Mesmo com a retomada da economia, 2021 não foi um bom ano para os 0 km. Fatores como a falta de componentes e a crise hídrica dificultaram que o número de novos emplacamentos crescesse. Além disso, segundo a Fenabrave, o setor de automóveis novos deverá fechar o ano com uma queda de 2,2% nos emplacamentos. Por outro lado, entre os usados, os resultados e as perspectivas se invertem.
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O setor de usados ficou aquecido pela falta de veículos novos nas lojas. Levando em consideração todos os segmentos (automóveis, utilitários leves, caminhões, ônibus, motos e implementos rodoviários), os 11 primeiros meses de 2021 registraram marca histórica. Foram 13.932.777 trocas de titulares, volume 24,79% maior do que no mesmo período do ano passado.
Mas como bem sabemos, tudo vêm ficando mais caro e fazer a manutenção de um carro usado, mesmo que seminovo, não foge da regra. Segundo a própria FENABRAVE, dentre todos os veículos revendidos no Brasil, os automóveis com até 3 anos de fabricação representam 11,9% do acumulado geral, sendo o Volkswagen Gol o campeão de troca de titularidade.
Para esse modelo, os aumentos da cesta de peças (mesma utilizada em nosso Melhor Compra) tiveram média de 26%. O preço das pastilhas de freio para a versão 1.0 Flex do hatch da Volks fabricado em 2019, custava R$ 280 em julho do ano de montagem, segundo levantamento feito pela SUIV. Hoje, para comprar a mesma peça, o consumidor terá que desembolsar cerca de R$ 370,61. Um aumento de aproximadamente 32%.
Analisando outra peça temos um aumento ainda maior. Para trocar o para-brisa dianteiro, em 2019, o dono de um Gol gastaria R$ 1.167,73. Agora o preço está 39% maior, chegando a R$ 1.628,24.
–Mas se olharmos para o seu rival direto e segundo na lista de revendas da FENABRAVE, o Fiat Uno, encontramos aumentos ainda maiores. O preço do farol esquerdo da versão Attractive 2018 mais que dobrou em três anos, passando dos R$ 370,16 para R$ 793,25 neste ano. Reajuste equivalente a 114%.
O preço do retrovisor esquerdo sofreu diversas variações de 2018 para cá. Em maio, a peça, que custava R$ 207,14, registrou seu maior valor em três anos, custando R$ 498,49. Já em outubro, o preço baixou para R$ 403,85 o que significa um aumento de 95% em relação ao valor inicial. No geral, o uno deve média de aumentos de 57%.
Enquanto isso, o Palio Weekend Attractive 1.4 2018 tem valores ainda maiores. O preço da sua cesta de peças subiu 80% em três anos. O para-choque dianteiro foi o campeão, aumentando 161%. Seu valor, que era de R$ 837,77, subiu para R$ 2.194,03 em outubro deste ano.
Claro que a alta nos preços foi sentida pelo consumidor. “O cliente geralmente não reclamava do preço da mão de obra, reclamava das peças”, afirma Ricardo Cramer, vice-presidente do Sindicato dos Reparadores de São Paulo (Sindirepa-SP) e proprietário de uma oficina na baixada santista.
Mas isso tem um motivo. Durante a pandemia, segundo Cramer, as oficinas fizeram de tudo para não subir o valor de seus serviços, mesmo com o aumento nos custos de água, luz e aluguel, por exemplo. “Eu fiz uma pesquisa com alguns reparadores de São Paulo. A maior parte deles manteve o preço de mão de obra para não onerar o cliente com diferença de preço.”
O acréscimo vai começar a ser sentido agora. O vice-presidente, que precisou fazer rodízio de funcionários para não repassar os novos gastos aos clientes, diz que em sua oficina já houve um aumento nos preços. “Eu mesmo subi cerca de 8% agora em novembro e em janeiro vou ter que fazer outro reajuste. A tendência é que as oficinas do estado subam de 8% a 10% nos preços de mão da obra.”
Para 2022, o vice-presidente, que está no ramo há 35 anos, diz que tudo vai depender do mercado. As previsões, segundo ele, são difíceis de fazer, mas é pouco provável que os reparadores segurem o custo da mão de obra, como foi feito entre 2020 e 2021. “Se os custos continuarem subindo, então teremos que ter novos aumentos”, explica Cramer.