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Indústria de carros brasileira teve déficit de R$ 100 bilhões em 10 anos

Dados da Anfavea, associação das fabricantes instaladas no país, apontam prejuízo bilionário gerado pelo setor na última década. De quem é a culpa?

Por Leonardo Felix
Atualizado em 6 fev 2020, 15h46 - Publicado em 6 fev 2020, 14h06
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  • chevrolet onix na linha de montagem

    A Anfavea (Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores) divulgou nesta quinta-feira (6) um balanço de evolução do mercado brasileiro na última década, entre 2010 e 2019.

    De acordo com o órgão, a indústria automotiva nacional registrou um déficit de US$ 24 bilhões no período, o que, na atual conversão entre dólar e real, equivaleria a R$ 102 bilhões.

    Em seu cálculo, a Anfavea leva em conta, com dados do Banco Central do Brasil, o balanço entre aportes financeiros das matrizes versus remessas de lucros e dividendos. QUATRO RODAS já havia apontado essa tendência no fim do ano passado.

    Os dados oficiais da associação apontam que, enquanto as filiais receberam US$ 29,2 bilhões em investimentos, remeteram US$ 18,9 bilhões, uma diferença de US$ 10,3 bilhões (ou R$ 43,6 bilhões).

    Mas não teria ficado só nisso. Ainda segundo informações da Anfavea, as fábricas locais receberam US$ 46,7 bilhões em empréstimos das matrizes no período, ao mesmo tempo em que foram capazes de amortizar US$ 32,9 bilhões. O degrau, aqui, é de US$ 13,8 bilhões negativos (ou R$ 58,4 bilhões).

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    De quem é a culpa? Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, aponta alguns fatores. O mais grave, para ele, seria a forte crise econômica que afetou o Brasil entre 2014 e 16, quando o mercado automotivo nacional caiu mais de 40% (de 3,71 milhões de veículos produzidos em 2013 para 2,18 milhões em 2016.

    Modalidade Participação no capital

    (em US$ bilhões)

    Aportes líquidos Lucros e dividendos remetidos
    2010 0,4 5,8
    2011 1,1 5,0
    2012 1,1 3,0
    2013 1,8 3,1
    2014 2,9 0,8
    2015 4,4 0,1
    2016 6,6 0,1
    2017 3,9 0,1
    2018 4,5 0,3
    2019 2,5 0,4

    Mesmo com a lenta recuperação vivida a partir de 2017, ainda assim o faturamento das fabricantes saiu de um pico de mais de US$ 90 bilhões registrado em 2011 para cerca de US$ 60 bilhões em 2019, queda de 35%.

    Também conforme adiantado por QUATRO RODAS, a balança do setor virou abruptamente de 2013 para 14. Entre 2010 e 13, a indústria registrou superávits constantes na remessa de lucros e dividendos (embora já com tendência de desaceleração), totalizando saldo positivo de US$ 13,5 bilhões (R$ 57,1 bilhões).

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    Modalidade Empréstimo intercompanhia

    (em US$ bilhões)

    Ingressos Amortizações
    2010 0,7 0,4
    2011 1,2 0,3
    2012 0,5 0,2
    2013 2,0 1,2
    2014 3,0 1,7
    2015 5,7 3,5
    2016 5,5 6,1
    2017 9,3 6,8
    2018 10 6,7
    2019 8,8 6,0

    Se considerado só o período de 2014 a 19, o prejuízo entre remessas e aportes foi de US$ 23 bilhões (R$ 97 bilhões). Já em relação a empréstimos e amortizações, o saldo foi negativo em todos os anos da década exceto 2016.

    Como consequência, o Brasil caiu de quarto maior mercado do mundo em 2014 para oitavo em 2018, com perspectiva de que tenha voltado a subir ao sexto lugar em 2019 (os números ainda não foram comparados).

    Outro fator, na visão do executivo, foi a falta de evolução nos números de exportação. O percentual de veículos exportados em relação ao total da produção jamais passou de 28% (dado de 2017) ao longo da década, tendo ficado em apenas 14% no ano passado. Já o faturamento oscilou sempre entre US$ 3,9 bilhões e US$ 6,6 bilhões, ficando em US$ 5,3 bilhões em 2010 e US$ 4,5 bilhões em 2019.

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    “Exportação é nosso grande desafio. Precisamos ser mais competitivos e amarrar mais acordos para não ficarmos tão dependentes da América do Sul”, avalia Moraes, que aponta a Argentina como a principal responsável pela queda recente nos números.

    Além disso, segundo ele, cerca de 12,5% do valor de cada veículo brasileiro exportado seria formado por resíduos tributários. “Nenhum país exporta impostos como o nosso. E nenhum mercado quer pagar imposto de outro pais”, analisa.

    Automóveis de 1000cm3 % de imposto
    2010 (31/01 a 31/03) 24,4%
    2010 a partir de abril 27,1%
    2011 27,1%
    2012 (23/08 a 31/12) 22,2%
    2013 23,1%
    2014 24,4%
    2018 a 2019 27,1%

    Para a Anfavea, este é o terceiro fator: a carga tributária brasileira seria responsável por abocanhar 30% do faturamento da indústria. Pelos cálculos da entidade, impostos formaram 27,1% do preço de um carro 1.0 flex em 2018 e 19, e 29,2% de um veículo também bicombustível com motorização até 2 litros.

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    Automóveis com mais de 1.000cm3 a 2.000 cm3 – Etanol/ Flex % de imposto
    2010 (31/01 a 31/03) 27,1%
    2010 a partir de abril 29,2%
    2011 29,2%
    2012 (23/08 a 31/12) 23,4%
    2013 26,8%
    2014 28%
    2018 a 2019 29,2%

    Por fim, a associação aponta que apenas 53% dos carros novos vendidos no país são negociados com financiamento, enquanto chega a 85% nos Estados Unidos e a 89% no Reino Unido.

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