O Honda Civic VTi de quinta geração se despediu do mercado há mais de 20 anos, mas o passar do tempo não extinguiu sua espécie. Ainda hoje é como um vulcão dormente, sem sinais de atividade: a qualquer momento pode entrar em erupção, surpreendendo a todos.
A aparência pacata da versão hatch escondia um esportivo feroz, dono de tecnologias incomuns à época. A quinta geração (denominada EG) exibia linhas fluidas e arredondadas – a supressão da grade frontal marcava a sobriedade do desenho e a eficiência aerodinâmica.
O baixo peso e as suspensões de braços sobrepostos nas quatro rodas resultavam em um comportamento dinâmico irrepreensível, perfeito para o lendário B16A de 1,6 litro. Esse motor tinha quatro cilindros e 16 válvulas, entregando espantosos 160 cv – quase a mesma potência de um Omega CD (dono de um 6 cilindros 3.0).
Para ter uma ideia do impacto, nossos melhores esportivos eram o Gol GTI e o Kadett GSi, com motores 2 litros e não mais que 121 cv. Com a mesma cilindrada, o Uno 1.6R não passava dos 86 cv.
O segredo estava no comando variável VTEC, com dois perfis de acionamento das válvulas de admissão e escapamento. O primeiro atuava em baixas rotações, garantindo consumo moderado e dirigibilidade dócil. O segundo perfil entrava em ação a partir das 4.500 rpm, fazendo com que o motor girasse praticamente livre até o corte de giros (a 8.200 rpm).
A dupla personalidade do motor era um atrativo: a transição do comportamento pacato do primeiro perfil para a selvageria do segundo fez a fama e a pegada do VTEC – até o ronco mudava em altas rotações.
Com aceleração de 0 a 100 km/h em 8,5 segundos e máxima de 211 km/h, o Civic VTi tornou-se referência em desempenho numa época em que nossos esportivos cumpriam a mesma prova de aceleração em mais de 10 segundos, sem sequer chegar aos 190 km/h.
Mas a boa sensação ia além dos números: era confortável e oferecia o mesmo status de importados duas ou três vezes mais caros.A crença de que seria inquebrável foi colocada à prova em 1993, quando foi incorporado ao Longa Duração. Após 60.000 km, foi aprovado com louvor.
Moderno, o VTi pouco sentiu o peso dos anos. Fabricado em 1995, este exemplar pertence ao paulistano Flavio Ferreira e ainda hoje parece atual. “É uma verdadeira lenda dos anos 90”, diz o fã e proprietário.
O Civic de sexta geração (EK) chegou por aqui em 1997. Porém, sua importação foi suspensa no mesmo ano, após o início da produção do Civic sedã, em Sumaré (SP).
Apresentada em 2000, a sétima geração não exibia o mesmo apelo: a suspensão dianteira McPherson e traseira por eixo de torção foram consideradas um retrocesso pelos puristas. E o motor K20A3 de 2 litros da versão Si rendia os mesmos 160 cv da geração anterior a baixos 6.500 rpm. Para muitos entusiastas, apenas os Civic quinta e sexta gerações merecem ser reverenciados.
Evolução anunciada
O Civic VTi da geração EK serviu de base para outra lenda: o primeiro Civic Type R. Nessa versão, o hatch perdia peso e ganhava desempenho: o motor B16B rendia 185 cv a 8.200 rpm. O câmbio curto com diferencial autoblocante permitia acelerações de 0 a 100 km/h em 6,8 segundos.
Motor | 4 cilindros em linha de 1,6 litro, 160 cv a 7.600 rpm, 15,3 mkgf a 7.000 rpm |
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Câmbio | manual de 5 marchas |
Dimensões | comprimento, 408 cm; largura, 169 cm; altura, 134 cm; entre-eixos, 257 cm; peso, 1.080 kg |
Desempenho | 0 a 100 km/h em 8,5 segundos, velocidade máxima de 211 km/h |