O mistério da Ferrari V12 de R$ 4 milhões ‘teletransportada’ de 1974
Encontrada por acaso, Ferrari 330 GT é uma das únicas de seu tipo e chama atenção pelo passado desconhecido
Em meados de 2020 o caçador de carros Lee Khouri recebeu uma ligação curta mas animadora: “é uma Ferrari antiga”, dizia o morador do subúrbio de Sydney, Austrália, após encontrar um esportivo guardado há muito tempo na garagem de um parente recém-falecido.
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Se garimpar uma Ferrari antiga já é um dia ganho para colecionadores, o que Khouri encontrou, entretanto, foi suficiente para que a própria fabricante fosse à Oceania conferir a descoberta, que ainda segue parcialmente sigilosa.
O objeto em si é uma Ferrari 330 GT V12 2+2, com configuração clássica do motor 4.0 que levava o cupê aos 224 km/h, indo de 0 a 100 km/h em apenas 7,2 s. Desempenho da máquina era tão bom que deixou concorrentes como o Aston Martin DB4 para trás, sendo vencida apenas pelo Lamborghini 350 GT construído por ex-funcionários do Cavallino Rampante.
Ao todo, cerca de 1.099 unidades do carro aclamado por gerações foram produzidas, mas apenas 36 tinham volante à direita, o que eleva ainda mais o valor histórico do achado. Não obstante, o exemplar em questão é apenas um dos cinco RHD fabricados com teto solar.
Passado esquecido
Descobrir pérolas automotivas é um trabalho árduo mas frutífero. Volta e meia surgem coleções raríssimas envolvidas em execução de bens ou que seguiam guardadas por um falecido proprietário, como a 330 GT. Mas o contexto de sua existência ainda gera mistério.
Fabricado em 1967, o exemplar tem número de chassi 9471 — a primeira 330 GT Série II a ser construída —, tendo logo sido entregue a um cidadão inglês que revendeu-a a um piloto conterrâneo. Em seguida a Ferrari atravessou o mundo e chegou ao australiano anônimo, que realizou a importação em 1974.
Este pode ser, inclusive, o ano que o modelo entrou em uma máquina do tempo, de modo a ressurgir 46 anos depois, como se congelada. A Ferrari nunca foi registrada na Austrália e ainda tem placas britânicas. Também há manuais, notas fiscais e ordens de serviço originais, preservadas no porta-luvas mas já desgastados pelo tempo. Outros itens intocados incluem, no porta-malas, macaco, bolsa de ferramentas e uma marreta utilizada para soltar as rodas.
Projeto inacabado
O grau de originalidade do carro, com cerca de 33.000 km rodados, surpreende, mas são seus defeitos que ajudam a elucidar seu passado. Graças à preservação dos documentos sabe-se que a pintura original em azul Ice Blue foi substituída pelo vermelho, assim como as rodas de magnésio — originais mas repintadas — e a textura dos bancos.
Esses detalhes sugerem que o último dono pretendia modificar o esportivo antes de registrá-lo, mas por algum motivo ainda desconhecido abriu mão da heresia e nunca mais encostou no carro. Desde sua descoberta a Ferrari 330 GT V12 2+2 vem sendo minuciosamente examinada pela fabricante italiana, que tende a homologá-la como peça de coleção e, provavelmente, oferecer novos detalhes de sua origem.
Enquanto um colecionador antenado já adquiriu o tesouro e começou a restauração, que envolve um trato na mecânica desgastada com o tempo e reversão de partes inautênticas. Os trabalhos têm acompanhamento oficial e, terminados, devem elevar o valor do cupê a cerca de R$ 4 milhões.
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