Na última década o brasileiro presenciou a chegada de modelos nacionais com tecnologia de ponta e desempenho máximo em testes de impacto – um dos principais sinais de um projeto moderno.
Apesar disso, ainda dá para encontrar nas concessionárias veículos desenvolvidos na década de 90.
Há inúmeros motivos para algumas marcas ainda produzirem esses “clássicos” até hoje. Um dos principais é o fato do custo de desenvolvimento já estar pago, o que normalmente leva de dois a quatro anos para acontecer.
Como o investimento para criar esse determinado modelo está amortizado, a fabricante pode cobrar menos por eles, aumentar a margem de lucro ou as duas coisas.
É importante ressaltar que, apesar disso significar um veículo defasado para o consumidor, não há nenhuma restrição legal nessa política. Afinal, mesmo antigos, esses produtos passaram pelas atualizações necessárias (sobretudo no trem de força) para se manterem dentro da legislação local.
Tire a naftalina dos bolsos, tente conectar ao ICQ e coloque a TV no Disk MTV enquanto te levamos para essa viagem a bordo dos veículos mais antigos ainda em produção no Brasil:
Volkswagen Gol (2008)
É o “menos velho” desta relação, com dez anos apenas. A atual geração é a terceira (quinta, pelas contas da VW) geração e recentemente passou por mais uma reestilização.
O modelo oferece o moderno 1.0 de três cilindros também usado no Up! e chegou a ser equipado com o 1.6 16V em uma versão que durou pouco mais de dois anos.
No entanto, a evolução que a plataforma PQ24 deu ao hatch há uma década não surte mais efeito em um mercado dominado por soluções modulares.
Exatamente por isso o próximo Gol, previsto para 2020, adotará uma versão menor da base MQB usada por Golf e Polo, chamada MQB A00. Até lá, porém, o máximo de evolução que o decano hatch terá será o câmbio automático convencional de seis marchas, previsto para chegar ao mercado em breve.
Renault Logan (2007)
O sedã franco-romeno é o único desta reportagem que pode piscar o farol com orgulho e confirmar que não só continuará em linha, como será novamente reestilizado em breve.
É verdade que, em 2013, o modelo passou por uma reestilização tão profunda que a Renault se nega a afirmar que se trata da mesma geração.
Mas a versátil plataforma B0 está lá, incluindo algumas de suas limitações – como as portas com batentes expostos no teto que são adoradas pelos ladrões e o péssimo desempenho em testes de impacto.
O Logan é um sucesso de vendas e, por isso, ele é um forte candidato a permanecer nessa lista por muitos anos.
Mitsubishi Lancer (2007)
Esta geração do sedã japonês foi lançada em 2007, mas chegou ao Brasil em 2011. Quando começou a ser montado em Catalão (GO), em 2015, o projeto já tinha oito anos.
Em seu auge, a atual geração do Lancer deu origem ao último Evolution, que encerrou em grande estilo a linhagem de esportivos da Mitsubishi.
O futuro, fora e dentro do Brasil, porém, é incerto. O Lancer sobrevive em alguns mercados com reestilizações de gosto discutível e a marca já afirmou que não tem planos de desenvolver uma nova geração tão cedo.
Por aqui o modelo segue em produção em duas versões, com motor 2.0 e câmbio automático CVT, ao lado da L200, ASX e Suzuki Jimny – outro integrante dessa lista, aliás.
Volkswagen SpaceFox (2005)
Ela é antiga, mas ainda tem um título ainda imbatível. O modelo derivado do Fox é a perua mais moderna fabricada no Brasil.
Isso é o que muito publicitário diria, no que o consumidor atento iria rebater com o fato de que, fora ela, só tem mais outra perua no mercado (e que, sem surpresa, também está nessa lista).
Por conta disso, as vendas da SpaceFox vêm caindo junto com sua oferta de versões: atualmente há duas, Trendline com câmbio manual ou automatizado.
A má notícia é que as chances da Volkswagen fazer uma nova perua por aqui são tão raras quanto o consumidor fiel deste segmento.
Ao invés de fazer uma nova geração, a marca vai se concentrar nos onipresentes SUVs.
Hyundai Tucson (2004)
Apesar de estar desaparecendo das concessionárias, a CAOA, que produz o SUV no Brasil, nega que ele tenha saído de linha.
Sendo assim, a unidade da empresa em Anápolis (GO) é a única do mundo a produzir três gerações distintas do utilitário sul-coreano. As outras duas, ix35 e “New” Tucson, são mais recentes: de 2010 e 2016, respectivamente.
Tantos anos no mercado facilitam a tarefa de encontrar peças de reposição. E o amplo espaço interno é um dos trunfos que facilitam a revenda.
Pesa contra, no entanto, quase todo o resto. Não há airbags adicionais, controle de estabilidade e tração ou mesmo um simples vidro elétrico com função um-toque para todas as portas.
Chevrolet Montana (1994)
Os haters de internet vão correr pra dizer que essa geração Montana é muito mais nova do que colocamos aqui.
É uma meia-verdade. Sua carroceria derivada do Agile é bem mais recente, de 2010.
