Meus colegas de TV e eu recentemente tivemos de visitar Whitby, no norte da Inglaterra, e isso suscitou na redação um debate sobre como iríamos até lá. Se escolhêssemos algo confortável e silencioso para lidar no anda e para da rodovia superpoliciada M1, não teria graça nenhuma quando chegássemos pelas curvas da gloriosa estrada rural no meio do caminho. No final decidimos trapacear e usar um trem de Londres até York, o que custa mais do que ir num elefante dourado, mas atualmente leva uns 3 minutos. E daí usaríamos o carro para o trecho final.
Mas qual modelo? A tentação, é claro, era escolher algo idiota – um Lamborghini Aventador ou a nova e realmente linda Ferrari GTC4Lusso. Mas a verdade é que carros para se exibir como esses são feitos para funcionar principalmente em cidades.
Então, bem rapidamente, nós três decidimos por unanimidade que um hot hatch seria perfeito para a tarefa. E isso causou outro debate. Não tenho amenor dúvida de que o melhor da turma é o pequeno Ford Fiesta ST. Mas eu já o tinha avaliado e de qualquer jeito ele foi logo escolhido pelo Richard Hammond.
E antes que eu pudesse respirar para dizer “Então eu vou de Ford Focus RS“, James May baixou seu cachimbo, ajustou seus chinelos e ficou com ele. Então eu refleti um pouco e me lembrei que a Volkswagen recentemente tinha batido o recorde de volta de carros de tração dianteira de Nürburgring com um modelo chamado Golf GTI Clubsport S.
Em essência é um GTI, mas graças a um monte de feitiçarias eletrônicas sob o capô, gera tremendos 310 cv.
E tem mais. A suspensão ficou priápica. A carroceria está mais rígida. Banco traseiro, tampão do porta- malas e vários pedaços de carpete foram removidos. Como resultado, ele é mais firme, rígido e leve e, como vimos quando ele quebrou aquele recorde de volta, muito, muito rápido.
É exatamente o tipo de carro que seria terrível de conviver no dia a dia, mas perfeito para um assalto vespertino a Whitby. Eu estava muito feliz com minha escolha, até que fui avisado de que o Clubsport S é uma edição limitada, e não havia uma unidade disponível.
Em vez disso, acabei com um exemplar do carro construído para celebrar o 40º aniversário do GTI. Chamado de Clubsport Edition 40, ele parece um Clubsport S, mas vem com carpetes, bancos traseiros e todos os luxos que você poderia esperar. Você até pode comprá-lo em versão quatro portas (o que é uma coisa bem pouco Clubsport).
Tudo isso significa que ele é um GTI com alguns defletores e um pouco de feitiçaria eletrônica sob o capô. O que quer dizer que ele nada mais é do que uma versão ligeiramente mais cara do GTI eu já tenho.
Ele trazia um volante mais bonito, tenho de admitir. E bancos adoráveis. Mas tinha câmbio manual, o que é um incômodo em York, onde os semáforos permanecem vermelhos uns seis anos e logo depois piscam em verde. Levou mais tempo para sair da cidade do que tinha levado para vir de Londres até ela.
Quando, enfim, encontrei a pacata estrada a caminho do trajeto final, estava bem atrás do Hammond no seu pequeno Fiesta, mas sempre é possível alcançar o May. Mesmo se você estiver em uma mula com uma perna machucada.
Lá fui eu e logo percebi que o Clubsport Edition 40 é mais que um presente da VW para si mesma. Os números sugerem que são só 35 cv a mais do que o GTI padrão, mas quando você afunda o pé direito, entra em ação um recurso de overboost que disponibiliza 290 cv. Isso obriga as rodas dianteiras patinarem, o que faz com que o controle de tração passe ao modo intrometido. O que quer dizer que, se você quiser essa potência por esse dinheiro, estará melhor com o Golf R, com tração integral.
Porém – e esse é um grande porém -, no meu GTI normal (que eu escolhi para não precisar explicar às pessoas nas festas o que é um R) definitivamente existe um “buraco” na entrega de potência. Quando você quer ir só um pouquinho mais rápido e pisa um pouquinho mais no acelerador… não acontece nada.
É quase certo que isso se deve a algum tipo de programa de controle de emissões ridículo na central eletrônica do motor, mas passa a sensação de lag (retardo) de turbo, e é irritante. Já no Clubsport Edition 40, isso não acontece. O movimento do seu pé é traduzido instantaneamente em uma mudança de ritmo. Isso torna o carro todo mais alerta e vivo.
Eu adoraria dizer que o chassi também é mais afinado, porque provavelmente é. Mas a verdade é que o carro passa a mesma sensação do GTI comum. O que significa que sua suspensão é extremamente inteligente ao passar por irregularidades e depois agarrar o asfalto nas curvas.
A VW inclusive diz que o defletor dianteiro e o aerofólio traseiro maior efetivamente criam pressão aerodinâmica quando você passa dos 120 km/h. Então, para não bater, você só precisa aumentar a velocidade.
O Hammond vai lhe dizer que o Fiesta ST é mais divertido – e ele está certo – e o May vai lhe falar que o Focus RS é melhor nos extremos. Mas como uma combinação de tudo o que você precisa, o VW está em uma categoria própria.
É a mesma história com o interior. Tudo passa uma sensação de alta qualidade que você não tem nos dois modelos da Ford, além de muitos equipamentos que vêm de série.
É claro que ele não é tão bom quanto o Golf R. Este é um carro admirável, um carro brilhante. Mas se você quiser um GTI porque… bem, porque você quer um GTI, esta versão Clubsport Edition 40 faz muito sentido. É o meu carro com alguns belos toques de estilo e a correção do “buraco” de desempenho causado pelos burocratas de Bruxelas.
O Richard discordou. E o James também – quando ele finalmente chegou ao hotel. Ficamos discutindo sobre isso até altas horas da noite. É bom estar de volta.