Há pouco mais de um ano, as emoções estavam à flor da pele na aristocrática marca britânica: “Hoje é o dia mais significativo na história da Rolls-Royce Motor Cars desde 4 de maio de 1904. Neste dia, nossos fundadores Charles Rolls e Sir Henry Royce revelaram que iriam produzir o melhor automóvel do mundo”, foram as palavras do CEO da Rolls-Royce, Torsten Müller-Ötvös, ao anunciar, em setembro de 2021, a iminente chegada do elétrico Spectre.
Agora, no momento da apresentação oficial do primeiro Rolls-Royce elétrico, o nº1 da Rolls vai mais longe ao assegurar que “o Spectre mostra como esta marca está perfeitamente adequada à eletrificação, com um sistema de propulsão capaz de garantir o sucesso e a relevância contínuos e reforçando todas as características que fazem de um Rolls-Royce um Rolls-Royce”.
Mesmo que silêncio e luxo quase sempre casem bem, Müller-Ötvös nem hesita quando esclarece que “o Spectre é, antes de tudo, um Rolls-Royce e, em segundo lugar, um veículo elétrico. Um novo capítulo para esta marca e para o segmento dos automóveis de luxo, o que me leva a acreditar que o Spectre é o produto mais perfeito que a Rolls-Royce já produziu.”
Raízes elétricas
Sir Charles Stewart Rolls, co-fundador da Rolls-Royce, já deixava a sua premonição em 1900, depois de ter experimentado um veículo elétrico chamado Columbia: “o carro elétrico é silencioso e limpo, sem cheiros nem vibrações. E pode tornar-se muito importante quando o avanço tecnológico permitir a generalização das estações de carregamento das baterias”. Foi uma das suas conclusões, quase uma profecia.
Ao contrário de muitos outros fabricantes contemporâneos, a Rolls-Royce começou a testar motores elétricos no início do século XX, já que Sir Henry Royce era fascinado por tudo o que fosse acionado através de baterias. No início da carreira, a sua primeira empresa (a F.H. Royce & Company) desenvolveu dínamos, motores de guindastes elétricos e patenteou casquilhos de lâmpadas.
Um salto no tempo até 2011, quando marca reviveu a ideia de propulsão elétrica pela primeira vez e criou um Phantom elétrico, o 102 EX. Em 2016, os “britânicos da Baviera” (por a marca estar na posse da BMW desde 1998) revelaram o visionário 103 EX, nas celebrações do 100º aniversário da BMW.
Müller-Ötvös lembra que “esse conceito dispunha já da arquitetura de alumínio escalável e exclusiva de modelos da Rolls-Royce, mas que já foi projetada não apenas para modelos com motores de combustão, mas também para veículos elétricos. Além do coupé Spectre, a marca de Goodwood tem mais dois modelos em desenvolvimento, um sedã de luxo e um SUV que também vão poder contar com tecnologia de propulsão elétrica da BMW.
Um toque de 007
Até hoje, o nome Spectre ficou principalmente conhecido pelo filme de 2015 que, tal como toda a saga sobre o mais famoso agente secreto do mundo, enaltecia os atos heroicos de James Bond. Mas, a partir de hoje, também é o nome do primeiro automóvel elétrico da Rolls-Royce, tudo por terras de Sua Majestade, ainda que esta já não seja a mesma.
À primeira vista, parece que temos um Rolls-Royce Wraith pela frente. Mas mesmo que o design e as proporções do veículo tenham semelhanças impressionantes, os responsáveis da Rolls-Royce não se cansam de enfatizar que o Spectre é um carro completamente novo — claro que elétrico — mesmo sendo elegante e escandalosamente caro como qualquer modelo da casa. E, na verdade, não substitui o Wraith, mas o Phantom Coupé.
A grade do radiador é mais larga e plana do que o normal na Rolls – emoldurada por luzes LED marcantes, tanto na frente, como atrás. Este gigante elétrico anda sobre poderosas rodas de 23 polegadas e impressiona com uma linha interminável de janelas. O sistema de suspensão planar foi otimizado, enquanto a parte inferior do veículo lisa e um coeficiente de arrasto de 0,25 se associam para proporcionar o máximo conforto de rolamento.
O interior é surpreendentemente clássico, isto porque telas digitais, aplicações e conectividade já são familiares nos atuais modelos Rolls-Royce. O conhecido teto com efeito de céu estrelado é complementado por uma paisagem estrelada de LED nas portas e nos painéis laterais.
Como o Wraith, tem uma carroceria fastback elegantemente traçada, com uma cauda levemente afilada e, claro, com o seu enorme comprimento de 5,45 metros oferece espaço que nunca mais acaba para quatro pessoas. O acesso é feito através de duas portas luxuosas, que se abrem “para trás” (que é onde estão as dobradiças), ao mais puro estilo Rolls-Royce.
A distância entre-eixos é de 3,21 metros e o peso total do veículo impressiona. O Spectre de tração integral tem um pouco menos de três toneladas (naturalmente agravado pelo peso da grande bateria). Enquanto isso, o diâmetro de giro pode até ser considerado baixo, considerando as dimensões do carro. São apenas 12,7 metros, isso graças ao eixo traseiro de efeito direcional, sempre de série.
A bateria tem um pouco mais de 100 kWh, a autonomia elétrica deverá rondar os 520 km e o consumo médio é de 21,5 kWh/100 km. Mesmo com o seu peso colossal, o Spectre com seus 585 cv e 91,77 kgfm é capaz de acelerar até 100 km/h em pouco menos de 4,5 segundos, estando a velocidade máxima limitada eletronicamente a 250 km/h. Ou seja, desempenho semelhante aos atingidos pelos sensacionais motores V12, que ao longo de décadas foram considerados como autênticas obras-primas nesta indústria.
Mesmo que as entregas aos primeiros clientes só devam ocorrer no terceiro trimestre de 2023, todos os clientes multimilionários podem começar a deixar um sinal para a sua reserva e pagar o restante, que fica entre os 450.000 e 550.000 euros (posicionado entre o Cullinan e o Phantom), em até um ano. Convertendo, o valor total do Rolls-Royce Spectre deve ficar próximo dos R$ 2,1 milhões.