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Promessa de pneu infinito seduz clientes, mas é um barato que sai caro

Com processo fabril improvisado e sem adequação às características de cada veículo, o "jeitinho" no pneu pode custar um acidente grave

Por João Vitor Ferreira
14 nov 2023, 16h06
 (Continental/Divulgação)
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Quando o assunto é pneu, muitos motoristas só pensam em uma coisa: rodar muito e gastar pouco. Trocar o jogo de compostos nunca é barato, mas uma hora isso é necessário. Alguns borracheiros, porém, seduzem seus clientes com a ideia de um “pneu infinito”.

O nome é tentador e a proposta ainda mais: um pneu que dura para sempre e custa pouco. As opções são diversas, com vendedores reforçando a enorme variedade de medidas a fim de dar o drible em incautos de todos os tipos.  É com esse papo que os “profissionais” convencem seus clientes a irem na opção mais em conta, mas que compromete a segurança e pode sair muito caro. 

A ideia por trás da criação do pneu infinito não é original: trata-se de um processo de recapagem no qual o pneu comum recebe uma banda de rodagem mais robusta, de pneus destinados para veículos comerciais (vans, caminhões ou micro-ônibus). 

“Mas pneu não é tudo igual?” Na verdade, não. Como explica Rafael Astolfi, gerente sênior de serviços técnicos ao cliente da Continental Pneus Américas, trocar a banda de rodagem de um pneu pode trazer diversos problemas, que estão diretamente relacionados com a maneira que esses objetos são projetados.

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pneu
Antes de fazer o descarte, QUATRO RODAS inutiliza o pneu para evitar que ele retorne ao mercado reparado como um “pneu infinito” (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)

“Tecnicamente, tal prática apresenta diversos problemas conceituais, mas talvez o principal seja a aplicação de uma banda extremamente pesada em uma carcaça pequena. Na operação de veículos de carga esse problema é um velho conhecido: bandas pesadas tendem a fatigar mais rapidamente as carcaças, aumentando a possibilidade de que elas se desprendam”, explica o especialista.

E o motivo para tudo isso é bem simples: os pneus de veículos de passeio são produzidos com carcaças —  também chamadas de lonas de corpo —  de tecido têxteis, podendo ser naturais ou sintéticas. Elas são feitas para serem usadas em altas velocidades, diferente das carcaças de veículos comerciais, feitas com aço e projetadas para priorizar resistência a maior peso e fadiga (stress-cracking). 

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Logo, suas bandas são mais pesadas e, nos tais “pneus infinitos”, começam a exigir mais das carcaças dos pneus comerciais, que não foram projetadas para esse peso. E tudo tende a piorar com a alta força centrípeta que surge em altas velocidades.

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Outro problema é que os requisitos normativos em vigor não demandam a identificação da carcaça de origem do pneu remoldado. Ou seja, não há garantia que você esteja comprando quatro pneus iguais, e cada um pode ter uma carcaça de origem diferente, prejudicando o equilíbrio do veículo. Além disso, sem saber a procedência, é possível que as carcaças usadas já estejam muito velhas e perigosamente fadigadas.

Por isso é preciso ter atenção aos pneus recapados: embora esse processo seja permitido, ele é adequado somente a algumas situações específicas. A Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP) é a favor da recapagem a frio ou a quente de pneus de carga — uma vez que eles são projetados para receber esse processo — mas contra a recapagem, recauchutagem e remoldagem de pneus de carros de passeio e caminhonetes.

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