Hoje, você deveria estar lendo sobre alguma nova caminhonete da Mitsubishi. Mas, no último instante, um cara da empresa me ligou e disse que não cederia o veículo para mim, porque um utilitário voltado para canteiros de obras não seria de muito interesse para os leitores habituais da minha coluna.
Para piorar as coisas, o cara da Mitsubishi também disse que meu agendamento para dirigir um tipo de carro elétrico, dentro de algumas semanas, também foi cancelado. “O Dom Joly já fez uma matéria sobre ele para o mesmo jornal para o qual você escreve”, foi a explicação dele.
Não sei se esse argumento faz sentido. As distribuidoras de filmes não proíbem um articulista de fazer a resenha de um filme só porque outra matéria sobre o mesmo já foi publicada no mesmo jornal ou revista. Restaurantes não banem um crítico gastronômico porque outro já escreveu sobre o estabelecimento no mesmo veículo de comunicação.
Eu acho que é bem óbvio o que aconteceu. O sujeito da Mitsubishi não deve ter gostado da resenha firme, mas justa, que fiz do plug-in Outlander PHEV deles no ano passado, e isso deve ter me colocado na lista negra da empresa.
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Tudo bem. Eu não me importo. Secretamente, fico orgulhoso. Mostra que estou fazendo meu trabalho direito. E certamente não vou acordar toda manhã lamentando: “Oh, não vou dirigir um Mitsubishi hoje. Vou ter de me contentar com um Mercedes AMG GT”. Nem chega a ser um problema profissional, porque se eu realmente precisar testar um Mitsubishi, eu simplesmente alugo. E se precisarmos de um para meu novo programa de TV, eu compro.
Ao longo dos anos, fui banido diversas vezes pela Toyota por dizer que o Corolla era tão interessante quanto um freezer da geladeira; pela GM, por me recusar a fazer qualquer menção ao Vectra; e pela BMW, por dizer que seus carros são dirigidos por tolos. Estranhamente, no entanto, nunca fui banido pela Peugeot.
Não tive uma palavra gentil a dizer sobre os produtos deles por muitos anos. No ano passado, eu até devotei um bom tempo do Top Gear ridicularizando seus clientes. E, mesmo assim, o departamento de RP deles continua voltando, querendo mais.
Talvez, em uma tentativa de sofrer mais dor e humilhação, na semana passada a empresa mandou seu novo 308 GTi, vermelho na parte da frente e preto na de trás. Instantaneamente isso despertou o cinismo que habita a minha cabeça. “A única razão pela qual eu faria isso”, disse ele, “é para tirar sua mente de todos os pontos negativos do carro.”
Dentro tinha mais: o volante é do tamanho aproximado de um botão de camisa e fica em posição mais baixa que todos os mostradores do quadro de instrumentos. Até que você o levante para não ficar mais entre seus joelhos, e daí ele fica exatamente na frente de todos os mostradores do quadro de instrumentos. Rotações? Velocidade? Nível de combustível? Nenhuma ideia.
“Isso é feito de propósito”, diz o cínico dentro de mim. “Porque, se ficar focado na invisibilidade dos mostradores e na pintura da carroceria em duas cores, você não vai perceber que o espelho retrovisor da porta caiu e o rádio está quebrado.”
Ocorre que, no entanto, nada realmente estava quebrado. Na verdade, tudo parecia bem mais sólido e mais bem construído do que o normal em um Peugeot moderno. O que, para mim, significa todos os modelos que a empresa produziu desde 1971.
E tem mais. A maioria das funções agora é controlada por uma tela montada centralmente que é um triunfo do bom senso. Exceto pelo botão Sport, aquele que torna o carro mais vigoroso. Ele fica no console central, e quando você o aperta, todos os mostradores do quadro de instrumentos ficam vermelhos. Bem, é o que dizem, porque tudo o que eu podia ver era o volante.
E isso me irritou, porque o sistema que ele controla não é lá muito brilhante. Não há uma sensação real. Não passa qualquer sensação de que está se concentrando na tarefa. Tudo bem quando você está passeando na cidade, mas quando quer acelerar, ele não proporciona alegria verdadeira. O que é uma pena, porque o resto do conjunto faz isso aos borbotões.
O 308 GTi pode ter um motor 1.6 (a maioria dos concorrentes vem com um 2.0), mas não lhe falta energia. Também tem um câmbio manual em vez de um automático com borboletas atrás do volante, mas é muito, muito divertido. Parece que finalmente a Peugeot conseguiu recapturar parte da magia que tornou o 205 GTI um sucesso no início dos anos 80.
Esse é um carro para o qual você encontrará uma desculpa para dirigir. Sim, ele é prático e sensato para levar as crianças para a escola. Mas depois de deixar os filhos, ele consegue fazer o tradicional truque dos hot hatches de trocar as rasteirinhas por botas de salto alto de festa. Ele se torna uma máquina sensual, capaz de entregar o que se espera.
Comparado aos concorrentes da Volkswagen e Ford, ela oferece um custo-benefício muito bom. Mas tão boa quanto? Essa é a grande questão, não é? Eu tenho um Golf GTI por diversas razões. Minha mãe sempre teve Fuscas. E eu quero apoiar a VW no problema das emissões. É bem provável que nada disso importe para você. Talvez você seja alguém que está se saindo bem na carreira profissional e prefira o Ford Focus ST, um trabalhador de origem humilde que pode frequentar os mesmos lugares que as elites. Bruce Springsteen com limpadores de para-brisas.
Todos temos nossas razões para gostar mais de carros de uma marca do que de outra. Meu filho tem um Fiat porque ele gosta do futebol italiano. Eu tinha um Mercedes porque isso irritava o Richard Hammond. Meu avô tinha um Bentley para irritar os donos de Rolls-Royce. Algumas pessoas escolhem veículos da Mitsubishi porque… bem…. olha, não sei como explicar isso no momento.
E daí temos aquelas pessoas que querem comprar um carro francês porque, depois dos atentados de Paris, querem mostrar seu apoio. Eles gostam da Peugeot porque, há muito tempo, tiveram um 205 1.9 GTI e reconhecem que seu equivalente moderno os ajudariam a reacender parte de sua juventude perdida.
A boa notícia é que, pela primeira vez em muito tempo, vocês podem. Vocês podem seguir seus corações, comprar um 308 GTi e não passar os próximos anos se arrependendo.