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É hora do adeus: primeira geração da Fiat Strada sai de linha após 23 anos

Com anúncio de que a Fiat Strada original será descontinuada, relembramos a trajetória até aqui do fenômeno de vendas entre as 'picapinhas'

Por Eduardo Passos
Atualizado em 28 jan 2021, 10h57 - Publicado em 28 jan 2021, 10h56
Strada Adventure 1.8, da Fiat, testada pela revista Quatro Rodas em 2005
Da lama à praia, passado por ruas e comércios, a Strada de primeira geração cumpriu papel versátil ao longo dos seus 23 anos (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Com quase 23 anos de serviços prestados e muitas vendas, a primeira geração da Strada enfim será descontinuada, informou a Fiat. Desde o lançamento do novo modelo da picape, no ano passado, a clássica Stradinha vinha perdendo espaço nas linhas da fábrica de Betim, antecipando seu inevitável fim.

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Após alguns meses fabricando apenas a versão Hard Work da primeira Strada, a Stellantis confirmou que vai “descontinuar, a partir de janeiro de 2021, a produção da versão (…), priorizando, assim, as entregas da segunda geração do modelo”.

Ao longo de suas décadas, a Strada manteve desempenho comercial constante e, somando os últimos 11 anos, é o quinto carro mais vendido do Brasil, com cerca de 1,2 milhão de unidades. À sua frente, apenas os hatches Onix, Palio, Uno e Gol.

Palio halterofilista

Picape Strada LX 1.6 16v. 1998
Strada LX 1.6 16V original tinha 106 cv e 15,1 kgfm de torque (Marco de Bari/Quatro Rodas)
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Palio halterofilista. Foi assim que a edição 460 de QUATRO RODAS se referiu à novidade, que vinha substituir a lacuna de picapes da Fiat deixada pela Fiorino. A Strada chegou ao mercado no final de 1998 por R$ 17.150 — chegando aos R$ 24.458 com os opcionais incluídos.

Eram três opções de motor, com o Fiasa 1.5 de 76 cv, 1.6 8V de 93 cv e 1.6 16V de 106 cv, que gerava certa resistência no pós-venda por conta do receio que o consumidor tinha das 16 válvulas. 

Fiat Strada LX (5)
A picape abandonou as origens: na frente, ganhou grade e faróis diferentes dos do Palio (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Se hoje reina soberana entre as caminhonetes leves, na época o páreo era duro, com Saveiro, Courier e Corsa disputando cada fatia das vendas. Quando comparada com a rival da Volkswagen, houve empate técnico: “Saveiro é mais estável, Strada é mais macia”, dissemos à época.

Um ano depois, o carro recebeu a inovadora cabine estendida, recuando a parede traseira em 30 cm. A sacada veio de uma pesquisa mercadológica da Fiat que constatou, quem diria, que 80% dos consumidores não usavam a caçamba e preferiam que parte desse espaço fosse transferido para dentro da cabine, a fim de levar itens pessoais.

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Strada Working 1.5, picape com cabine estendida da Fiat, modelo 2001.
Strada Working 1.5 com cabine estendida, modelo 2001. (Marco de Bari/Quatro Rodas)

Com cerca de 2,1 m de caçamba, ficou difícil carregar uma moto na Strada, mas sobrou espaço para pequenas bagagens. Esse apelo moderno inspirou até uma série especial da MTV, limitada a mil unidades que vinham com CD Player de série e identidade visual única.

Fôlego renovado

Strada Adventure 1.6 16V testada pela revista Quatro Rodas..jpg
Linha Adventure de Strada e Palio Weekend abriu alas para os aventureiros urbanos. Quebra-mato, entretanto, não vingou (Acervo/Quatro Rodas)

No início dos anos 2000 a Fiat explorava sem dó o sucesso da família Palio, e foi esperta ao emplacar, em 2001, um facelift no timing certo, reaquecendo as vendas.

Se por fora a Strada seguiu a identidade visual de seus irmãos, sob o capô houve mudanças, e o Fiasa deu lugar ao clássico 1.3 Fire. A nova versão Adventure se uniu à Working e ficou com o ‘filé’, equipadas com motor 1.8 Powertrain do Stilo.

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Essa unidade de potência foi modificada para chegar aos 103 cv, um a mais que a picape Corsa. Além disso, novas relações de marcha permitiram mais torque em baixas rotações, com pico de 17 kgfm.

Atrasadinha

Picape Strada Adventure modelo 2005 da Fiat testada pela revista Quatro Rodas.
Strada Adventure 2005 já veio sem quebra-mato. A picape foi a última da família Palio a receber o novo design (Marco de Bari/Quatro Rodas)

A primeira reestilização da linha Palio fez sucesso, e o grupo Italdesign foi convocado para criar a terceira versão para a Fiat. Dentre todos os carros da família, a Strada foi a última a ser lançada, chegando renovada no meio de 2004.

Um dos destaques foi a maçaneta da caçamba embutida no logotipo da Fiat, que viria a ser regra nas picapes da marca daí em diante.