Tanto a plataforma quanto o motor da picape feita em São Caetano do Sul (SP) são herdados do primeiro Corsa nacional, lançado no longínquo 1994.
Não que isso ajude a Montana: ela é a segunda picape mais antiga ainda em produção do Brasil, e ela nunca passou por uma grande atualização visual.
Na verdade, o modelo à venda é anterior até mesmo do que o último Agile, que havia sido reestilizado alguns meses antes de sair de linha, em 2014.
Isso provocou uma situação bizarra: um carro que deixou de ser fabricado há quase quatro anos tem visual mais novo do que um ainda em produção.
Volkswagen Fox (2003)
Já faz 15 anos que a gigante alemã teve a brilhante ideia de lançar um hatch compacto, mas com teto alto. O truque permitia ampliar o espaço interno (ainda que às custas de passageiros com joelhos mais flexionados).
O mercado recebeu o Fox tão bem que seu preço foi aumentando antes mesmo de chegar às lojas. Em estudos com potenciais consumidores, a VW descobriu que eles estavam dispostos a pagar mais do que ela esperava pelo carro e, com isso, aumentou a etiqueta logo em seu início.
Ao longo desse período o Fox teve versão aventureira, motor de 120 cv e até câmbio de seis marchas.
Atualmente, porém, ele padece do mesmo desaparecimento gradual enfrentado pela SpaceFox, com o agravente que o hatch ainda concorre com o (bem) mais moderno Polo.
Fiat Doblò (2001)
Sabe quando um artista que tava no ostracismo morre e muita gente se surpreende ao nem saber que ele estava vivo até então? Pois bem, esse é o caso da Doblò.
A multivan segue em linha apostando em seus diferenciais, como as duas portas corrediças e opção de sete lugares.
Só que fica difícil explicar como alguém paga quase R$ 100 mil em um modelo que não tem sequer câmera de ré ou ar-condicionado digital. E não vamos nem falar do controle de estabilidade ou airbags extras…
Entusiastas do modelo podem cobiçar a versão europeia, que está em sua segunda geração e já tem um sucessor confirmado pela FCA.
Mas a Doblò brasileira terá que enfrentar o mesmo destino de quase todos os modelos daqui: ir perdendo versões e mercado (não necessariamente nessa ordem) até sair de linha – um dia.
Suzuki Jimny (1998)
Justiça seja feita: o Jimny não é antigo só no Brasil. O pequeno jipe demorou vinte anos pra mudar de geração lá fora.
É tão antigo que a mesma geração foi vendida no Brasil de 1998 a 2001, quando a Suzuki saiu do Brasil. A marca retornou em 2008 e trouxe o modelo.
Como dissemos lá em cima, o Jimny é feito ao lado de alguns modelos da Mitsubishi em Catalão (GO). É nacional desde 2012.
É um carro bom para indecisos na hora de comprar, já que só está disponível no Brasil o 1.3 aspirado de 85 cv com câmbio manual de cinco marchas.
Não que isso seja um problema para seus entusiasmados consumidores. Afinal, com tração 4×4 e reduzida, o Jimny pode fazer muito SUV de luxo passar vexame no off-road de verdade.
A HPE confirmou que irá vender a nova geração do Jimny por aqui. Mas não precisa desanimar: ela também reforçou que o modelo atual, que acaba de receber central multimídia, seguirá em linha.
Fiat Strada (1998)
O Brasil ainda amargurava a derrota para a França quando a Fiat lançou sua mais nova (naquela época) picape no mercado nacional.
A Strada era o último produto derivado do Palio – e com inovações surpreendentes para a época.
Logo de cara a Fiat ousou ao disponibilizar ABS e airbag duplo, ainda que opcionais. A grande sacada, porém, foi ampliar de forma ágil a gama de versões.
Teve Strada esportiva, com câmbio automatizado, cabine estendida, dupla e até de três portas.
Essa versatilidade se refletiu em um domínio até hoje esmagador: as vendas de VW Saveiro e Chevrolet Montana, somadas, não superam a líder do segmento.
A esmagadora maioria dessas unidades, porém, vai para frotistas e vendas diretas.
É provável que a Strada como conhecemos saia de linha no ano que vem, quando chegará a sua sucessora.
Fiat Weekend (1997)
Se a perua Palio fosse uma pessoa, é provável que ela pedisse para que desligassem as máquinas.
O modelo que foi desejo de consumo de muita família teve dias de glória e nomes compridos.
Mas até isso lhe tiraram: de Fiat Palio Weekend Adventure 1.8 E.TorQ Locker Dualogic Plus só lhe restaram a referência ao final de semana e a versão aventureira.
Nem o “Palio” sobrou – a referência ao hatch sumiu do RG em 2014, quatro anos antes do próprio compacto sair de linha.
E pensar que o modelo chegou a ser equipado com, acreditem, banco do motorista com ajuste elétrico e airbags laterais!
Atualmente a Weekend aparece no configurador da marca somente em duas versões, Attractive 1.4 (que não tem nem ar-condicionado de série) e Adventure 1.8.
A opção mais potente, porém, é a única disponível para consumidores finais, sendo a 1.4 destinada às vendas diretas.