Goodwood 2023 completa 30 anos e se torna um “salão do automóvel”
O encontro de antigomobilistas, que existe há 30 anos, está se tornando um evento de lançamentos de carros, de todos os segmentos
Em 1936, o Lord de March (9º Duque de Richmond) construiu uma rampa no jardim da sua mansão em (em West Sussex, na Inglaterra), para poder exercitar os seus dotes de piloto, que, cinco anos antes, lhe tinham permitido ser o primeiro a receber a bandeira xadrez no, hoje histórico, circuito britânico de Brooklands. Logo nesse ano, organizou uma competição na rampa com veículos do Club Lancia, que, sem surpresa, venceu.
O seu neto, o atual Conde de Richmond, inspirou-se nas façanhas do avô para organizar o primeiro Festival de Velocidade de Goodwood, em 1993. Logo nessa edição inaugural houve 25.000 espectadores, deixando evidente o enorme potencial do evento que, precisamente 30 anos depois, junta cerca de 200.000 pessoas ao longo do fim de semana prolongado em junho ou julho, de cada verão.
O fato de já não existir nenhum salão de automóveis de relevo internacional (ou mesmo nacional) no Reino Unido tem sido bem aproveitado pelo Conde para ampliar ainda mais a temática desta que é a maior concentração de carros de corrida clássicos e modernos, mas que já vai muito além desse contexto.
Este ano, fora a habitual presença de carruagens a vapor do século 19, dragsters com combustível aditivado e milhares de cavalos, carros de ralis, glórias dos sport-protótipos e pilotos de diferentes épocas e categorias, o destaque foi para a celebração de mais de uma mão cheia de aniversários (75 anos da Porsche, 75 anos de Lotus, 100 anos de Le Mans, 60 anos da McLaren, 50 anos do Mundial de Ralis, 75 anos da NASCAR), devidamente abrilhantados pela presença de lendas humanas e motorizadas da F1, por leilões de carros históricos e uma grande quantidade de novos modelos em estreia mundial, entre os quais o McLaren Solus GT, que, logo no seu batismo, foi o vencedor da subida da rampa (shoot-out) de domingo, estabelecendo o tempo mais rápido na prova deste ano.
A Porsche brilhou
Como todos os anos, pavilhões, gramados de exposição, paddocks, parques de motorhomes e zonas de entretenimento espalham-se ao longo e nas imediações da subida com 1,87 km de extensão e por onde desfilam – em ritmo de passeio ou em sprints frenéticos – a maioria das grandes estrelas do evento.
A abertura do festival foi marcada pelo desfile do anfitrião aristocrático ao volante do seu Jaguar D-Type, tal como há precisamente três décadas. Pela primeira vez na história, porém, os previstos quatro dias de festa acabam por ser reduzidos a três. O mau tempo levou ao cancelamento de um dos dias (o sábado), pelo temor da organização de que as rajadas de vento (previstas acima dos 50 km/h) pudessem causar danos materiais e colocar em perigo os milhares de visitantes.
A Porsche foi a grande homenageada (pela quarta vez na história do evento). Com alguns dos modelos mais icônicos, a famosa escultura de Gerry Judah apresentava os modelos 804, 962, 963, 356 e as variações 992 e 997 do 911. Naturalmente que um dos desfiles na subida da rampa teve como temática os modelos mais famosos da Porsche, desde o Spyder 718/8, de 1961, até o 963, de 2023.
Máquinas e pilotos
Não é fácil perceber quem tem mais protagonismo em Goodwood, se os monopostos ou os pilotos de F1. Este ano, como de costume, foram vários os que cansaram de conceder autógrafos, como os já aposentados Jenson Button, Mika Häkkinen, Damon Hill, Mark Webber, Esteban Gutiérrez, Sir Jackie Stewart e os ainda na ativa Oscar Piastri, Alex Albon ou Mick Schumacher, o atual piloto de reserva da Mercedes, que viveu e proporcionou um momento bastante emotivo quando assumiu o volante do Mercedes-AMG F1 W02 que o seu pai guiou durante a temporada de Fórmula 1 de 2011.
Tom Kristensen, o recordista de vitórias na centenária corrida de Le Mans, também compareceu. Mas a principal estrela entre os notáveis este ano foi Sebastian Vettel.
Campeão do mundo quatro vezes, esteve em várias frentes mesmo tendo participado do festival apenas no domingo: primeiro como proprietário de dois F1 históricos, ao volante dos quais subiu a rampa (o Williams FW14B nº 5 com que Nigel Mansell se sagrou campeão mundial em 1992 e o McLaren MP4/8 com que Ayrton Senna conseguiu o vice-campeonato em 1993), mas também fazendo uso dos seus dotes de piloto, não só pela velocidade alcançada como também pelos rodopios com que fez questão de deixar a multidão em delírio durante esse desfile acelerado.
Os pilotos que fizeram história e devolveram a glória à Ferrari nas recentes 24 Horas de Le Mans (James Calado, Antonio Giovinazzi e Miguel Molina) estiveram presentes e viveram o seu momento na varanda da mansão, acenando a uma multidão em delírio, até pela presença de algumas das Ferrari mais importantes na história de Le Mans (a Ferrari não participava oficialmente na categoria principal há 50 anos), incluindo o vencedor da prova deste ano.
Leilão de relíquias
Os visitantes puderam ver (e alguns poucos comprar) cerca de 240 clássicos reunidos pela Bonhams Cars para o leilão de sexta–feira à tarde, dentre os quais brilharam (mesmo debaixo de chuva e um céu carregado de nuvens escuras) um Aston Martin DB5 de 1964 que se tornou famoso nas mãos de James Bond (vendido pelo equivalente a 380.000 euros) e um Mercedes-Benz SLR McLaren Crown Edition Coupé (arrematado por cerca de 438.000 euros).
A principal estrela, porém, foi o Koenigsegg CCGT GT1 Competition Coupé de 2007. Esse carro foi projetado pelo exclusivo fabricante sueco para competir nas 24 Horas de Le Mans de 2007, o que nunca chegou a acontecer devido a uma mudança no regulamento da corrida. O seu novo proprietário pagou nada menos de 3,84 milhões de euros para levar esta peça única para casa, um valor que representou quase 1/3 dos 12,41 milhões de euros de receita da prestigiada empresa de leilões britânica só na tarde de 14 de julho em Goodwood.
Ao lado dos espaços destinados às relíquias, havia diferentes pavilhões de diversos fabricantes de automóveis de maior ou menor dimensão, exibindo vários veículos, muitos dos quais em estreia mundial absoluta.
Alguns dos que mais atenção mereceram: Alpine A290 Beta, Bentley Speed Six Continuation, Caterham Project V, Ferrari KC23, Ford Explorer EV, Genesis X Convertible, Hyundai Ioniq 5 N, Ineos Grenadier Quartermaster, Kia EV9, Lamborghini SC63 LMDh, McLaren Solus GT, MG Cyberster, Porsche 718 Spyder RS, Renault R5 Turbo 3E e Porsche 911 Reimagined by Singer DLS Turbo Project.