Quanto custa e como se faz para comprar um carro da Tesla no Brasil?
Além de taxas e impostos que quase equivalem ao preço do carro, há burocracia imensa que torna empresas de importação uma escolha interessante
Das poucas marcas de relevância global que não atuam no Brasil, poucas são tão desejadas quanto a Tesla. Desde que a norte-americana que só fabrica carros elétricos ganhou relevância, na década passada, boatos vêm e vão acerca de uma operação oficial no país. Houve até histórias mais criativas falando de fábricas em Manaus (AM).
A realidade, porém, é mais sem graça, e o bilionário Elon Musk parece mais preocupado com sua nova empreitada, o Twitter — atenção tão grande que até os acionistas da Tesla estão incomodados. Musk veio ao Brasil neste ano, mas também para outro assunto: seu serviço de internet Starlink.
Quem tiver vontade e dinheiro, todavia, ainda pode comprar um Tesla no Brasil. O caminho mais fácil envolve contratar uma empresa de importação, sendo as mais conhecidas Osten e Direct Imports. São serviços no qual o comprador pode montar seu carro dos sonhos no próprio site da marca, recebendo em casa com a documentação e burocracia 100% resolvidos.
A Osten chegou a oferecer modelos da Tesla em modalidade de assinatura, mas esses não estão mais listados no site do serviço, que dispõe até com do luxuoso BMW iX.
A Direct Imports, de modo mais tradicional, anuncia no seu Instagram uma unidade do Tesla Model X Plaid — o SUV mais rápido do mundo, com 1.033 cv e aceleração de 0 a 100 km/h em cerca de 2,6 s. É um carro a pronta entrega, já em solo brasileiro, e que custa, nos Estados Unidos, cerca de US$ 140.000.
Em conversão direta, isso é o equivalente R$ 740.000, mas o Model X Plaid é vendido aqui no Brasil bem mais caro, por R$ 1.389.000. Por que? A resposta é complexa, e envolve impostos, taxas, autorizações e, claro, a margem de lucro do revendedor. Além disso, todo os trâmites podem levar até um semestre para serem concluídos.
Como comprar um Tesla no Brasil da forma mais barata possível?
Quem quiser driblar as taxas de revenda, terá que se esforçar bastante, uma vez que a burocracia para importar um automóvel no Brasil (e em vários outros países) é elevada. Afinal de contas, estamos falando de uma das indústrias que mais atraem medidas protecionistas dos governos nacionais.
Para começo de conversa, é necessário ter um endereço nos Estados Unidos, que servirá de referência para a papelada. Ainda que a Tesla ofereça um serviço agilizado de venda totalmente online, também é necessário se ater à burocracia dos EUA, que podem exigir mais ou menos documentos conforme o estado em que a compra está sendo efetuada.
Outro detalhe importante é o pagamento à vista, afinal de contas é ainda mais complicado que um estrangeiro tenha acesso às linhas de financiamento oferecidas pela fabricante.
Caso as exigências tenham sido atendidas, o Model X Plaid, por exemplo, poderá ser entregue na concessionária mais próxima ou no próprio endereço registrado, a depender da disponibilidade, frete e outras questões locais.
Como importar um Tesla da forma mais barata possível?
Com o carro em mãos, é hora de trazê-lo ao Brasil. Antes disso, entretanto, o importador já deve ter atendido a uma extensa lista de requisitos do Ministério da Economia, ligados ao comércio exterior. São necessários cadastros em sistemas aduaneiros e habilitações diversas, que autorizam o operador a entrar e sair com os carros do país.
Dado que já há outras unidades do Model X Plaid no Brasil, não espere grandes problemas com o Ibama e/ou Denatran, mas, caso esteja trazendo um modelo inédito, também é necessário se antever. Afinal de contas, será preciso emitir documentos como a Licença para Uso da Configuração de Veículo e o Certificado de Adequação ao Trânsito.
Tais autorizações são mandatórias para qualquer carro que circule no país, garantindo que esse atende normas ambientais e de segurança viária. Só com o LCVM e o CAT em dia é possível emitir a Licença de Importação, uma espécie de autorização prévia para que o Tesla seja despachado rumo ao Hemisfério Sul.
Entre os detalhes dessa operação, há até normas de como armazenar os pneus ou especificações do container que deve ser usado. Obviamente, também há o pagamento de frete marítimo, que segue com preço volátil devido à covid-19 e pode facilmente exceder os US$ 2.000. O seguro também é obrigatório e, no caso do Model X Plaid, custaria em torno de US$ 300.
Como liberar um Tesla para uso no Brasil?
Caso a imensidão de detalhes (citados de maneira simplificada) tenha sido atendida, é hora de pagar os impostos do SUV mais rápido do mundo ao desembarcar em solo brasileiro. Sobre o preço de tabela somado ao frete, incidirão 35% de Imposto de Importação, 25% de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), 12% de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e a taxa da Marinha Mercante (25% do valor do frete).
Também há custos de despacho, taxas portuárias e outros detalhes de operação que, ao todo, fariam o comprador desembolsar cerca de US$ 102.000, em simulação feita por QUATRO RODAS, só em taxas. O carro de US$ 140.000 sairia, até aqui, por US$ 242.000 (ou R$ 1.276.840).
É apenas 8% mais barato que uma importação através de empresas especializadas, com um adicional imenso de complexidade que ajuda a explicar o sucesso das importadoras. Como essas detêm volume e expertise no serviço, é provável, entretanto, que a margem de lucro seja maior, e chegue aos dois dígitos.
No fim das contas, ambos os caminhos permitirão que o esforçado dono tenha seu Tesla em mãos, restando o pagamento de taxas bem conhecidas como o licenciamento e IPVA.
Quem sonhar com um carro elétrico que dirija de modo autônomo por nossas capitais, entretanto, ficará decepcionado: no Brasil, o “piloto automático” funciona de maneira bem limitada no Brasil frente ao que é possível nos Estados Unidos.
Sem um bom contato com a assistência técnica, também haverá problemas relacionados aos sistemas eletrônicos do carro, que provavelmente estarão “resetados” por conta da desconexão que deve ser feita nas baterias do carro ao embarcar no navio, por questões de segurança.
Muitas vezes, são necessários softwares e códigos de acesso exclusivo do pós-venda da marca, que eventualmente precisará oferecer suporte ao cliente. Não por acaso, os proprietários de Tesla no Brasil costumam se juntar para trazer ao país um especialista nos carros da marca para que ele realize a manutenção.
Outro problema será o carregamento rápido, uma vez que os Tesla importados da América do Norte utilizam um bocal próprio para carregamento em corrente contínua, quase inexistente em nosso país.
A saída óbvia é recorrer ao wallbox, que pode ser comprado da própria marca (US$ 350, antes da importação) ou de fornecedores gerais, que podem incluir adaptadores de tomada. Outra opção é importar o carro da Europa, onde os bocais do Tipo 2 (mais comuns no Brasil) são o padrão.