Omoda e Jaecoo não existem na China, mas querem híbrido flex brasileiro
Marcas criadas pela Chery só para exportação e compartilharão concessionárias a partir de agosto, com lançamento do Omoda 5
Quem caminha pelo Salão de Pequim não encontra o estande da Omoda | Jaecoo, mas encontra seus carros. As duas marcas chinesas, que estão iniciando uma operação conjunta no Brasil, simplesmente não existem na China, onde seus carros são vendidos pela Chery.
Chineses adoram criar submarcas para explorar outras propostas de design e outros posicionamentos. Mas estas são exclusivas para mercados de exportação, com estratégias bastante curiosas.
A Omoda foi lançada em 2022 e a Jaecoo em 2023 – ainda não completou um ano. Ainda que estejam sob o guarda-chuva da Chery Internacional, suas equipes são compostas por jovens sem experiência prévia com automóveis.
Pode parecer estranho, mas a intenção é fazer com que aprendam de acordo com o mercado internacional onde venham a atuar. Isso forja uma nova cultura sem os vícios de outras fabricantes chinesas.
O próprio diretor da operação brasileira, Alex Wang, foi diretor na Huawei e na Alibaba antes de assumir a missão de coordenar a estreia da Omoda | Jaecoo no Brasil.
O aprendizado passa por escutar mais as dores dos especialistas brasileiros para que os carros sejam perfeitamente ajustados ao gosto local. Um bom exemplo é que as duas versões híbrida leve do Omoda 5 (Luxury e Prestige) terão acabamento melhor no Brasil, mais próximo da sua versão elétrica (chamado Omoda E5). Isso se deu tanto por um primeiro retorno negativo, quanto pelo posicionamento: um SUV médio não é um carro acessível para jovens brasileiros.
Cada marca terá uma imagem no mercado. Os Omoda são carros com aspecto mais moderno e com proposta mais jovem. Todos os seus carros serão SUVs cupês com formas mais fluidas e elementos mais orgânicos no visual, como suas grades com barras entrelaçadas e efeito 3D do Omoda 5 híbrido leve.
Os Jaecoo são SUVs com linhas mais convencionais, com frente elevada e carroceria quadrada. Também são mais luxuosos. Isso será posto à prova quando a linha das duas marcas começarem a se cruzar. E isso vai acontecer logo.
O primeiro lançamento será o Omoda 5 (conhecido como Chery Omoda C5 (combustível) ou E5 (elétrico) na China), em agosto. É uma espécie de SUV cupê médio e terá mecânica conhecida: o motor 1.5 turbo híbrido leve de 160 cv do Chery Tiggo 5X Hybrid.
Esta versão híbrida leve mira na faixa de preço do Jeep Compass. Pelo preço inicial ao redor dos R$ 160.000, pretende ter o design e o acabamento como destaques. Mas sua versão elétrica será ainda mais luxuosa e ainda terá 204 cv e uma bateria com 60 kWh que permitirá uma autonomia ao redor dos 300 km no padrão do Inmetro. Seu preço poderá ficar ao redor dos R$ 220.000.
Para o Jaecoo J7, com lançamento previsto para outubro (os carros de homologação ainda estão desembarcando no Brasil) a estratégia é oferecer maior espaço interno e um conjunto híbrido plug-in, avançando em uma faixa de preço ao redor dos R$ 230.000, onde estão os Toyota Corolla Cross e GWM Haval H6.
Na China, o Jaecoo J7 chama-se Chery Tansuo 06, tem outra dianteira e usa o motor 1.6 turbo. Suas medidas ficam nos 4,53 m de comprimento, 1,89 m de largura, 1,68 m de altura e 2,67 m entre-eixos. É o porte de um Volkswagen Taos e, assim como ele, tem cinco lugares.
O terceiro modelo, que será lançado no Brasil em janeiro de 2025, é o Jaecoo J8. É uma variação do Tiggo 9, um SUV grande e mais luxuoso, a ponto de estarem disponíveis versões com cinco e seis lugares (ou seja, com três filas e assentos individuais.
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Os Jaecoo J7 e J8 chegarão ao Brasil com exatamente a mesma mecânica de um Caoa Chery Tiggo 8 Pro: o motor 1.5 turbo (147 cv e 22,4 kgfm) é combinado aos dois motores elétricos integrados ao câmbio DHT (170 cv e 34,2 kgfm), que juntos entregam até 317 cv.
De acordo com a Jaecoo, a bateria com 18,3 kWh de capacidade garante autonomia de 88 km em modo elétrico e até 1.200 km com o tanque de gasolina de 60 L cheio, sempre nos padrões chineses.
O compartilhamento de motores e tecnologias com os Caoa Chery vendidos no Brasil será natural, pois, por mais que sejam independentes, os Omoda e Jaecoo usam a mecânica da Chery Internacional.
Por isso também é possível (e fácil) transformar este motor em flex no futuro. A Chery vende carros flex no Brasil desde 2012 (o primeiro foi o fracassado S-18).
A Omoda | Jaecoo quer vender carros eletrificados e/ou flex. Por isso tenta convencer a Chery sobre o desenvolvimento do motor 1.6 TGDi flex. Este passaria dos 200 cv e poderia levar a uma versão mais barata do J7, além de ser empregado em futuros carros.
Até 10 lançamentos em dois anos
Por serem marcas pensadas para a exportação, todos os Omoda e Jaecoo com lançamento previsto para os próximos anos são cotados para serem vendidos no Brasil. A lista pode variar entre 8 e 10 modelos até o final de 2026, a depender do avanço de alguns projetos.
Entre esses carros estão modelos menores, SUVs compactos mesmo que farão com que as marcas tenham volume. Dois deles serão apresentados nos próximos dias: o Omoda 7, com porte equivalente ao do Jaecoo J7 e o Jaecoo J5, que se aproximará do Omoda 5 mas terá versões elétricas, a combustão ou REEV, que usa o motor a combustão apenas para gerar energia para os motores elétricos.
Alguns mercados, como a Tailândia, já têm o Jaecoo 6: é apenas o Chery iCar 03 com outro nome.
Ainda há muito o que ser decidido sobre as duas marcas, como o montante de investimento no Brasil e quando haverá uma fábrica (ou qual será, afinal a antiga fábrica da Chery em Jacareí (SP) é uma opção). A empresa sabe que para figurar entre as dez marcas mais vendidas do país é necessário ter uma fábrica.
Só de ter a presença da Jaecoo é um bom indicativo, pois é voltada para mercados mais maduros. Se a Omoda chegará a 40 mercados até o final do ano, a Jaecoo estará em apenas 25 deles. Países do Oriente Médio, Chile, México, África do Sul, Rússia, Itália e Alemanha estão entre eles.