M113: dirigimos o veículo que é considerado o Fusca do Exército Brasileiro
Robusto, simples e fácil de manter, o M113 BR navega na água, encara os piores pisos, não tem volante nem pedal de freio e usa esteiras no lugar das rodas
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Já dirigi coisas estranhas: triciclo que inclina nas curvas (Carver One), moto que dá marcha a ré (Honda Gold Wing), carro anfíbio (VW Schwimmingwagen) e trator com joysticks no lugar de volante e pedais (Caterpillar 12M).
Veículo militar sobre lagartas foi a primeira vez.
Pilotei o modelo M113 BR cedido pelo Parque Regional de Manutenção da 5ª Região Militar, de Curitiba (PR), que é um departamento responsável pela operação desse e de outros carros de combate do Exército brasileiro.
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O M113 BR tem um modo de condução bem esquisito. Além da ausência das rodas em contato com o piso, ele não tem volante e nem pedal de freio.
O M113 BR é controlado por manches que comandam dois diferenciais e possibilitam realizar todas as manobras. De convencional, só há o pedal do acelerador.
O câmbio é automático, mas permite que se selecione a combinação das marchas: são três à frente e uma marcha a ré.
A alavanca tem seis posições: 1 (só vai até a 1ª, para maior força), 1-2 (até a 2ª), 1-3 (até a 3ª), 2-3 (varia da 2ª a 3ª para maior velocidade), N (neutro) e R (ré).
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Seus diferenciais trabalham de forma independente, um para cada lado do veículo, transmitindo a força do motor às engrenagens que tracionam as lagartas.
Os manches, por sua vez, acionam os freios que controlam os diferenciais. Por meio deles é possível parar o veículo (puxando as duas alavancas para frear os dois diferenciais) e manobrá-lo (a partir do bloqueio de apenas um dos lados).
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Para virar à direita, basta frear o diferencial direito e deixar que o esquerdo continue a acionar a lagarta da esquerda. Para virar à esquerda, basta frear o diferencial esquerdo. Para seguir em frente, empurre as duas alavancas para liberar os dois lados.
Há ainda um segundo par de alavancas usado para bloquear os diferenciais e possibilitar manobras rápidas. Você já viu cenas de guerra em que os tanques parecem deslizar sobre patins? São essas alavancas que permitem esses movimentos.
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Antes de dirigir, passei por um treinamento. Um instrutor me apresentou os principais comandos do veículo (chave geral, contato, painel, acelerador, câmbio e alavancas) e disse que, no começo, eu deveria obedecer sua orientação.
Combinamos que ele diria o que fazer por meio de comandos. Se quisesse que eu virasse à direita, ele bateria no meu ombro direito. Para virar à esquerda, no ombro esquerdo.
Na hora de frear, o sinal era uma batida no alto do capacete. Quando fosse necessário reduzir a velocidade, ele bateria nas minhas costas.
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Começamos movendo o carro em linha reta, para a frente e para trás. Os manches se assemelham a alavancas de freio de estacionamento de automóveis, só que maiores e instalados na posição vertical.
Para liberá-los, é preciso apertar um botão na parte superior. A alavanca do câmbio, por sua vez, é bem diferente das encontradas nos automóveis.
Para selecionar o grupo de marchas que se quer usar, é preciso soltar uma trava e correr a haste por uma guia com ressaltos para evitar erros na seleção.
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Terminados os exercícios, fui autorizado a me embrenhar pelas trilhas do Parque de Manutenção, que eram tão acidentadas em alguns trechos que davam a impressão de que ninguém havia passado por ali antes.
Não foi difícil me acostumar com os manches e saber quanto eu deveria frear os diferenciais para conseguir o esterço desejado.
Na hora de frear para estacionar, no começo eu puxava as alavancas com muita força e tinha a sensação de que não ia conseguir travá-las. Mas eu estava puxando mais do que o necessário, indo além do ponto da trava. Quando identifiquei o ponto certo, ficou fácil.
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O treinamento aconteceu na parte da manhã. À tarde, seguimos para o Campo de Instrução do Exército, que fica a cerca de 30 km de Curitiba, em uma área onde eu pude andar sozinho na maior parte do tempo explorando o veículo e o terreno.
Equipado com motor V6 turbodiesel de dois tempos, de 268,7 cv, o M113 BR pode atingir 61 km/h de velocidade máxima.
