetos não tinham condições de eletrificação. Por mais que os Fiesta e Puma sejam B2E e tenham versões mild-hybrid na Europa, a Ford não queria eletrificação em Camaçari”, conta uma fonte que também ressaltou que contratos com fornecedores para a fábrica na Bahia eram significativamente mais caros por causa da distância das grandes cidades brasileiras.

    Vale dizer que mesmo o Territory atual, que é baseado em um carro da chinesa Yusheng, tem versões híbrida e elétrica na China.

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