Sanções internacionais vêm obrigando o Irã a ser criativo para repor sua frota automotiva. Por conta disso — e da fuga de marcas estrangeiras, que saíram do país temendo represálias — uma montadora local decidiu ‘requentar’ um velho conhecido (nosso, inclusive) e colocá-lo à venda.
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Segunda maior fabricante do país persa, a Saipa anunciou que produzirá, sem qualquer relação com Renault ou Dacia, a primeira geração do Logan. De acordo com o CEO Javad Soleimani, a empresa já conseguiu fabricar 85% dos componentes do veículo e, em breve, iniciará sua comercialização.
Essa espécie de engenharia reversa só é possível por conta da antiga parceria de Saipa e Renault no Irã, quando a linha Logan era fabricada e vendida por lá sob os nomes de Tondar 90 e Pars Tondar.
Em plena expansão no promissor mercado iraniano, a Renault recuou e largou de vez a região quando o presidente americano Donald Trump retomou, em 2018, embargos ao país persa, acusado de enriquecer urânio para fabricação de armas nucleares.
“No início das sanções, quando a Renault deixou o Irã, nós da Saipa embarcamos no plano de produzir o L90 dentro de 18 meses, usando infraestrutura construída no país”, explicou Soleimani.
Com maquinário e operários capacitados disponíveis, a Saipa lida com um mercado cada vez mais sem opções, já que outras montadoras seguiram o mesmo caminho da Renault e abandonaram o país.
De acordo com a fabricante, as unidades virão com padrão de qualidade superior ao aplicado durante os tempos de parceria. A Saipa não detalhou, entretanto, se haverá modernização em partes ultrapassadas do projeto, como seu obsoleto interior.
O Logan não é o primeiro carro a ser ‘clonado’ pelo Irã: ano passado a maior fabricante local, IKCO, seguiu o mesmo roteiro e começou a fabricar o Peugeot 301, modelo 2012, por conta própria. Ainda que os iranianos tenham acesso muito restrito a material tecnológico, o modelo usa até mesmo o motor EC5 1.6 16V.
De acordo com analistas internacionais, a China é uma das principais responsáveis por auxiliar Teerã a driblar as sanções. Não à toa a Saipa comercializa diversos modelos chineses por lá.
Mercado automotivo no Irã
Com pouco mais de 80 milhões de habitantes, o Irã vive uma situação semelhante à da Venezuela: grande oferta de petróleo, uma população cada vez mais empobrecida e sanções que dificultam acesso a bens importados.
Dados oficiais dão conta que, em 2019, 777 mil automóveis foram produzidos por lá, contra 1,418 milhão em 2018. Essa queda se justifica pelo imenso impacto das inesperadas sanções impostas pelo presidente que dará lugar a Joe Biden em janeiro.
A curiosa mão-de-obra iraniana — barata e ao mesmo tempo bem capacitada — serviu para que cerca de 40 montadoras manifestassem em ter o país como um centro de referência para o Oriente Médio. Trump, entretanto, frustrou tais planos e, com a volta das sanções, restaram apenas os ‘novos’ Logan e 301 e opções da China.
No final do ano passado, o CEO da Saipa ainda destacou papel do Exército na busca por peças de reposição à frota nacional. “Com ajuda do Ministério da Defesa, 35 tipos de peças automotivas serão produzidas no Irã a fim de driblar a dependência da cadeia global”, discursou Soleimani.
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