Painel da Strada Trekking 1.8 Flex, picape da Fiat.
Painel da primeira Strada Trekking, que vinha com motor 1.4 ou 1.8 flex (Eugenio Savio/Quatro Rodas)
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De acordo com a fabricante italiana “buscando não encarecer o modelo”, a Strada ainda não receberia motor flex, que viria só em 2005.

Mudam concorrentes, mantém-se a líder

Em 2006 o cenário já era outro, e a Strada tinha a competente Chevrolet Montana no seu encalço. As duas caminhonetes protagonizaram comparativo na edição 549 de QUATRO RODAS (fevereiro) no qual a novata ganhou, aproveitando seu custo-benefício e motor 1.8.

“A nova Strada Trekking com motor 1.4 custa menos e oferece menos, na mesma medida. Pelo mesmo valor, a Montana consegue oferecer motor 1.8 e mais espaço na cabine. Perde-se espaço na caçamba mas, para uso misto, acaba compensando. A Trekking cabine estendida seria adversária mais difícil, mas está custando caro”, foi o veredito.

Em Os Eleitos, porém, a Strada venceu sua concorrente em 2005 e 2006, mostrando que gosto é mais subjetivo do que métricas.

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Tentativa e erro

Strada Working 1.4 CD, modelo 2009 da Fiat, testada pela revista Quatro Rodas.
Cabine dupla valeu a ousadia e chegou a responder por metade das vendas da Strada, que tinha 11 modelos diferentes à época (Ricardo Rollo/Quatro Rodas)

Seguindo a ordem natural do tempo, a Strada ainda recebeu um penúltimo facelift em 2009, quando também chegou a ousada versão cabine dupla. O meio-termo parecia não agradar muito, já que os bancos traseiros eram apertados e na caçamba mal cabiam duas bicicletas. Mas não foi bem assim.

As opções de cabine simples, estendida e dupla fizeram com que a picapinha caísse no gosto dos diversos públicos, mantendo sua adesão em alta.

Banco traseiro da Strada Working 1.4 CD, modelo 2009 da Fiat, testada pela revista Quatro Rodas.
Bancos de trás eram úteis para deslocamentos curtos mas certeza de desconforto em viagens rodoviárias (Ricardo Rollo/Quatro Rodas)

O inesperado sucesso da cabine dupla elevou a confiança da Fiat e alimentou tentativas estranhas, como a Strada Sporting. A curiosa picape esportiva chegou a ser anunciada à imprensa em 2008, mas foi adiada por um ano, tendo seu hipotético motor 1.6 substituído pelo e-torq quatro-cilindros 1.8 16V flex de Punto e Siena, com 132 cv, e suspensão 1 cm mais baixa que nas outras versões.

Fora isso, esportividade, de praxe, só na estética da exagerada máscara negra, aerofólios, saias e outros adereços. Receosa, a Fiat transformou a versão em mera série especial, vendida sob medida. E, por fim, muito pouco vendida: mal durou um ano.

Strada Sporting agradou muito pouco e saiu rapidamente de cena
Strada Sporting agradou muito pouco e saiu rapidamente de cena (Divulgação/Fiat)

Anos depois, a última grande bugiganga foi uma sagaz terceira porta, ao estilo suicida, projetada para as cabines duplas da linha 2014 em diante. Com intenção de ampliar a área de entrada do carro, a porta era, de fato, “meio-suicida”, já que agia também como componente estrutural e só abria se a porta dianteira estivesse aberta, inviabilizando o ato que originou o apelido infame.

Dando o último gás no longevo projeto, a Fiat ainda deu sua última renovada estética na picape e adicionou itens exclusivos na categoria, como bloqueio do diferencial Locker e o câmbio automatizado Dualogic.

Fiat Strada Cabine Dupla
Maçaneta de abertura da terceira porta ficava escondida na coluna B falsa (Divulgação/Fiat)

A Stradinha foi até onde deu, e com honras passou o bastão para sua sucessora em 2020. Ainda que a pandemia tenha poluído os números absolutos de venda, somente em fevereiro a antiga geração não ficou entre o top-10 brasileiro mensal.

Legado robusto

147 Pick-Up, modelo 1980 da Fiat, do mecânico paulista Marco Antônio Parma, testado pela revista Quatro Rodas.
147 Pick-Up chegou sem concorrência; benefícios de um pioneiro (Christian Castanho/Quatro Rodas)

Derivado do mesmo glorioso projeto 178 de Palio, Siena, Weekend e Doblò, a primeira Strada era questão de honra à Fiat, que quase sempre foi líder no segmento de picapes leves do Brasil.

A montadora criou essa categoria no País com a 147 Pick-Up, de 1978, e só perdeu a liderança de vendas pontualmente, nos anos 90, para a Ford Pampa e VW Saveiro.

A Fiorino superava a Chevy no tamanho da caçamba
A clássica Fiat Fiorino Pick-Up LX (Claudio Larangeira/Quatro Rodas)

Esse orgulho ferido catalisou a necessidade de superar a versão caminhonete da Fiorino, baseada no Uno, e se adaptar aos novos tempos. Se hoje o futuro da Stellantis, que ataca das picapes leves à RAM 2500, é incerto, seu passado ao menos oferece um bom norte do que pode ser feito rumo à hegemonia.

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Quatro Rodas capa 741
(arte/Quatro Rodas)
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