Este é o único Hyundai HB20 2023 com motor 1.6 16V (e também o menos equipado). Mas já posso adiantar: é muito mais empolgante que qualquer outro.
Após quatro temporadas correndo com o visual lançado para a linha 2016, os carros da Copa HB20 ganham uma nova geração e uma série de melhorias. Mas a produção será limitadíssima: pouco mais de 40 unidades, só para compor o grid da categoria – o maior do automobilismo brasileiro.
Pela primeira vez em quatro anos o carro de pista terá o mesmo visual dos carros de rua novos. Nesse meio tempo, o HB20 mudou de visual duas vezes e ficou maior, com ganho de quase 4 centímetros no entre-eixos. “Isso tende a deixar o carro mais neutro nas curvas”, explica Fabiano Cardoso, piloto e diretor técnico da H Racing, responsável por transformar o Hyundai HB20 em carro de corrida.
Os veículos de pista não deixam de ser um HB20. Faróis (com DRL, inclusive), para-choques, lataria, lanternas interligadas e até as portas (todas funcionais) são dos carros de rua. O máximo que fazem é retirar as chapas metálicas internas das portas, bem como todos os plásticos do acabamento e isolantes térmicos e acústicos. Vidros laterais e traseiro são trocados por policarbonato, mais leve.
O peso que sai é quase todo compensado pela gaiola de proteção. O carro ainda tem banco de competição com cinto de seis pontos e equipamentos para extinção de incêndio. “Nós estamos definindo com a Hyundai todos os componentes do carro de rua que usamos para não ter desperdício na hora de montar os carros do grid”, conta Fabiano.
As poucas peças que sobram na cabine são as maçanetas das portas e o pedaço do console com o seletor do câmbio, que a partir desta temporada é sequencial. “Acontecia muito de os pilotos errarem a marcha e quebrarem o câmbio manual”, explica Alexandre Highlander, responsável pela programação do novo câmbio.
Na verdade, não é tão novo assim. O ponto de partida para a mecânica é o Creta Action, única versão do SUV que mantém o visual antigo. Ou seja, toda a preparação é feita no motor 1.6 16V da família Gamma, que originalmente gera 130 cv e 16,5 kgfm, e também no câmbio automático de seis marchas fabricado pela própria Hyundai. O mais surpreendente é que nenhum componente do conjunto mecânico é substituído, o que muda é a inteligência por trás dele.
Highlander conta que começaram a trabalhar no câmbio automático há cerca de um ano, otimizando seu funcionamento nas pistas. O segredo está em um módulo programado pela própria H Racing, que se encarrega de fazer as trocas mais rápidas e reduções em rotações mais elevadas, sempre por meio das borboletas de alumínio atrás do volante. Até o conversor de torque está preservado.
Na verdade, a alavanca tradicional só serve para indicar ao módulo que o piloto está pronto. O resto da operação é feito pelas borboletas, como em um câmbio sequencial de competição, e isso acabou me enganando.
Entre os stock
Nossa experiência com o novo Hyundai HB20 de corrida foi em Interlagos, entre os treinos da última etapa da Stock Car. Na pressão para aproveitar a hora de pista reservada, atento às lições de Fabiano sobre a rotação a ser mantida, a força a ser feita nos freios e o controle da velocidade em cada situação.
O carro de corrida não traz assistências. O motor da direção elétrica existe na coluna, mas desativado. O freio não tem hidrovácuo, tampouco ABS, só pastilhas dianteiras de competição, porque o traseiro ainda é a tambor. E o motor 1.6 foi reprogramado para chegar a 160 cv e 20 kgfm, números próximos do 2.0 da Hyundai, às custas de um torque em baixa que nem o coletor de escape 4x2x1 consegue devolver.
Ou seja, por mais que a base seja um Hyundai HB20 automático, este é um carro de corrida raiz. E faz um barulho ensurdecedor e treme como tal – até mesmo porque o núcleo de borracha dos coxins do motor deu lugar a poliuretano.
A suspensão aproveita a estrutura do carro de rua, mas recebe amortecedores com mais carga e molas de competição. O carro fica mais duro, mas também mais responsivo nas curvas: é muito fácil controlar, tanto que a traseira escapa nas curvas só modulando a velocidade e a aceleração. Os pneus Goodyear Eagle 2, de rua, ajudam na diversão.
Desavisado, ia trabalhando as reduções de marcha de forma a não depender tanto dos freios, ao mesmo tempo que estranhava a rapidez das trocas sem um tranco tão forte, típico de câmbios sequenciais de competição. Aliás, com direito a punta-taco eletrônico, elevando o giro nas trocas.
De volta aos boxes é que fui descobrir que se tratava de um câmbio automático, inclusive com as mesmas relações do carro de rua. Ou seja, essa temporada vai acabar funcionando como um laboratório para provar a robustez desse câmbio automático.
A Copa HB20 é uma categoria do tipo senta e corre. Todos os carros são iguais e de responsabilidade da organização da competição, que é uma das mais baratas no Brasil. O custo para as oito corridas da temporada 2023 ficará em cerca de R$ 240.000, um pouco mais que os cerca de R$ 200.000 cobrados nos últimos anos. Há uma divisão entre o nível de experiência entre os pilotos, mas todos correm juntos.
Agora a H Racing se prepara para receber os novos chassis e finalizar os carros, porque a primeira corrida será em 1o de abril, em Goiânia (GO).
Veredicto
Não é o carro mais rápido, mas é envolvente e de aprendizado fácil. Isso e o baixo custo democratizam o automobilismo no Brasil.
Ficha Técnica
Preço: R$ 240.000 (temporada)
Motor: álcool, dianteiro, transversal, 4 cilindros, 1.591 cm³, 16V, 77 x 85,4 mm, 160 cv a 6.000 rpm, 20 kgfm a 5.200 rpm
Câmbio: aut. sequencial de seis marchas
Direção: mecânica
Suspensão: McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira)
Freios: disco ventilado com pastilhas de competição (diant.) e tambor (tras.), sem ABS
Pneus: 195/55 R15
Dimensões: comprimento, 401,5 cm; largura, 172 cm; altura, 147 cm; entre-eixos, 253 cm; peso, 870 kg; tanque, 50 l