Não parece muito se comparado a um automóvel, mas é bastante quando se está no comando de um veículo pesado como o M113 BR – são 9.930 kg.
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Sua aceleração é crescente e constante, e, durante o movimento, o tanque acumula bastante energia, o que fica nítido quando se precisa frear. O consumo divulgado pelo Exército é assustador: 1,8 km/l na estrada!
O nível de ruído é alto porque junta o barulho do motor com o das lagartas. Mas isso não me incomodou. Ao contrário, serviu para amplificar minha experiência a bordo.
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A parte mais tensa foi quando desci uma ladeira íngreme, situação em que, mesmo freado, o veículo deslizava para o lado em que a terra estava mais fofa.
Nessas horas, o M113 BR saía levemente da trajetória ao mesmo tempo que minha visão do barranco ao lado da trilha era quase nula. O instrutor tinha me avisado que não havia risco, mas eu não tinha ideia de como seria a descida.
O instrutor voltou a bordo quando colocamos o veículo na água.
O M113 BR é anfíbio. Apesar de ter quase 10 toneladas, ele flutua e consegue se locomover como uma balsa devido aos pequenos ressaltos nas lagartas que trabalham como pás remando quando o veículo está submerso.
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A tração por lagartas é uma invenção atribuída ao polonês Jösef Maria Höené-Wronski (1776-1853), embora a primeira patente seja do inglês George Cayley (1773-1857). As primeiras aplicações foram feitas em máquinas agrícolas.
A vantagem das lagartas está na tração e na distribuição do peso do veículo, graças à maior área de contato permitindo a transferência da força do motor em tempo integral em qualquer terreno.
Essa tecnologia chegou aos veículos militares durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mas foi na Segunda (1939-1945) que se popularizou. Pela definição do Exército, o M113 BR é uma Viatura Blindada para Transporte de Pessoal (VBTP).
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Sua carroceria – de alumínio balístico, que além de ser mais leve que o aço é mais resistente à perfuração – comporta 12 ocupantes, sendo motorista, atirador e dez soldados.
Fabricado nos EUA, pela FMC (Food Machinery and Chemical Corporation), o M113 é uma espécie de Fusca no meio militar. Além de simples, robusto e fácil de manter, ele é um dos veículos de combate mais utilizados no mundo.
Seu projeto surgiu nos anos 50 e passou por várias mudanças ao longo do tempo.
Segundo o especialista Expedito Bastos, autor do livro M113 no Brasil, o Clássico Ocidental, o M113 teve mais de 80.000 unidades produzidas ao longo do tempo, sendo empregado até hoje em cerca de 50 países.
![M113-BR](https://gutenberg.quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/11/m113-br-motor.gif?&w=1024&crop=1)
As unidades do Exército brasileiro datam de meados dos anos 60, mas ao chegar aqui elas receberam melhorias, como reforços estruturais, mudanças na suspensão e novo conjunto de motor e câmbio (a versão original tinha um V8 Chrysler a gasolina e as anteriores à atual utilizaram motor Mercedes de seis cilindros em linha diesel).
O BR adicionado ao nome identifica a versão brasileira.
Passado o estranhamento inicial, confesso: eu me diverti muito no comando do Fusca do mundo militar.
Ficha Técnica – M113 BR
Motor: Detroit Diesel, dianteiro, longitudinal, V6, 2 tempos, turbo, 268,7 cv a 2.800 rpm
Câmbio: Alisson, automático, 3 marchas, e caixa de transferência BAE Systems (1ª marcha até 16 km/h; 2ª até 32 km/h; 3ª até 61 km/h)
Carroceria: alumínio balístico, 12 ocupantes
Suspensão: 10 barras de torção e 6 amortecedores
Freios e direção: mecânicos, com manches que acionam os diferenciais controlados
Lagartas: 127 patins e 20 rodas de apoio (somando os dois lados)traseira)
Dimensões: comprimento, 486 cm; largura, 267 cm; altura, 253 cm; peso, 9.930 kg; tanque, 359,6 l; carga máxima rebocável, 6.583 kg
Desempenho: velocidade máxima na terra 61 km/h; velocidade máxima na água, 5,79 km/h; rampa máxima, 60%, inclinação máxima 30%; consumo, 1,8 km/l (estrada)